Capítulo 22

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Não sei muito bem como os acontecimentos se desenrolaram depois de Hector ter chegado com a notícia de que os guardas haviam capturado Miguel. Tudo era muito confuso. Lembro-me de José praticamente puxando Hector do cavalo e exigindo saber mais informações. Lembro-me de Senhora M no chão gritando, as mãos apertadas no peito. Clara e Andrey chorando.

Não lembro se gritei. Não lembro se chorei, mas imagino que sim. Tudo o que me lembrava era da sensação de que alguém tinha sugado todo o oxigênio ao nosso redor com um aspirador enorme, da minha garganta se fechando e que subitamente estava impossível de respirar. Lembro que de alguma maneira, algum tempo depois estávamos todos dentro de casa ouvindo Hector contar com mais detalhes o que havia acontecido. Eu estava em pé, as costas contra a parede dura da sala de estar. O candelabro com velas sobre nós lançava sombras que pareciam estar executando uma dança macabra ao nosso redor.

Ele contou como o roubo estava indo como o esperado até que os soldados do rei vieram em grande quantidade, como nunca tinham vindo antes. Hector contou que ficou assustado a princípio, nunca vira tantos como naquela noite.

- É como se algo grande estivesse acontecendo, entende. Ou prestes a acontecer.

Senhora M limpava as lágrimas quando achava que ninguém estava vendo.

- Nós ficamos encurralados enquanto fugíamos, e por este motivo Miguel resolveu ficar para trás e distraí-los para que nós pudéssemos fugir e trazer o ouro, ele disse que era o mais importante. Ele disse que não deveríamos ir atrás dele, mas é claro que nós não íamos deixá-lo lá. É um milagre que ele tenha sobrevivido e que os soldados não o tenham matado.

Hector falou aquilo com uma tranquilidade desconcertante, mas a simples menção à morte de Miguel fez meu estômago revirar. Quase vomitei ali mesmo.

- Se vocês não iam deixá-lo lá, o que fazem aqui? – perguntou Senhora M repentinamente com a voz perigosamente baixa. José lhe deu uma olhada de lado.

- Nós precisamos vir. Sabemos onde ele está, mas é muito perigoso. Há muitos guardas nas redondezas, não podíamos ficar lá por muito tempo com todo este ouro. Optamos por vir enquanto ainda era possível.

Seu José levantou-se do sofá e passou a caminhar de um lado para o outro. Parecia estar passando algum plano mirabolante naquela cabeça encoberta de cabelos brancos.

Então as próximas palavras dele me fizeram querer pular em cima dele e lhe bater até ver sangue.

- Não podemos resgatá-lo agora. Ele terá que ficar lá por algum tempo.

Todos viraram pra ele ao mesmo momento, abismados.

- É muito perigoso ir atrás dele agora. Provavelmente viriam atrás de nós depois. O certo a fazer é chamarmos um bom advogado e irmos até a cadeia.

- Você enlouqueceu? – Senhora M praticamente pulou do sofá. – Não podemos deixar nosso filho lá, não podemos! Sabe-se lá o que farão com ele? Sabe-se lá quem estará lá, o que podem falar dele... Precisamos tirá-lo de lá o mais rápido possível.

José se encolheu, assustado pela explosão inesperada da esposa.

- Precisamos dar um jeito de tirá-lo de lá. Ir com um advogado não vai ajudá-lo. Você sabe como aqueles guardas são.

- Mulher, é perigoso demais soltá-lo agora. Provavelmente nos seguiriam até aqui. Não podemos arriscar perdermos tudo o que temos. Não é isso o que Miguel iria querer.

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⏰ Última atualização: Aug 23, 2020 ⏰

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