- Miguel! – eu apenas consegui gritar. A dor na garganta parecia distante conforme eu chamava seu nome a plenos pulmões. Me ajoelhei ao lado dele e tomei seu corpo em meus braços. O movimento de erguer Miguel do chão e trazê-lo para mim enviou pontadas agudas de dor em meus dedos quebrados, mas a dor que dilacerava meu coração ofuscou qualquer outra dor. – Miguel, fique comigo, Miguel!
Ele estava semiconsciente, os olhos abertos pela metade. Sua boca balbuciava palavras sem sentido.
- Miguel, fique acordado, fique acordado Miguel! Você não vai morrer, está me ouvindo, não vai morrer! Você não pode! – Eu segurava seu rosto entre minhas mãos, sacudindo-o de leve, impedindo que ele deslizasse para o estado de inconsciência que provavelmente o levaria à morte.
- Nicholas... Nicholas... – eu consegui decifrar meu nome em meio às palavras que saiam de sua boca, mas não consegui entender mais nada.
- Não fale nada! Fique comigo Miguel, por favor!
As lágrimas escorriam livremente por meu rosto, eu não conseguia contê-las. O medo de perder Miguel era mais forte que todas as dores que eu estava sentindo. Olhei para cima, fazendo preces silenciosas à todos os deuses que poderiam me ouvir lá no céu.
Então, como um enviado por Deus (ou atraído por meus gritos de desespero), meu cavalo apareceu trotando apressado por entre algumas árvores e veio até onde nós estávamos.
- Ei você! Aqui! Aqui! – acenei na esperança que o animal viesse em nossa direção. Qual não foi a minha surpresa quando o animal veio diretamente até mim. – Fique acordado Miguel, nós vamos para casa!
Os minutos seguintes foram provavelmente alguns dos mais difíceis em toda a minha vida.
Eu precisava dar um jeito de colocar Miguel em cima daquele cavalo. Meus dedos quebrados tornaram aquela missão muito mais difícil do que seria normalmente. Miguel era muito mais pesado que eu, eu não conseguia erguê-lo. Decidi então tentar fazer o cavalo se sentar. Na primeira tentativa, o cavalo afastou-se de mim irritado, o rabo balançando de um lado para o outro em clara demonstração de sua indignação.
Quando minha frustração era maior do que eu poderia descrever – eu olhava para Miguel caído no chão, semiconsciente, enquanto eu não conseguia fazer nada – eu resolvi que qualquer tentativa era válida.
Caminhei até a frente do animal. Reunindo coragem, peguei em sua cara com as minhas duas mãos.
- Por favor. Por favor, sente-se! Miguel está morrendo, eu não posso deixa-lo morrer! Não sei se cavalos sentem nossas emoções como os cachorros, mas se você sentiu minhas emoções nos últimos dias, sabe como seu dono é importante para mim. Por favor, sente-se! Eu não posso deixa-lo morrer, eu não posso!
O cavalo olhou para mim com olhos curiosos. Em seguida, para minha total consternação, sentou-se no chão.
- Obrigado Deus, mil vezes obrigado! – gritei.
Arrastei Miguel com toda a calma e a pressa que consegui equilibrar. Não sabia se os golpes de Eliel tinham quebrado alguma costela ou machucado algum órgão interno, e eu não queria piorar sua situação. Com toda a cautela que tinha, coloquei Miguel sentado de costas, apoiado contra o cavalo. Em seguida dei a volta, sentei a mim mesmo sobre o animal e arrastei Miguel, até que consegui coloca-lo sentado à minha frente. Depois, levantei-me e olhei ao redor, procurando alguma coisa que eu pudesse usar para amarrar ele a mim, para que não caísse. Não achei nada.
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TRAVELLER - Além do Tempo
Romance"Dois mundos opostos Uma guerra prestes a eclodir Um amor que ultrapassa as barreiras do tempo" O destino gosta de brincar com as pessoas; Nicholas é a prova viva disso. Prestes a completar 21 anos, resolveu fazer uma viagem com o pai para uma cidad...