PRÓLOGO

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Olho para o relógio e gemo, meia hora atrasada, Gabe deve estar surtando com isso, ele odeia atraso. Entro no prédio e estaciono na minha vaga, quase não tenho tempo para travar as portas, pois saio em disparada, tão rápido quanto meus saltos permitem.

Não verifico o celular quando entro no elevador, a subida para o vigésimo andar parece mais lenta que o normal. O dia de hoje está diferente, ou talvez seja meu humor, ou melhor dizendo, talvez seja o fato que estou indo para uma reunião com meu marido, para assinar os papéis do nosso divórcio. Documentos esses redigidos pela nossa empresa, a qual somos sócios.

Perfeito.

Entro no escritório e todos me encaram um pouco apreensivos. Noto alguns olhares na minha direção. Não me dou o trabalho de observar mais, mesmo tentando fazer tudo o mais discreto possível, as notícias pelo visto voaram.

— Senhora Dylan? — Melissa, minha secretária me aborda. — Seu café. — estende a mão me entregando um copo do meu café favorito.

— Obrigada. — bebo um pouco e fecho os olhos absorvendo a cafeína. — Gabriel já está na sala de reunião?

— Sim, o senhor Dylan já se encontra lá.

— Certo. — entrego minha pasta e bolsa para ela. — Melhor eu não me atrasar mais. — ela apenas balança a cabeça e leva minhas coisas para minha sala enquanto eu ando com um copo de café em uma mão e o celular na outra.

Dou bom dia a algumas pessoas durante o caminho, e quando chego e olho para a imensa porta de vidro que dá acesso à nossa sala de reunião, eu respiro fundo e entro.

Gabe está sentado na poltrona dele, na cabeceira. Ele está impecável como sempre, por um momento me questiono se ele está feliz com essa decisão, mas é só ele levantar o olhar e me encarar, que eu vejo.

Gabe está se sentindo tão miserável quanto eu.

— Bom dia, desculpe pelo atraso. — deixo meu café na mesa e ele se levanta para me cumprimentar.

— Bom dia, não se preocupe eu mesmo não cheguei na hora. — isso me deixa curiosa.

Gabe beija meu rosto e puxa minha cadeira. Ele sempre foi um cavalheiro, nesses dez anos de casados, e mesmo no tempo de namoro, Gabe não foi nada além de perfeito.

Olho para a pilha de documentos na minha frente, um sinto meu corpo tremer por dentro, é a mesma sensação quando estou em um tribunal, defendendo um caso difícil.

— Tem certeza? — pergunto mais uma vez, já perdi as contas de quantas vezes já perguntei isso a ele. Ele apenas me encara. — Pensei que fôssemos felizes. — digo por fim e abro o envelope.

Ele já assinou, meu coração quebra.

— Somos felizes Lucille, olhe em volta, veja tudo que construímos. — respiro fundo — Eu te amo querida, mas eu não posso mais.

— Desde quando? — foi a primeira coisa que perguntei quando ele pediu o divórcio, e isso foi no mês passado.

— Desde quando percebi que quero mais.

— Mais? — minha voz se eleva. — Temos tudo Gabe, como casal, como sócios, que diabos você ainda quer?

— Que tal uma família, Lucy? — gabe levanta e vem até mim, ele vira minha cadeira e fica de joelhos, segurando a minha mão ele me olha nos olhos. Seus olhos são tão intensos, um tom que raramente vejo, é mel, com algumas manchas verdes.

***

— Seus olhos são estranhos. — falo enquanto analiso meu novo objeto de fascinação, estamos em uma festa, Gabe está no segundo ano de direito e eu sou uma caloura.

— Estranhos? Acho que nenhuma garota disse isso antes. — ele sorri.

— Talvez elas não tenham olhado com atenção.

— E você está? Quer dizer, está prestando atenção?

— Eu sempre fico atenta aquilo que me interessa.

***

— Você sabe que ainda não é a hora Gabe, eu estou no meu melhor momento, nós dois estamos, um bebê só seria um desperdício de tempo. — Falo voltando ao presente, não é o momento para recordações.

— Desperdício de tempo? — ele me olha incrédulo. — Por Deus Lucille, todos esses anos juntos, e você ainda consegue me surpreender. — Gabe levanta e passa mão no cabelo. — Quando nos casamos, nossa prioridade era esse escritório, aos vinte oito anos você disse que ainda não era hora pois estava trabalhando em um dos seus maiores casos, depois disso — ele suspira. — Muitos casos importantes, um atrás do outro.

— Você também estava trabalhando muto Gabe, não jogue isso somente em cima de mim.

— levanto também.

— Há cinco anos eu toquei no assunto, por todo esse tempo, a única coisa que tenho feito é aceitar suas desculpas. Eu estou chegando em uma idade que eu quero ser pai Lucille, e não avô.

Você também deveria considerar isso.

— Você está sendo machista agora.

— Desculpe, mas esperei tempo demais, eu quero algo mais do que chegar em casa e revisar processos. — Ele parece cansado.

— Eu tenho trinta e cinco anos Gabe, pelo amor de Deus, não é como se eu não pudesse ter filhos em sei lá, três anos?

— Três anos? — ele rir — Você tem noção do que você está dizendo? Mais três anos e o quê? Abrimos uma filial em outra cidade, mais trabalho, menos tempo para nós.

— Você não está sendo sensato. — Tento ponderar.

— Me responda uma coisa, se eu te disser que desisto do divórcio, mas quero que você pare de tomar seus remédios para que possamos planejar nossa família, o que você me diz?

— Parar agora? — pergunto surpresa.

— Sim, agora. — ele está jogando, eu sei que todas as palavras que saem da sua boca são verdadeiras, Gabe faria isso, desistiria desse divórcio descabido caso eu concorde em lhe dar a família que tanto deseja.

Olho para os papéis na minha frente, e olho novamente para o meu marido. Ele não desvia o olhar, assim como eu. Então, quando uma pequena lágrima rola pelo meu rosto, ele já sabe qual a minha decisão.

Sento na cadeira e começo a assinar os documentos.

JOGOS PERVERSOSWhere stories live. Discover now