4.0 O C A C H O R R O Q U E R S E L I B E R T A R D A C O L E I R A

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URIEL/REN

— Eu sei? — tentei arrumar tempo.

Com todas as lembranças de quem eu realmente era, não só um anjo, mas um Arcanjo, poderoso e sempre insensível, fazia meus pensamentos quererem converter ao passado.

Há quando eu ainda seguia Lúcifer.

Há quando era cruel, ainda mais que meu irmão.

— Sim, não se faça de desentendido — ele se aproximou de mim. — Uriel, você sabe que sempre quis ser igual a mim. O que te impede agora? Uma humana? Fala sério, irmão. Você já teve prazeres carnais com ela, já chega.

E que prazeres.

Mas não foi o que respondi, me contentei em fechar os olhos e tentar não sucumbir a tentação.

Todas as lembranças do Céu tinham entrado em minha mente como uma torrente.

Eu já tinha tido relacionamentos com humanos, lembrei, mas não tinha chegado a sentir um terço do que sentia com Analu, era intenso e insano. Não sabia o que ela tinha de diferente... mas me cativava.

— Deus abandonou nós dois, sabia? — Lúcifer quase quebrou minha alma com essa pergunta.

Olhei feio para ele.

— Não, o Senhor nos exilou, é diferente. Você quis dizimar os humanos e eu, te trazer de volta ao Céu. Ele tinha razão.

O soco que recebi quebrou cinco dentes.

Gemi de dor e frustração.

— O que você disse? Acho que não escutei direito, Uriel — Lúcifer quase arrancou meus cabelos.

— Você escutou a minha opinião — se era para servir a Lúcifer...

Mais um soco, dessa vez no nariz.

... Com certeza eu não o faria de cabeça baixa.

Sempre tinha sido seu cachorrinho no Céu. Tinha aprendido algumas coisas desde lá.

Seguir seu irmão mais velho para todo lugar e em todos os sentidos, nem sempre era uma boa.

Lúcifer me jogou no chão com tudo, fazendo as correntes cerrarem minhas asas.

Abafei um grito, mordendo a língua e quase partindo-a em duas.

— Você é um idiota...

— Chega — falei mais alto do que ele, expulsando o sangue para os seus sapatos e me levantando um pouco, mantendo, pelo menos, um resquício de orgulho —, pare de me xingar. Eu não vou te ajudar se você não me respeitar, entendeu? Acabou a era de eu só te obedecer, Lúcifer.

— Ah, que bonitinho, o cachorro quer se libertar da coleira? — Quase senti a ironia me tocar. — Saiba que se você não me obedecer, mato Analu e seu filho, simples... e sabe o que é o mais interessante dessa história? Não preciso do seu consentimento, só da sua força. E, acredite, posso pegá-la, Uriel.

Respirei fundo e desviei os olhos.

Eu era um fraco e inútil e estar naquele situação ridícula me deixava possesso.

— Sempre acreditei que o Anticristo seria seu filho, Lúcifer.

— Não, a bíblia tem essa ideia — respondeu, totalmente normal com minhas falhas na memória. — Os Anticristos são filhos de Arcanjos com humanas. Eu, por exemplo, já tenho a minha.

— Você tem? — franzi o cenho e olhei ao redor, como se tivesse procurando-a.

Mas a verdade é que não queria acreditar. Meu filho seria um ser maligno, provavelmente, e a filha de Lúcifer também era.

Não estava nenhum pouco a vontade para conhecê-la.

— Tenho — sorriu triunfante —, e daqui a pouco você a verá com seus próprios olhos, meu querido irmão.

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Eita

Espero que tenham gostado :3

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