O tempo passa rápido, logo chega a noite e junto com ela a fome. Dona Vera aparece, me enchendo de abraços e sermões pelo quão preocupada eu a deixei, e diz que não precisamos nos preocupar com a janta, que com isso ela lida. Nos sentamos os quatro na mesa da cozinha, fazendo companhia e levando uma panada de prato na cabeça quando tentamos ajudar. Olho de canto de olho para Yasmin, sentada ao meu lado, minha amiga está com a mente distante, ela tenta fingir que nada aconteceu enquanto solta seus comentários engraçados e as risadas sarcásticas, mas eu sei o que se passa em sua cabeça. Um voz se faz presente no cômodo, atraindo nossa atenção.
— Boa noite, família.
Felipe surge na cozinha com uma roupa diferente da que saiu e os cabelos úmidos, ele cumprimenta Manu e Vitor com um aceno, beija a testa de sua irmã e planta um beijo rápido em meus lábios. Fico envergonhada pela atenção repentina de todos, Manuela, Vitinho e Yasmim me encaram vitoriosos, minha amiga murmura um "eu avisei" para os outros dois que concordam. Felipe parece não se importar, ele me envia um de seus sorrisos de tirar o fôlego e se aproxima de Dona Vera, lhe beijando a bochecha com tanto carinho que arranca uma risada da senhora.
— Esse cheiro tá bom, viu?
Vera ri, remexendo a panela do frango com quiabo.
— Que bom que gostou meu filho, agora me ajude a colocar a mesa pra podermos comer, sim?
Levantamos todos para ajudar, separando as tarefas, alguns levam os copos, outros os talheres, os pratos, e não demora para estar tudo feito e sentamos todos a mesa. Comemos conversando, lembrando de vários momento, rindo das piadas, foi um jantar muito agradável. Dona Vera riu muito com Vitinho, os dois se deram bem e já conversam como conhecidos de tempos, comentando sobre a vida de todos na mesa como se não estivéssemos presentes. Quando acabamos, eu e Felipe ficamos encarregados da louça, Dona Vera retornou a sua casa prometendo voltar amanhã e o resto foram forrar a sala com os colchões para deitarmos, ligando o ar da casa e colocando a Netflix na tv. Eu lavava enquanto ele enxugava, estávamos lado a lado na pia, meu olhar cortou o seu diversas vezes, só tive coragem de perguntar um tempo depois.
— O que foi?
Levanto a cabeça, focando minha atenção nele, encontrando seus olhos intensos me analisando.
— Eu já te disse o quanto você é linda?
Meu coração palpita dentro do peito, tenho certeza que minhas orelhas estão vermelhas. Felipe sorri satisfeito vendo meu estado, vendo o que seu mínimo toque causa em mim, vendo essa nova faceta diferente da Alice provocativa.
— Não. — Digo por fim, voltando a minha missão de lavar, tentando manter controle.
Prendo o ar quando sinto sua aproximação repentina atrás de mim, sua respiração quente cortando minha nuca. Seus lábios plantam um beijo carinhoso em meu ombro, suas mãos rodeiam minha cintura e seu rosto descansa no vão de meus ombros, inspirando meu pescoço.
— Eu não me incomodo de dizer de novo. — Ele desliga a torneira, retirando os talheres que eu lavava de minhas mãos, jogando-os na pia e me vira, ficando a sua frente. Tento protestar pelo fato dele ter sujado os talheres que eu acabei de limpar, mas seu olhar apaixonante me entorpece, nada sai de meus lábios. — Você é linda.
As batidas do meu coração ecoam pelos meus ouvidos, saltitando contente dentro do peito por suas palavras calorosas. Não consigo dizer o que sinto. Parece que, se eu disser em voz alta, deixa de ser real. Não quero isso. É como se cada minuto do dia que eu esteja longe dele seja errado. Como se, escutar sua risada e receber seus sorrisos me preenchesse de tal forma, que preciso dele ao meu lado para ser a melhor versão de mim. Sua falta me consome. Sua presença me transborda. Parte de mim é dele, sempre foi, desde o momento que nos vimos pela primeira vez sem notar lhe entreguei a chave do meu coração, e agora só ele consegue abri-lo. O beijo, quebrando a distância de nossos lábios. Me jogo em seus braços como se minha vida dependesse disso. Preciso sentir sua pele queimando sobre a minha, preciso saber que é real. Me sinto afogando em amor, e gosto da sensação que me inunda. Sua mão aperta minha cintura enquanto sua língua se une a minha, tão paciente quanto.
Nossas bocas dançam unidas, seguindo um ritmo apaixonante iguais nossos corações. Me sinto embriagada em seus braços, seu beijo me deixa aérea, não consigo pensar em nada além do quanto precisava disso. Do quanto parece certo. Nos separamos pela falta de ar, juntamos as testas em um silêncio quebrado unicamente pelo som de nosso peito subindo e descendo em busca de normalizar nossa respiração. Seu nariz encosta ao meu em um beijo de esquimó, sorrio com isso e fecho os olhos, aproveitando a sensação.
— Seja minha. — Sua voz arrastada me desperta, separo nosso contato apenas para olhá-lo nos olhos surpresa. — Seja minha fiel. — Repete sussurrando, seus lábios a centímetros do meu, como se fosse um segredo só nosso.
As borboletas fazem festa em meu estômago. Suas palavras me abalam por inteira, mexendo com minha estrutura, minhas pernas fraquejam querendo cair perante aos sentimentos que me atingem de uma só vez. Acredito que no fundo sempre me peguei imaginando esse momento, e agora é real. Ele está aqui, a minha frente, me pedindo para ser sua. Mordo os lábios, contendo as lágrimas de caírem. Depois de tanto tempo sem ter alguém para me apoiar, sem ter a um lugar para pertencer, agora eu percebo que minha âncora sempre esteve diante dos meus olhos, só estava cega demais para notar. Sorrio emotiva, colando nossas testas novamente.
— Eu sempre fui sua, idiota.
Revelo em um fio de voz, arrancando um sorriso de Felipe, um daqueles seus sorrisos bonitos que aquecem meu coração. Selamos o momento unindo nossos lábios, mais uma vez das muitas que viriam, sentindo os sentimentos fluírem por nossas veias. Foi nessa cozinha que ficamos a primeira vez, que aceitei meus reais sentimentos por Felipe, e é nessa cozinha que marcamos o início da nossa história. Tenho certeza que teremos muita estrada pela frente, muitos desafios a superar juntos, mas aceitaremos felizes o que o destino nós reserva se tivermos um ao outro.
Este é só o começo.
O começo de uma vida juntos que o futuro nos aguarda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
AMOR NO ALEMÃO [MORRO] #1
Roman pour AdolescentsAlice é uma menina forte que já suportou muita coisa na vida, como ser maltratada e humilhada constantemente por seu progenitor. Com um pai viciado e moradora do morro do alemão, ela é uma menina com um passado trágico e um presente mais doloroso ai...