#Capítulo Vinte:

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— Como assim ele terminou com você? — Pergunto desacreditada

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— Como assim ele terminou com você? — Pergunto desacreditada.

— Ele disse que tudo que sentiu foi passageiro, que não tava pronto pra lidar com tanta responsabilidade agora mas que iria pagar a pensão, contanto que eu ficasse longe dele. — Alice funga, retomando a chorar mais ainda. — Foi tudo mentira, depois de tanto que ele me prometeu, agora a gente está sozinha. — Ela soluça acariciando sua barriga.

Foi a gota d'água, levanto afobada do sofá, minha ação repentina faz Alice se assustar. Ando até o meu quarto, colocando uma blusa e um short o mais rápido que eu posso e desço novamente, pegando as chaves, minha amiga me olha desentendida.

— Onde você vai?

— Toma um banho, tem sorvete no freezer e fica deitadinha na minha cama que eu vou resolver isso.

Não espero sua possível repreensão e saio de casa, caminhando a passos longos até a boca. No caminho mando mensagem pra Pedro, perguntando onde ele estava e que era melhor ele me segurar se não um velório aconteceria hoje.

Não quero acreditar que meu irmão possa ser tão babaca assim.

Tão irresponsável.

Com os pensamentos nublados acabo chegando mais rápido do que esperava ao meu destino, não preciso da confirmação dos vapores, minha entrada é garantida, e piso fundo até a sala de Felipe, não esperando sua permissão e abrindo a porta com tudo.

— Qual é a porra do teu problema? — Começo.

Ele leva um susto com o barulho repentino, levantando a cabeça dos documentos. Pedro, que estava ao seu lado, apressado se coloca ao meu lado e colocando o braço na minha frente, tentando me impedir enquanto avanço em direção ao meu irmão.

— Ou ou ou, calma lá. — Ph diz, mas o ignoro.

— Você acha que você pode fazer o que quiser? Que você é o fodão só por que é o dono do morro??

— Yasmim, por favor, não começa. — Felipe diz, com o maxilar travado.

— Uma CRIANÇA, Felipe. Uma criança que não tem culpa de nada, que não pediu pra ter um pai de merda. Você tá virando as costas pra sua própria filha por que é a porra de um egoísta. — Berro irritada, apontando o dedo na cara dele. — Você sabe, sabe o quanto a Alice é importante pra mim e a ÚNICA coisa que eu te pedi na vida foi pra você não a machucar. ÚNICA. — Digo com os olhos marejados.

Meu irmão me escuta calado enquanto desconto toda minha frustração, suas iris fingindo não se importar mas a vermelhidão que surgia mostrava o esforço que ele fazia para não chorar.

— Saiba que você não perdeu só ela, Felipe. — Fungo, impedindo o choro de descer, olhando-o com repúdio. — Mamãe e papai estariam decepcionados com você.

Digo isso e deixo a sala, sendo acompanhada por Pedro, que me segue calado o caminho todo, respeitando meu momento de absorção, mas segurando minha mão a todo momento, transmitindo o conforto que preciso agora.

Quando chegamos a frente da minha casa parei no lugar, Pedro fez o mesmo, e após alguns segundos em silêncio me virei e o abracei com todas as forças, derramando as lágrimas que lutei para segurar.

— Shhh, pode chorar princesa. — Diz, me abraçando de volta e afagando minha cabeça. — Eu tô aqui.

Chorei. Chorei pela minha sobrinha, que não tinha culpa de nada. Chorei pela minha amiga, que mesmo me tendo ao lado pra tudo, passará por momentos difíceis que não poderei ajudar. Chorei por meus pais, pensando no quanto os queria aqui, eles saberiam o que fazer.

Consigo visualizar meu pai, com seus cabelos grisalhos bem cortados e o cigarro preso no canto da boca dando um tapa no pescoço do meu irmão, dando uma de suas lições de moral complexas que sempre terminava dando certo.

Ou mamãe, com seus cabelos cacheados presos por uma presilha no topo da cabeça e os olhos que conseguiam variar de reprendedor para acolhedor em poucos segundos, comprando roupinhas e babando pela primeira netinha.

Suspiro fundo, me soltando do abraço do meu namorado e olhando em seus olhos.

— Fica bem. — Pedro me dá um selinho. — e cuida bem da loira, contem comigo pro que precisar.

Concordo com a cabeça, dando um último beijo nele e entrando em casa. Minha amiga não está mais na sala, deixo meu chinelo no tapete de entrada e subo pro meu quarto, encontrando Alice deitada na cama mexendo no celular e comendo um pote de sorvete. Seu cabelo está enrolado na toalha, seu rosto está inchado e vermelho e seus olhos duros me dizem que ela está cansada de chorar.

— Ei. — Anuncio minha entrada no quarto e me deito ao seu lado. — Como você tá?

— Cansada. — Alice diz sincera. — Sabe, eu pensei muito e eu preciso de um tempo, um tempo do morro, das pessoas, de tudo — Ela suspira. — Então eu decidi aceitar o convite dos meus avós, vai ser bom descansar a cabeça e aproveitar minha gravidez. — A loira acaricia sua barriga, levo minha mão ao local também, sentindo minha sobrinha chutar. — Você vai comigo, né?

— Sempre. — Minha amiga sorri fraco com minha resposta. — Pra onde vamos?

— Minas, por um mês.

— Por mim tá ótimo. — Me acomodo melhor na cama, Alice se aconchega em mim, me abraçando. — E você? Está bem com isso?

Alice fica em silêncio por alguns segundos, pensando em como responder.

— Não, mas vou ficar.

Concordo em silêncio, deitando minha cabeça na dela e fechando os olhos.

— Isso que importa.

Murmuro sentindo o sono me dominar.

Eu nunca fui uma pessoa religiosa, nunca fui o tipo de pessoa que vai a igreja aos domingos, ou acreditava em Deus, pelo menos não até a morte dos meus pais.

Eu precisava me apegar a alguma coisa, precisava me agarrar em algo pra não quebrar de vez.

Então, sempre que eu precisava me sentir ouvida eu orava.

Deitada na cama com minha melhor amiga e minha sobrinha amada eu orei baixinho, pedindo a Deus pra que tudo desse certo e pedindo aos meus pais que continuassem me guiando daí de cima, me dando a sabedoria que eu precisava.

Em seguida, caí no mundo dos sonhos.

Em seguida, caí no mundo dos sonhos

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AMOR NO ALEMÃO [MORRO] #1Onde histórias criam vida. Descubra agora