Bruno X Carol

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E se você vem, fica tudo maior, mais amplo... Sei lá... Mas é como se eu existisse dum jeito mais completo...

Não sei por quanto tempo ficamos nesta posição, no chão, em silêncio, nos agarrando, mas quando levantamos, o sol já está mais baixo no céu, começando a descer para anoitecer.

Bruno me convence a deixar meu carro aqui, voltamos para buscá-lo depois.

Ele está preocupado que eu esteja muito cansada, muito emocionada para dirigir com segurança.

Pela primeira vez, não discuto com ele. Ao seguirmos de volta para o restaurante, ele fica com uma mão no volante e a outra em mim: na minha coxa, no meu ombro ou, suavemente, entrelaçada com a minha. E é confortante. Maravilhoso. Esperei por este momento, quis isso mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Tê-lo aqui, comigo, me amando, depois de ter pensado, sinceramente, que nunca mais ficaríamos assim de novo.

É como um filme. O reencontro. A reconciliação. O final feliz.

O único problema é que, na vida real, não tem nenhum tema musical que toca depois. Não há créditos.

Na vida real, você tem que lidar com o que acontece depois do reencontro. Os efeitos das coisas que foram ditas, as consequências do que você fez, que quase destruiu tudo.

Que poderia ainda destruir.

É por isso que assistimos a este tipo de filme, porque na vida real as coisas nunca são tão fáceis.

Nã o que eu não esteja completamente feliz, de um modo indescritível.

Apesar do que disse antes, saber que o que Bruno disse, a stripper, tudo aconteceu por causa de uma terrível confusão. Isso acaba trazendo um certo alívio afetuoso.

É o que todas as pessoas que já tiveram notícias de cortar o coração pedem.

Seu filho morreu em um acidente de carro, você está com câncer no quarto estágio. A esperança é de que o mensageiro tenha errado. Uma identificação errada. Um diagnóstico incorreto.

Um erro.

Mas o que acontece depois do “incorreto”? Depois que você aceitou como verdade a tragédia, ou gastou todas suas economias porque pensou que tinha

apenas algumas semanas de vida? O que você faz agora?

Você supera. Você se recompõe. Você passa por cima de uma pedra, achando que a vida não apenas voltará ao normal, mas também ficará melhor, mais agradável.

Pois agora percebo totalmente. Ter perspectiva não muda apenas o modo como você enxerga as coisas, mas muda como você se sente.

Quando acha que perdeu tudo, você valoriza muito mais cada momento.

Paramos no estacionamento do restaurante e andamos até a porta dos fundos para entrar na cozinha, de mãos dadas. Como dois adolescentes que ficaram

juntos a noite toda, passando da hora, deixando todos que se importam com eles mortos de preocupação.

Minha mãe está parada no balcão, cortando furiosamente cenouras cruas com uma faca pontuda. É fácil de perceber que ela está cortando a cenoura imaginando ser outra coisa.

George está sentado na mesinha ao lado de Yago.

Deia está na frente dele, com o telefone no ouvido.

Quando ela nos vê, diz baixo:

Deia: Eles estão aqui. Te ligo depois .

E termina a ligação.

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