#Capítulo Nove:

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— Não esqueceu nada? — Pergunto, vasculhando superficialmente o quarto com os olhos

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— Não esqueceu nada? — Pergunto, vasculhando superficialmente o quarto com os olhos.

— Como que eu vou esquecer alguma coisa se eu não trouxe nada?

Alice me responde, tão doce quando o coice de um cavalo. Minha amiga recebe alta hoje, estamos pela última vez no quarto em que foi internada. Depois daquele dia em que meu irmão conseguiu conversar com ela eu a vi pela primeira vez em dias. Desabei, nos abraçamos, choramos juntas e pedimos desculpas uma a outra. Foi emocionante.

— Nossa, mas tá grossinha né? — Ela ri baixo.

— Desculpa, te dar patadas já é força do hábito.

Sorrio rendida, e enfim deixamos o quarto caminhando pelos corredores até a saída. Alice parece pensativa, imagino que depois de toda essa situação sair desse lugar deve ser libertador. Quando botamos o pé pra fora do hospital observo minha amiga parar no lugar, respirando fundo o ar fresco enquanto a ventania bagunça seu cabelo. Alice sorri contente, é uma cena reconfortante que também me arranca um pequeno sorriso. A abraço de lado, compartilhando esse momento, e uma buzina nos atrai a atenção, nos viramos rapidamente e encontramos o carro do meu irmão estacionado a nossa espera.

— As princesas estão prontas para voltar pro castelo?

Seguimos as duas para o veículo, sentando no banco de trás.

— E você seria o que? Nosso dragão? — Felipe sorri divertido enquanto eu caio na gargalhada do comentário de minha amiga.

— Eu sou o que você quiser que eu seja, pequena.

Meu irmão diz, acompanhado de uma piscadinha galanteadora que faz Alice corar. Eu estou vendo certo? finalmente esse relacionamento está indo adiante? Agradeço aos céus, não aguentava mais ter que bancar a cupida pra gente lerda. "Nada haver, a gente nunca vai ficar junto" sei, tô vendo mesmo vocês se desgostando, só não jogo na cara da minha amiga porque é um momento delicado, mas pode anotar que eu vou guardar para usar essa cartada no futuro. O caminho é rápido, vamos conversando trivialidades, quando chegamos em frente a casa meu irmão estaciona mas não sai do carro, ele diz que vai resolver alguns assuntos, não tenho coragem de perguntar sobre o que, me arrepio só de imaginar, mas ele promete voltar cedo para ficar com a gente e se despede de Alice com um selinho, aumentando ainda mais minhas expectativas para esse casamento. Preciso de sobrinhos.

— Vamos? — A chamo, ela concorda e seguimos até a porta.

A deixo ir na frente, mordendo os lábios nervosamente, ansiosa se ela irá gostar. Minha amiga abre a porta, ligando a luz, e se sobressalta quando um coro de "surpresa" ecoa, levando as mãos a boca, surpreendida. Tem uma mesa com vários salgadinhos e docinhos, os preferidos da minha loira, um bolo chamativo de chocolate com leite ninho centralizado no meio do móvel de vidro, e na parede uma faixa bonita escrito "Bem vinda ao lar".

— O que vocês estão fazendo aqui? — Sua voz sai chorosa, emocionada.

— Já está nos expulsando? — Vitor diz com a mão no peito falsamente ofendido, Alice sorri em meio as lágrimas.

— Não, longe de mim.

— Queríamos te ver então decidimos fazer uma festa do pijama pra ficarmos o dia todo grudadinhos. — Manuela a abraça de lado. — E olha que chique, encomendamos até um kit festa pra gente encher o bucho enquanto fofocamos e falamos mal da vida dos outros.

Alice contrai os lábios em um bico, seus olhos estão marejados.

— Eu não podia ter amigos melhores.

Todos nos juntamos em um abraço em grupo, preocupados em mantê-la em nossos braços e mostrar o quanto ela é amada. A notícia se espalhou rápido pelo morro, as especulações sobre o pai dela estar no quartinho foi o suficiente para começaram a ligar os pontos. Eles não sabem o que aconteceu com ela naquele hospital, e nem precisam. O que aconteceu fica entre a gente. Nos separamos, Alice limpa as lágrimas com as costas da mão sorrindo.

— Obrigada gente.

— Não precisa agradecer, a gente te ama. — Digo, aumentando ainda mais seu sorriso.

— Precisa sim, por que a gente dividiu isso tudo aqui e foi uma luta pra fazer essa mão de vaca dar a parte dela. — Vitor zoa Manuela, que lhe dá um tapa, arrancando nossa risada.

Atacamos a mesa, como a irmã boazinha que sou só consegui guardar alguns salgadinhos pra Felipe, e ele ainda tem coragem de me chamar de peste. Depois de comermos os salgados fizemos nossos pratinhos com bolo e docinhos e fomos pro quarto, ligamos o ar e nos espalhamos pelo cômodo.

— Vocês não sabem o que eu descobri. — Vitor cruza as pernas, ele estava sentado no tapete felpudo ao lado de Manu enquanto eu e Alice estamos na cama.

— Conta.

— Ontem eu passei pelo campinho né, e eu que não sou boba nem nada parei pra olhar os bofes sem camisa.

— Tarado. — Manuela o corta.

— Continuando. — Diz separadamente para ela que interrompeu sua fala, Manu revira os olhos. — Aí eu escutei uma conversa do moreno da cor do pecado que tava jogando.

— O que trabalha no bar? — Pergunto.

— Não, o gostoso que trabalha na padaria do seu Jorge.

Murmuro um "ah" compreensível me lembrando, não tem como esquece-lo.

— Já fiquei com ele. — Vitinho me olha de queixo caído.

— Mentira menina, e ele tem pegada? Sou louquinha pra dar pra ele.

Abro a boca pra contar detalhes mas sou impedida pelas meninas que estão impaciente pela conclusão da fofoca e pedem pra ele dizer logo.

— Tá bom tá bom, impacientes. — Ele revira os olhos. — Enfim, ele disse que a Viviane tá grávida. — Todas nós arregalamos os olhos. Viviane era uma peguete do meu irmão, ela era doida pra se tornar fiel dele mas, logicamente, Felipe sempre deixou claro que não iria acontecer. — E ainda tem mais. — O olhamos com espectativa. — Pasmem, ele disse que o pai é o Terror.

Meu corpo arrepia só de ouvir esse nome, consigo escutar as batidas pesadas do meu coração ecoando por minhas orelhas. Fecho os olhos com força, as memórias me invadem sem permissão. Sinto a dor daquele dia como se fosse hoje. Meu estômago revira, respiro fundo tentando controlar a ânsia. Sou tirada do transe com Alice tentando mudar de assunto. Ela sabe o que aconteceu. Com um movimento de cabeça discreto me pergunta se estou bem, confirmo  sorrindo agradecida. Minha amiga não toca no assunto, só se aproxima mais de mim e deita a cabeça em meu ombro, me confortando. Suspiro longo, apreciando seu toque que tanto precisava. Me forço a prestar atenção no assunto, concordando as vezes com o que foi dito sem ao menos ter escutado, só para não ficar quieta, porém por mais que eu tente o sentimento não me deixa.

Só sorrio, fingindo que meu corpo inteiro não treme ao lembrar do metal brilhante contra minha pele.

Só sorrio, fingindo que meu corpo inteiro não treme ao lembrar do metal brilhante contra minha pele

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AMOR NO ALEMÃO [MORRO] #1Onde histórias criam vida. Descubra agora