I - Kim Taehyung

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Annormal; Capítulo 1 — Kim Taehyung

Kim Taehyung, órfão de pais sacerdotes, herdara, infelizmente, uma "maldição" que lhe permitia ver seres espirituais desde a morte trágica de seus pais, quando ele tinha apenas 13 anos.

Esses seres não eram como as pessoas imaginavam fantasmas. Eles eram deformados, contorcidos de maneira inumana, com membros alongados, olhos vazios e bocas rasgadas que sussurravam ameaças macabras. Taehyung os via em todos os lugares, principalmente nas sombras e cantos mais escuros. Essas aparições vinham e iam como pesadelos ambulantes, nunca deixando-o em paz.

Ele já não tinha forças para tentar explicar sua situação. Anos de tentativas o deixaram exausto e frustrado, com a certeza de que ninguém jamais entenderia seu tormento. O que mais o feriu foi a própria família, que o rejeitou, acreditando que ele estava louco.

Tudo o que Taehyung desejava era se livrar desse "dom" que lhe roubava a sanidade. Visitar psiquiatras se tornara uma rotina vazia, pois, no fundo, ele sabia que nenhum tratamento poderia curá-lo. O terror era constante. Suas noites eram longas e insuportáveis, os sussurros das entidades e a presença constante delas o impediam de dormir. Os olhos eternamente abertos nas sombras o faziam perder o apetite, e ele vivia à beira de crises de pânico, esperando o próximo ataque das criaturas. O pior de tudo era que, apesar de ser apenas um garoto inofensivo e aterrorizado, as pessoas ao seu redor, sem entender a verdade, tinham medo dele.

13 de outubro de 2017

O dia começou como qualquer outro, com a familiar exaustão. Taehyung não dormiu nem por um minuto sequer. Esqueceu de comprar seus remédios para dormir, o que significava enfrentar uma noite inteira de vigília, aterrorizado pelas sombras à espreita.

Com passos trôpegos, arrastou-se até o banheiro. O peso do cansaço fazia suas pernas tremerem. Ao encarar o espelho, viu as olheiras profundas e o rosto pálido, quase irreconhecível. Ele suspirou, sentindo o peito apertado, o coração batendo de forma irregular — algo que já se tornara um tormento diário, especialmente quando estava sozinho.

"Pelo menos é só o meu rosto", pensou, tentando se consolar, enquanto pegava a escova de dentes. Mas o alívio foi interrompido no instante em que algo começou a se mover no espelho. Inicialmente, parecia um borrão, mas logo tomou forma — uma figura esquelética, com a pele pendendo dos ossos, os olhos dois buracos negros e profundos que o encaravam com uma fome desesperadora.

Taehyung paralisou de pavor. O ar parecia ter sido arrancado de seus pulmões, enquanto a criatura atravessava o espelho com um movimento distorcido, seus ossos estalando a cada passo. As garras, longas e afiadas, arranhavam o vidro do espelho, produzindo um som agonizante que ecoava pelo banheiro.

Ele gritou, jogando a escova de dentes na direção da entidade, mas o objeto a atravessou, atingindo o espelho e o trincando em várias direções. O som do vidro estilhaçando só intensificou seu desespero.

— Não precisa ter medo de mim... — murmurou a entidade com uma voz abafada, como se viesse de um poço profundo. O hálito da criatura era podre, e a maneira como suas garras arrastavam-se pelo chão fez Taehyung sentir como se sua pele estivesse sendo rasgada de dentro para fora.

Desesperado, ele saiu correndo, o coração disparado, as mãos trêmulas mal conseguindo girar a maçaneta da porta. Sentia o suor escorrendo por sua testa e seus lábios dormentes, o corpo lutando contra o impulso de desmaiar. O espírito desapareceu assim que ele saiu do banheiro, mas o medo continuava apertando sua garganta, sufocante.

"Será que nunca vai acabar?", pensou Taehyung, olhando para o espelho trincado. A mão pressionada contra o peito, na tentativa vã de acalmar o coração em pânico.

Annormal 1.0 ( Kth + Jjk )Onde histórias criam vida. Descubra agora