Meus olhos estavam embaçados demais, impedindo que eu guiasse meu próprio cavalo. Assim que nos afastamos a uma distância segura do ladrão, diminuímos a velocidade e Miguel pegou a corda envolta no pescoço do meu cavalo, guiando-nos.
Algum tempo depois foi que percebi que meus olhos estavam embaçados porque eu estava chorando. As lágrimas escorriam silenciosamente em meu rosto, como se quisessem passar despercebidas. Minhas mãos ainda tremiam e eu me segurava na sela do cavalo com certa dificuldade.
- Tem um pequeno lago há alguns quilômetros na frente. Vamos parar lá para... Vamos parar. – disse Miguel.
Eu não respondi.
Continuamos cavalgando, mais devagar desta vez.
- Ele... Ele não vai vir atrás de nós?
- Creio que não. – Miguel respondeu. – Ele deve preocupar-se primeiro com enterrar dignamente seus... Amigos.
Uma dor de cabeça incômoda começou a insinuar-se para mim. O som dos cascos dos cavalos chocando-se contra o chão me deixava desorientado. Eu perdi a minha noção do tempo – que já não era das melhores. Não sei quanto tempo cavalgamos, mas o sol estava alto e forte sobre nossas cabeças quando nos enveredamos por uma pequena trilha que ficava parcialmente escondida entre as frondosas árvores à nossa esquerda.
Andamos por uma dezena de metros e saímos em uma pequena clareira, onde havia a nascente de um rio, derramando-se cristalina de dentro de algumas pedras atingindo o chão com um som convidativo que encheu meus ouvidos, e seguia seu curso pelo chão no qual se desenhava o leito do rio, embrenhando-se corajosamente pelas árvores.
Miguel saltou de seu cavalo e amarrou-o numa árvore próxima. Puxou o meu e fez o mesmo, e em seguida, me ajudou a descer do cavalo. Minhas pernas estavam um pouco entrevadas e meu corpo todo estava travado. Miguel passou as mãos fortes sob meus braços e me puxou do cavalo. Quando meus pés tocaram o chão, desequilibrei-me por alguns segundos e ele me segurou.
- Tudo bem? – Miguel perguntou, sondando meu rosto com um olhar de preocupação.
- Tudo – forcei-me a responder.
- Vem, vamos lavar essas mãos – disse ele. Pegou em meu braço e me puxou até a margem do lago. Ele ajoelhou-se e eu fiz o mesmo. Levei as mãos até a água fria e esfreguei uma na outra, pra ver se conseguia tirar o sangue que estava incrustado nelas. A água corrente adquiriu um soturno tom vermelho claro que logo se diluiu, levando o sangue pra longe. Quando minhas mãos estavam devidamente limpas, joguei um pouco de água no rosto, forçando-me a acordar e trazer meu espírito de volta para o corpo. Como a água estava muito fria, um pequeno choque percorreu-me; acho que foi o bastante para me fazer acordar.
Olhei para trás e vi Miguel em pé sob um raio de sol, fazendo seu cabelo brilhar em diferentes tons de vermelho. Ele caminhou em minha direção novamente.
- Aquilo que você fez lá atrás... Foi muito corajoso de sua parte.
- Corajoso? Pareceu-me exatamente o contrário.
- Foi. Você fez o que tinha que fazer para sobreviver. Era você ou ele.
- Talvez seja – concordei, após alguns segundos. – Mas... Eu nunca tinha feito nada parecido com isso.
- A primeira vez que alguém morre por nossas mãos é realmente... Não sei bem a palavra. Inquietante. Assustador, talvez.
- Como foi a sua?
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TRAVELLER - Além do Tempo
Любовные романы"Dois mundos opostos Uma guerra prestes a eclodir Um amor que ultrapassa as barreiras do tempo" O destino gosta de brincar com as pessoas; Nicholas é a prova viva disso. Prestes a completar 21 anos, resolveu fazer uma viagem com o pai para uma cidad...