O diário

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O silêncio perpetuava-se por todo aquele cômodo, cada pequeno espaço dele, preenchido pela incerteza.

Com mãos trêmulas, o policial Carter segurava aquele caderno surrado com o tempo. A capa de couro o impedia de ver o que ali estava escrito.

Aquele simples caderno era a chave de um crime mais do que mistérioso, porém algo o impedia de puxar o fitilho acinzentado que o mantinha fechado.

Uma estranha energia pairava por sobre o caderno, algo maligno.

A morte de Margareth Oorth não fora algo comum, a mulher estava dilacerada e quem havia feito aquilo estava cheio da mais pura raiva.

Ele suspirou longamente ao puxar o fitilho que se desenrolou vagarosamente, e então finalmente ele pode ver as palavras de Margareth em letras gravadas nas folhas esmaecidas.

Seus olhos percorreram a ortografia delicada dela e então pararam na primeira frase que dava início ao que ele apelidou de "Diário"

Jesus lhe dissera: Espírito imundo, sai desse homem!
E perguntou-lhe: Qual é o teu nome?
Respondeu ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
Marcos 5: 8 a 9

Um longo suspiro se fez audível no cômodo quando, Carter sentiu um cortante frio lhe açoitar, porém não parou sua leitura.

Manteve os olhos fixos nas frases e continuou.

4 de abril de 2002

Estou em Nova Jersey a dois dias. Recebi uma ligação do padre Emanuel, ele notificou-me sobre uma possível possessão de uma jovem de quinze anos.

Segundo o padre, a garota puritana, tímida e recatada tornou-se a personificação do diabo.

Não tive a oportunidade de vê-la, porém consigo sentir a energia maligna pairando por toda a cidade.

Hoje pela manhã estive conversando com o irmão mais velho de Jenny a garota que possivelmente está possessa.

Ele disse que de um dia para o outro, Jenny havia se tornado rebelde.

Segundo ele em um segundo ele poude ver os olhos dela se ampliarem e tornarem-se negros como as trevas da noite, ela riu cinicamente, achando graça de tudo aquilo, uma risada mais altiva e grossa do que Jenny normalmente costumava a ter.

O padre ainda dúvida se realmente se trata de uma possessão demoníaca, mas para mim é um fato. Estou lidando com um demônio.

As palavras cessaram ao chegar ao fim da página. Carter suspirou confuso, sem entender o que aquele breve relato siguinificava.

Demônios?

Questionou-se internamente, sem saber definir se aquelas palavras escritas no diário, eram verdadeiras ou apenas uma ilusão de Margareth.

Seus olhos percorreram o ambiente. O ar-condicionado estava desligado e a janela fechava, porém do lado de fora fazia um tremendo calor, o que não explicava o tremendo frio que açoitava sua pele naquele cômodo.

Ele respirou fundo virando a página, aquilo duraria algumas boas horas, já que todas as folhas do caderno estavam ocupadas pelas letras de Margareth.

Possessão (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora