CAPÍTULO 5

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Sucessora

          — Da próxima vez você fará o serviço sujo, Yby. — Dandara diz, dando gargalhadas, enquanto as guerreiras contam as aventuras das últimas missões para todas que ficaram na casa. Elas estão almoçando, em uma grande mesa, em uma varanda nos fundos da casa, perto da porta da cozinha.

          — Hahaha... queria ver sua cara dentro daqueles esgotos nojentos. — Yby debocha de Dandara, todas riem. Artemísia ouve, maravilhada, as histórias das veteranas. — Ei, Artemísia! Hoje mesmo começa o seu treinamento. — Os olhos de Artemísia brilham com a notícia.

          — Hoje! — Artemísia diz, com alegria. A líder da Casa faz sinal positivo com a cabeça, sorrindo. As mercenárias continuam relatando suas histórias, enquanto terminam o almoço.

          Após o descanso, depois do almoço, Artemísia veste o traje de treino, para ir para a arena, de acordo com as instruções de Yby. Kiki ri ao ver Artemísia com o traje, pois não havia roupas para o tamanho dela.

          — Hahaha... Parece que pegou as roupas da Petra! — A ruivinha comenta olhando Artemísia com o traje claro, formado por uma calça larga, que na jovem discípula ficou maior que de costume, e camisa justa, que ficou um pouco larga, parecendo um pijama. Artemísia fica séria.

          — Não ria, Kiki... nunca pensei que Yby um dia treinaria novatas tão jovens... — Dandara chama a atenção da menina. — Por isso não há roupas de treino que se ajustem ao tamanho de Artemísia, mas vou providenciar roupas adequadas pra ela. — Dandara sorri e olha para Artemísia, a menina olha de volta para ela, também sorrindo.

          Na arena, Yby já esperava pela discípula. Artemísia atravessa o grande pátio, com o chão coberto por um piso de pedra clara. O pátio da arena tinha uma pequena arquibancada de três patamares em semicírculo, em um dos cantos, e no lado oposto à arquibancada uma pequena área, também em semicírculo, coberta por telhas, onde ficam as armas e demais acessórios para os treinos.

          — Vá escolher sua arma. — A mestra diz, indicando a pequena área com a mão estendida. Artemísia segue para o local indicado.

          Na área, Artemísia passa, devagar, pelos machados, pelas lanças, pelas boleadeiras, pelos chicotes... sempre observando bem as armas, então para diante das espadas. Yby se aproxima.

          — Hum... vejo que escolhi bem a minha sucessora! — A jovem mestra fala com um sorriso enigmático. Artemísia sai de seu curto transe diante das espadas.

          — Sucessora? — A filha do Clã pergunta, assustada.

          — Vamos, menina... escolha a sua arma.

          Artemísia pega uma espada pesada demais para a sua idade. Ao tirá-la do suporte, o peso da arma faz a lâmina ir ao chão. Yby ri, então pega uma espada menor.

          — Vamos com calma... comece com essa. — Yby diz, enquanto pega a espada grande da mão de Artemísia e a entrega a espada menor. — Quando tiver força o suficiente você poderá usar essa. — A guerreira gira a espada no ar e depois a coloca novamente no suporte.

          Algumas novatas, incluindo Kiki, vão para a arquibancada assistir ao treinamento. A maioria das novatas só começava a treinar após os treze at, algumas começavam aos doze, mas Artemísia era a única, até então, a começar um treinamento precoce, aos onze at.

          Enquanto segue para o centro da arena, Artemísia vê Dandara passando com um grupo de guerreiras, dentre elas, Petra. Todas seguem para a mata, logo após o pátio.

          — Essas são as arqueiras. Dandara as treina. — Yby explica ao observar a curiosidade de Artemísia. — Elas vão para uma clareira depois das árvores.

          — Também vou aprender a usar o arco?

