O pedido honrado

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12 de abril de 2002

Vai acontecer. Depois de muita insistência da parte de minha tia, eu irei parar, irei me acomodar.

Não sei por quanto tempo isso irá durar, mas desde quando sai do convento será a primeira vez que irei me afastar de todas essas coisas malditas.

Por esse tempo que pode ser ou não eterno, esse diário ficará guardado e sem utilidade, mas eu sei que logo terei ele em mãos novamente. Não posso simplesmente me ausentar do que é minha vida.

A partir do momento em que você deixa a escuridão entrar, ela nunca mais vai embora, e eu já havia feito a minha escolha a muito tempo.

Carter fechou o diário assim que de longe avistou Kiara, a tia de Margareth adentrar no jardim de sua casa.

- Já não era sem tempo. - Carter resmungou saindo do carro.

Faziam se horas que estava estacionado na frente da casa de Kiara Oorth aguardando a chegada dela.

- Kiara Oorth? - Chamou ele antes que a mulher fechasse a porta.

Ela virou-se confusa, mas sua expressão tornou-se assustada ao ver o distintivo que ele lhe apresentava.

- Posso ajudar? - Questionou ela receosa recuando alguns passos.

- Tenho algumas perguntas, se importa em responde-las? - Carter tentou sorrir.

- Tem ha ver com Margareth não é?

A mulher baixou a cabeça e suspirou no momento em que Carter maneou a cabeça em um sinal positivo. Logo em seguida respondeu:

- Entre por favor policial.

(...)

Carter bebericou um pouco do café que Kiara lhe ofereceu. Ela suspirou passando os dedos pela capa de couro envelhecida do diário de Margareth.

- Pode me contar um pouco mais sobre Margareth? - Carter rompeu o silêncio.

- Margareth sempre foi educada e doce, uma menina comum tentando ser aceita, mas minha irmã e meu cunhado acabaram com ela, acabaram com toda a inocência dela...

A mulher suspirou e seus olhos distanciaram-se, pareciam estar voltando no tempo.

- Como assim?

- Minha irmã era religiosa, mas não apenas isso, ela era fanática, sabe, do tipo que espanca os filhos ou atira pedra nas pessoas na rua. - A mulher soltou um longo suspiro, seus olhos melancolicos pareciam fazer uma longa viagem ao passado. - Ela Margareth acreditar que era filha do diabo, meu cunhado apenas a seguia e concordava com tudo, ele não era do tipo que falava muito e quase nunca retrucava as sandices da esposa. - A mulher suspirou mais uma vez, agora um pouco cansada. - Quando ela fez dezesseis anos, o irmão dela, Tommy morreu. Eles culparam a pobre, diziam que a influencia demoniaca dela trazia morte e destruicão, então eles a afastaram, a mandaram para um convento.

Carter ia anotando tudo em um bloco de notas, todas as informações colidas eram peças importantes do quebra-cabeça que aquela história havia se tornado.

- Eles morreram quando ela tinha dezenove ou vinte anos. Então ela saiu do convento e se envolveu com essas coisas horríveis que você vê no diário. - Kiara olha de solaio para o diário com uma careta de desgosto. - Em dois mil e dois, quando ela chegou para resolver o caso da menina Jenny ela passou aqui, eu a a convenci de parar com aquela vida e ela aceitou. Estabeleceu-se em uma cidade e viveu uma vida normal.

- Não durou muito não é?

- Durou um tempo, mas então ela voltou. - A mulher sorriu de canto triste. - Margareth não tinha permissão da igreja para fazer o que fazia, ela estava toda errada, demônios não respeitam quem não é escolhido por Deus.- A mulher desabafa.

Mais uma peça ganha que precisava ser encaixada no lugar correto, bastava ele saber qual.

— Sabe policial... — Começou e Carter lhe designou um olhar preocupado. — Minha irmã dizia que Margareth era filha do diabo, e ela estava certa. — Contou surpreendendo Carter que demorou alguns minutos para responder.

— Como? — Questionou ainda confuso.

— Com o passar dos anos, minha irmã tornou-se o diabo e fez da vida da minha sobrinha um verdadeiro inferno.

(...)

2 de setembro de 2006

Eu tentei, o diário permaneceu fechado e guardado por anos, mas essa manhã meu telefone tocou e eu não pude dizer não, fechar os olhos e fingir que não estava lá.
Pois estava.

Estou saindo dessa casa que passei quatro anos em uma vida monótona e tediosa e provavelmente não retornarei.

Estou indo para Dawsville, há um possível caso lá. Não queria dizer isso, mas aqui não preciso mentir, eu estava sentindo saudades da minha vida antiga.

Acho que agora finamente vou voltar a ser como era antes. Mesmo que eu quisesse agradar minha tia e permanecer aqui como ela pediu, eu não consigo, não posso e não quero.

E é por esse motivo que essa não é a hora para contar para ela que estou de partida da vida segura que ela queria que eu ficasse, para a vida perigosa que ela queria que eu saísse.

Carter fechou o diário e o repousou sobre o Banco do passageiro. Margareth podia ter fugido daquilo, podia ter encerrado aquele filme de terror real, mas preferiu continuar e acabou morta pelo desejo de ajudar pessoas.

Restava Carter honrar Margareth e descobrir quem havia a matado.

Possessão (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora