Bônus: 2013

284 30 18
                                    

30 de dezembro de 2007

Hoje é meu aniversário de quatorze anos. Já estou internado há seis meses, e ao invés de um bolo, recebi uma camisa de força e um quarto branco para ficar. Não há festa, não há parabéns. Apenas paredes que parecem me engolir.

Não consegui fazer amizades aqui, porque eu assusto os outros pacientes. Sempre que estou amarrado, os espíritos aparecem. Alguns deles até tentam me possuir. Eu sinto medo o tempo todo, como se a qualquer momento algo terrível fosse acontecer.

A única coisa que eu gosto aqui são as aulas de arte. Meus pais eram muito ricos, e por isso eu tenho acesso aos melhores materiais de arte. É o único momento em que consigo me distrair, parar de pensar na morte deles ou nos seres que me perseguem.

Agora, estou de olhos fechados, tentando não pensar em nada. Tento afastar a imagem da morte dos meus pais, mas não consigo. Ela sempre volta, como um filme repetido. Sinto os calafrios subirem pela minha nuca, aquela sensação familiar que me avisa de que eles estão tentando entrar no meu corpo.

Eu não vou fazer o ritual, eu nunca vou fazê-lo na minha vida.

Sinto calafrios na nuca e na barriga, eles estão tentando entrar no meu corpo. Não quero abrir os olhos, mas a incerteza é ainda mais aterrorizante. É pior não saber se eles estão realmente aqui. Lentamente, abro os olhos.

O que vejo me faz soltar um grito desesperado. A figura ao meu lado é o mesmo demônio que vi na minha casa, mas desta vez, ele parece ainda mais nítido e grotesco. Sua pele é escura como carvão, com manchas acinzentadas que se contorcem como fumaça. Os olhos são grandes e vazios, sem pupilas, apenas dois buracos negros.

Seus membros são longos e desproporcionais, com garras afiadas. O som que emana dele é como o ranger de dentes, uma mistura de respiração pesada e estalos secos, como se os ossos dele se quebrassem e se remontassem a cada movimento.

Eu grito alto, e a boca daquele monstro... ela se abre devagar, revelando uma fileira de dentes finos e longos. Tento fugir, mas estou amarrado, preso. Meu coração bate tão rápido que sinto como se ele fosse explodir a qualquer momento. Meu corpo treme violentamente, e o pânico toma conta de mim.

Minha visão começa a escurecer, a pressão do medo me faz sentir como se o ar estivesse sendo arrancado dos meus pulmões. O desespero aumenta a cada segundo. Grito por ajuda, implorando para que alguém me solte, mas ninguém vem. Eu estou sozinho.

Sinto o calafrio atravessar meu peito, e vejo se aquelas garras esqueléticas tentando entrar dentro do meu peito. Grito mais alto, e no momento em que ele alcança meu coração, o ar parece desaparecer. Não consigo respirar, mas o ar não me faz falta. Não sinto mais medo, nem dor, nem nada. O mundo ao meu redor começa a girar, e então, tudo fica vermelho-escuro, cor de sangue.

Eu perco a consciência.

1 de janeiro de 2013

Eu tenho 18 anos, nem consigo acreditar que sobrevivi até aqui.

Desta vez, decidi celebrar meu aniversário de um jeito diferente: pedi um bolo por delivery só para mim. Depois de devorá-lo sozinho, declarei que estava deixando este hospício para trás, prometendo a mim mesmo que nunca mais voltaria. Essas palavras já saíram da minha boca tantas vezes que nem sei contar, sempre seguidas de tentativas fracassadas de fuga. Mas agora, aos dezoito anos, sinto que, finalmente, tenho o controle da minha própria vida.

Pelo menos minha família não roubou o dinheiro dos meus pais, provavelmente para que eu consiga ter independência financeira e nunca mais precisar contar com eles... ou por terem medo das consequências espirituais.

Annormal 1.0 ( Kth + Jjk )Onde histórias criam vida. Descubra agora