          — Isso vai depender do seu desempenho na arena. Se passar nos primeiros desafios, ano que vem poderá aprender a usar o arco. — Yby diz, apressando o passo à frente de Artemísia.

          Mestra e discípula se posicionam no centro da arena.

          — Antes de empunhar a espada, quero que você feche os olhos e limpe a sua mente. — A mestra diz, se posicionando de frente para Artemísia, com as mãos para trás. A menina obedece. — Tente se concentrar na minha voz. Sinta o vento soprando no seu rosto, brincando com seus cabelos e com suas roupas. Sinta o calor do Sol envolvendo todo o seu corpo. — Artemísia consegue se concentrar nas palavras da mestra. — Agora busque em sua memória um momento marcante, um momento em que você sentiu a força vital ativa em seu corpo. — A menina se lembra do dia em que empunhou a Espada Ancestral, na sala sagrada da casa se seu pai. Yby sentiu uma vibração intensa vinda de sua discípula e sorriu. — Agora empunhe a espada.

          De olhos fechados, Artemísia empunha a espada como se fosse uma guerreira experiente. Um vento forte sopra. As novatas se olham, admiradas com a cena. Kiki sorri, orgulhosa da amiga. Uma sombra se aproxima de Yby.

          — Agora entendi por que os Antigos me trouxeram de volta ao lar, hoje! — Uma voz feminina diz.

          — Você veio pelas mais velhas, Boadicéia, Artemísia é tarefa minha. — Yby comenta, então olha para a velha amiga que retornou para treinar as guerreiras mais experientes da casa. Boadicéia, uma mulher jovem, bonita, de pele clara e cabelos vermelhos, sorri para Yby e abaixa levemente a cabeça, em sinal de respeito, então sai da arena, de forma imponente, com seus trajes claros e seu manto cor de pérola.

          — Quem é ela, Kiki? — Uma das novatas pergunta.

          — Ela é Boadicéia. Há três at ela completou vinte e um e teve que deixar a casa. Parece que hoje retornou para o ritual que fará dela mestre mercenária e então ela treinará as mais velhas.

          — Ela vai ficar aqui, com a gente?

          — Sim, vai ficar por um ano, aqui em Vênus, depois estará livre novamente, pra ir pra onde quiser. — Kiki responde, enquanto volta sua atenção para o centro da arena. — Veja, Artemísia abriu os olhos.

          Artemísia abre os olhos, mas não vê Boadicéia se afastando, já ao longe, sua atenção está toda na espada em suas mãos, que ela segura como se já fosse íntima da arma.

          — Muito bem, criança... agora quero que você se sente, coloque a espada em sua frente e a observe bem, em cada detalhe. Tente se conectar com ela... — Yby diz.

          A arena fica no lado esquerdo da grande clareira ocupada pela Casa de Yby. Fora da arena a área é toda coberta por grama. Boadicéia anda pela grama, em direção à casa. No caminho, ela se encontra com Naomi.

          — Seja bem-vinda, Boadicéia! Estou ansiosa para ser sua discípula... — Naomi diz, em tom fraterno.

          — Me sinto honrada por retornar a essa Casa, Naomi! — A guerreira veterana diz, sorrindo. — Quem é a discípula de Yby?

          — É Artemísia. Foi encontrada na rua por Dandara. Assim que pôs os olhos nela, Yby já a admitiu como discípula... isso irritou muito a Petra.

          — Petra... Yby nunca a aceitará como discípula, você sabe, né!

          — Sei... mas, vamos! Você deve estar com fome. Vamos entrar e comer alguma coisa, enquanto conversamos sobre o ritual.

          Na clareira, Dandara treina as arqueiras. Flechas de energia atingem seus alvos. Algumas novatas sentem dificuldade em controlar o arco. Dandara, pacientemente, ensina a cada uma delas, enquanto Petra desconta toda a sua frustração em flechadas certeiras, que se sobrepõem rapidamente sobre o alvo distante, à sua frente. Dandara observa a fúria de Petra com preocupação.

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