CAPÍTULO 6

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Boa Leitura

          Após definir os detalhes do ritual com Naomi, Boadicéia segue para a mata, para meditar, enquanto aguarda a noite chegar. Na décima oitava hora do ciclo, Yby convoca as guerreiras mais velhas para explicar os procedimentos e montar o altar na clareira, onde as arqueiras treinam. Somente Boadicéia e as guerreiras com mais de dezesseis at poderiam estar presentes no local, enquanto durasse o ritual. O ciclo escolhido foi o décimo terceiro no início da terceira longa noite do ano terrestre 1388, contado a partir do grande êxodo terráqueo. No sistema terráqueo de contagem do tempo, Vênus tem três longos dias e três longas noites em um ano.

          Enquanto seguiam os preparativos na clareira, Artemísia jantava na companhia de outras meninas, na cozinha.

          — Quando terminar o jantar, quero que se lave, vá para o seu quarto, meditar um pouco, e depois vá até a biblioteca e escolha um livro. Leia até chegar o sono. — Yby diz a Artemísia.

          — Que tipo de livro devo ler?

          — Há milhares de livros à sua disposição nos arquivos. Escolha um tema que te chame atenção e então deixe sua intuição te guiar. — Yby diz e segue para a porta. — Iremos agora para a clareira, cuide das meninas, Kiki, não permita que ninguém nos siga. — A mercenária fala, enquanto sai pela porta junto de Petra e Naomi.

          — Sim, Yby! — Kiki responde.

          Na clareira, Dandara termina de posicionar o último cristal, que, junto de mais doze, ilumina o local. Quando Yby se aproxima de Dandara, Boadicéia surge, de trás das árvores, e se posiciona no centro do círculo criado com os cristais. As guerreiras, todas usando trajes leves e de cor clara, ficam em silêncio, observando respeitosamente a nova mestra mercenária no centro de tudo.

          Boadicéia fecha os olhos. Inspira e expira algumas vezes. O brilho dos cristais começa a oscilar. A mestra entra em transe e os cristais brilham forte, todos juntos, com a mesma intensidade. As guerreiras fecham os olhos.

          Após alguns segundos, o brilho dos cristais volta ao normal e Boadicéia desperta. As guerreiras abrem os olhos e ficam atentas. Yby se aproxima da mestra e olha nos olhos dela. As pupilas das duas se dilatam, Yby se curva levemente, em sinal de respeito, então dirige a palavra às guerreiras.

          — Aquelas que eu disser o nome, venham para dentro do círculo. — Yby fala, com voz firme. — Matsu, Miko, Laura, Kany... — Enquanto a mercenária diz os nomes, as guerreiras seguem para dentro do círculo. Antes de dizer o quinto nome, Yby observa as guerreiras, que estão apreensivas. — ... e Petra. — Petra se assusta com a convocação, ela sabia que, ao ser escolhida por Boadicéia, jamais seria discípula de Yby, como sempre quis. Quando Petra chega ao centro do círculo, Yby se afasta.

          — Cinco são os elementos sagrados... cinco serão minhas discípulas e caberá a elas compartilhar com a Casa de Yby tudo que lhes for ensinado. Agora vocês partirão comigo nessa jornada rumo ao conhecimento que me foi permitido compartilhar, assim, ficarão aos meus cuidados por um ano e, nesse tempo, ninguém saberá onde encontrá-las. Se alguém quiser desistir, esse é o momento. — A mestra diz e aguarda um instante. Ninguém diz nada. — No próximo ano, na mesma data, suas guerreiras estarão de volta, Yby! — Boadicéia diz, olhando para Yby.

          — Que todas possam retornar com saúde e mais fortes do que deixam essa Casa hoje. — A líder da Casa diz. Boadicéia segue para a mata, ao fundo da clareira, suas novas discípulas a seguem e o grupo desaparece em meio à escuridão.

          Após meditar, Artemísia segue para a biblioteca, uma grande sala, cheia de assentos confortáveis e tapetes fofos no chão. Ao centro, um globo levita sobre uma base cilíndrica. A menina se aproxima do globo.

          — Lista de temas. — Artemísia diz. Uma pequena tela holográfica se forma. A jovem discípula vai passando, com o dedo, a lista com temas dos livros, até que encontra algo que lhe chama a atenção. — Mitologia! — Uma nova tela holográfica, agora um pouco maior, se abre. Artemísia escolhe um livro. — Mitologia dos povos antigos da Terra. — Artemísia diz o título do livro, o globo gira e projeta imagens em um telão, na parede à frente da menina. — Portátil. — Artemísia diz, o telão se apaga e uma pequena gaveta se abre na base da esfera, nela, a menina pega um fino bracelete, que ela logo usa. Uma tela holográfica surge, a menina segue para um canto da sala, com almofadas sobre o tapete. Artemísia se aconchega nas almofadas e começa sua leitura.

          As guerreiras retornam à casa pela porta da cozinha. Algumas vão se alimentar, mas a maioria segue para os quartos. Yby pega uma fruta e sobe, pela escada da cozinha, para o segundo andar. Dandara fica.

          — Pensei que você e Yby se tornariam discípulas de Boadicéia... — Kiki comenta com Dandara.

          — Eu e Yby já tivemos nossa iniciação, Kiki! Fomos iniciadas junto de Boadicéia e Kamikia, na casa de Kûara. Ao final do tempo de iniciação, um ano, retornamos à nossa Casa, mas Boadicéia completou vinte e um, por isso teve que seguir seu próprio caminho, e, após nossa primeira missão depois da iniciação, Yby decidiu ir à Terra, onde recebeu a notícia triste da morte de sua mãe, o que a levou a criar esta casa; como éramos muito amigas, ela me pediu ajuda e não recusei.

          — Mas... então vocês são desertoras? — Kiki pergunta, intrigada.

          — Não... a situação foi apresentada ao líder da Casa, ele compreendeu e nos deu permissão para seguir em frente e dar início a uma nova Casa. Ele também permitiu que Boadicéia buscasse discípulos entre nossas guerreiras. Como você sabe, dos cinco escolhidos, é necessário somente um para guiar os próximos cinco. Ano que vem, eu, Yby e Kamikia completaremos vinte e um, e um de nós deverá retornar à casa de Kûara após três at de missões como guerreiros emancipados. Essa foi a condição imposta pelo antigo líder de Kûara, para que a casa de Yby fosse criada.

          — Entendi! — Kiki diz e sorri. — Não vejo a hora de começar a treinar...

          — Sei que Artemísia tem a sua idade e que você deve se perguntar por que ela já começou a ser treinada e você só recebe lições teóricas, como a História e as regras das Casas; mas saiba que há situações que fogem às regras, como foi o caso da criação desta Casa e... — Antes que Dandara complete a frase, Kiki a interrompe.

          — E Artemísia. Eu sei, não se preocupe, eu entendo que ela tem algo diferente e que o destino reserva caminhos diferentes para cada um de nós. Eu sei esperar. — A menina diz, com um sorriso sincero. Dandara sorri de volta.

          — Vou dormir... o ciclo atual foi cansativo. — Dandara fala, enquanto se levanta. — Bom descanso, Kiki! — A mercenária se afasta, indo em direção à escada da cozinha.

          — Bom descanso, Dandara! — Kiki responde.

          Na biblioteca, Artemísia continua sua leitura sobre a Mitologia Antiga. O livro a prende ao ponto dela se esquecer de ir dormir.

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