Os olhos de Hope se abriram bruscamente, demorando alguns segundos para que seu cérebro entendesse que ela tinha acordado e ela ganhasse total consciência.
Sabe quando você acorda com a sensação de estar perdido, sem rumo? Primeiro seus olhos se ajustam ao ambiente, você olha ao redor e as memórias mais recentes começam a voltar, e aí sim você ganha total controle sobre seu corpo.
Os segundos entre essas etapas são curtos e confusos, mas essa sensação logo é esquecida quando você se levanta, toma seu banho, se veste. Assimilar como os pesadelos que perturbam suas horas de sono, mas que logo se tornam apenas vagas lembranças na sua mente alerta e acordada.
Hope se levantou, caminhando até o banheiro e deixando que a água levasse todas as suas preocupações. Já tinham se passado algumas semanas desde o acontecido - dois meses, pra ser mais exata -, e ela não sabia como encarar Sam e Dean depois de tudo que aconteceu, depois de tudo que Meg fez.
Se ela era forte o suficiente pra retomar o controle de seu próprio corpo, por que não o fez antes? Seu emocional era uma de suas principais fraquezas. Se ela não fosse tão dependente do que ela sentia, talvez tivesse conseguido se libertar antes e evitado tanto sofrimento.
Ela colocou uma de suas camisas de banda, calças jeans e All-star e desceu até a cozinha, onde Sam, Dean e Bobby tomavam café.
Ela se sentou em silêncio, murmurando apenas um "bom dia" enquanto encarava a caneca de café. Sinceramente, ela não tinha fome. Tinha muito tempo que ela realmente sentiu fome, e parecia que seu organismo não mais precisava de comida.
E não precisava. Quem ela queria enganar? Parecia que ela nunca precisou de verdade. E agora, mesmo quando o gosto dos alimentos parecia muito mais vivo em sua boca, ela nem sequer tinha vontade de comer.
Tomaram café em silêncio e ela se levantou, colocando seu copo vazio na pia. E, saindo pela porta, ela caminhou até a igreja mais próxima, simplesmente deixando suas memórias da infância guiarem seu caminho. Desenhando a cruz nos ombros, ela entrou na igreja, se agachando na frente do altar. Ela sentiu uma forte angústia em seu peito, sua boca ficou seca e ela conseguia sentir seu coração pulsando no fundo da sua garganta.
_Estou com medo, Irmã Sophia. - Hope chorou, abraçando a senhora. - Parecia tão real.
_Lembra da oração que te ensinei? - Sophia perguntou, se levantando da cama da garotinha e se ajoelhando no chão.
Hope acenou com a cabeça e repetiu a ação, se ajoelhando no chão ao lado da cama e juntando suas mãos. Sua voz infantil ecoou pelas paredes de seu quarto enquanto ela repetia a mesma oração que havia sido ensinada a ela assim que ela aprendeu a falar -- a oração de São Miguel Arcanjo.
_Sancte Michael Archangele, defende nos in prælio; contra nequitiam et insidias diaboli esto præsidium. Imperet illi Deus, supplices deprecamur: tuque, Princeps militiæ cælestis, Satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude.
Ela respirou profundamente, seus olhos fechados, em paz.
_Amém. - Ela ouviu outra voz finalizando junto com a sua e se virou rapidamente, mas não tinha ninguém a vista.
A igreja estava vazia.
Sua respiração se tornou irregular e ela se levantou rapidamente enquanto seus olhos brilhavam um forte tom de azul, e suas pernas magras a levaram em uma corrida em disparada para qualquer.
Ave, María, grátia plena
(Ave Maria, cheia de graça)
Dóminus tecum
(o Senhor é convosco)
Benedícta tu in muliéribus
(bendita sois vós entre as mulheres)
Et benedictus fructus ventris tui Jesus
(e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus).
Hope correu pela rua, se esquivando entre os poucos carros que se arrastavam pelas ruas da manhã.
Sancta María
(Santa Maria)
Mater Dei
(Mãe de Deus)
Ora pro nobis peccatóribus
(rogai por nós, pecadores)
Nunc et in hora mortis nostrae
(agora e na hora da nossa morte)
No exato momento em que o carro ia acertar em cheio a menina, ela desapareceu. O motorista do carro e vários outros, em pânico, saíram e olharam para baixo, procurando por qualquer sinal dela debaixo do carro.
Mas não havia nada lá.
(Amém)
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Unholy
Hayran KurguVários assassinatos marcavam a história de Hope Angel Belladonna. Não demorou para que isso atraísse a atenção de Sam e Dean Winchester. O que pensavam ser uma maldição, era apenas as consequências dos erros de seus pais biológicos. A punição por te...