Capítulo 12 - Quem é o psicopata?

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21 de novembro. Terça-feira.

Sabe quando você está com muito sono e está fazendo algo mesmo assim, seja a atividade que estiver fazendo, caminhando, vendo um vídeo no Youtube, respondendo mensagens no Whatsapp, curtindo fotos no Instagram, conversando com aquele cara bonitinho que você é afim e então do nada você apaga, sabe qual é essa sensação? Eu nunca dormi muito bem, talvez pelo fato de sempre acordar de madrugada e ter que acudir minha irmã, ela sempre tinha ataques de pânico nesse período, começaram logo após a morte da nossa mãe. Nós morávamos na casa dos meus tios (ela ainda mora) e eu sempre tentava acalmar ela para que eles não acordassem, as vezes eu ouvia meu tio reclamando durante o café da manhã, aos sussurros. Eu me sentia uma pedra no sapato deles, não via a hora de fazer 18 e sair de lá junto com minha irmã. Pensar em tudo isso e com tão pouca idade me fazia sofrer com insônia, eu nunca soube o que se passava comigo de verdade, não fui atrás de médicos, não contei para ninguém, eu simplesmente tentei aprender a lidar com isso. Então era comum eu apagar e acordar na cama, apagar e acordar com alguém me cutucando, apagar e acordar com a cara enfiada no meio do bolo de cenoura, apagar e acordar nesse lugar.

Mas agora isso aconteceu de uma maneira assustadora, alguém me apagou e eu despertei olhando para uma parede de madeira, um local escuro, cheio de teias de aranhas, cheirando a mofo, eu estava amarrada em uma cadeira de ferro que roçava em minha pele me deixando com cheiro de ferrugem. Eu ainda vestia meu pijama e por ser curto o frio me acolheu com um abraço gelado, não tinha janelas no local, me senti incomodada, claustrofóbica, e o pior medo existente me aflorava, o medo do desconhecido.

Escutei o som de uma porta velha se abrindo atrás de mim, uma brisa gelada entrou e a porta se fechou logo em seguida. Meu coração estava quase saindo do peito, senti que não conseguiria nem falar, as lágrimas enchiam meus olhos. Falei com a voz tremula e patética:

-O-onde eu estou...? - Tentei olhar para trás, mas meus braços estavam amarrados e meu peito pressionado contra o assento, era impossível.

Passos seguiram até o canto do local, seja quem for estava mexendo em algum objeto metálico bem velho, então uma luz se acendeu e iluminou todo ambiente, ao meu lado havia uma pequena mesinha de madeira, bem debilitada. O ser misterioso colocou encima dessa mesa um lampião, o calor que emitia me aqueceu do frio arrepiante. Só consegui ver o braço dessa pessoa, usava uma jaqueta marrom e luvas de couro, tentei virar o rosto, mas ele foi rápido, estava atrás de mim, a respiração forte.

-Quem é você? Porque está fazendo isso comigo? - Eu já sabia a resposta de minha segunda pergunta.

A respiração desse ser se tornou mais forte, ele pareceu puxar ar para devolver a resposta de minhas perguntas, mas evitou e disse:

-Cala a porra da boca. - A voz era conhecida, tentei assimilar com a voz de todas as pessoas que eu conheci na minha vida. Era uma voz de homem, grave, mas que naquele momento soou um pouco aguda. – Não enche o meu saco.

Ter ouvido a oscilação na voz do meu carcereiro me fez tomar coragem, mesmo cagando de medo eu me senti forte por um momento.

-Que lugar é esse? Responde logo! - gritei, lágrimas de pavor começaram a escorrer por meu rosto. - Isso é sequestro, você vai se foder quando te pegarem! – Apesar de tudo eu estava irritada, muito irritada. - Quem é você?

Depois que eu terminei a gritaria o silêncio tomou conta do ambiente por quase um minuto, escutei o ser caminhando pelo que imaginei ser uma cabana e resmungando palavras inaudíveis. Senti a mão dele sobre meu ombro direito e meu corpo todo se arrepiou, ele aproximou o rosto do meu e sussurrou em meu ouvido:

Fuja.Onde histórias criam vida. Descubra agora