Guiada ao Inferno | Vol. II [DISPONÍVEL NA AMAZON]

11 .0 N A M Ã O D O M O N S T R O

URIEL

Deixei o receptáculo onde encontrara, num restaurante, e minha alma voltou ao Inferno tão rápido quanto um raio. Abri os olhos lentamente e vi Lúcifer parado na minha frente, esperando pacientemente e com um sorriso.

Logo soube que ia apanhar.

— Como foi? Como está sua amante e nosso irmão?

Olhei de esguelha para Abaddon, agora suas mãos estavam descansando nos joelhos e ele estava sentado no chão, mas as correntes ainda apertavam sua pele cheia de bolhas e vermelhas.

Ele me encarou, mas não disse nada.

— Foi bem, sabe? — resmunguei. — Vem cá, Lúcifer — sorri descontraído. — Você sabe como é ter uma família? E a mãe de Danielle? Você a estuprou? É por quê só assim para alguém ficar com vo...

Até que o soco tinha demorado.

Quebrou os dentes da frente e o nariz do meu receptáculo Jonas Estol, o assassino. Doeu, bastante para ser sincero, mas pisquei para disfarçar as estrelas escuras que estavam rodando na frente dos meus olhos.

Sempre achei engraçado como Lúcifer se importava com a sua honra. Quando alguém lhe acusava e ele estava errado, até admitia, a muito custo, mas admitia.

Mas quando lhe acusavam sem motivo, Lúcifer ficava possesso e descontava sua raiva em quem estivesse perto. Para o meu total e absoluto azar... eu estava o mais perto.

Tinha Abaddon também, mas ele não estava na linha de visão do Diabo.

— Como ousa? — Sibilou, agarrando meus cabelos e quase arrancando-os da raiz, gemi de dor. — A mãe de Danielle foi a única humana pela qual tive sentimentos.

— Então por que me julga? — Engoli um pouco de sangue dos dentes e do nariz. — Por quê é errado eu ter uma humana para mim?

O termo saiu estranho.

Analu não pertencia propriamente a mim, eu não era o seu dono. Sabia o que era uma família. E isso, infelizmente, nunca conseguiria ter com ela.

Eu era uma Arcanjo... e ela, somente uma humana.

Distância inseparáveis.

— Você não entende? — Lúcifer me soltou do aperto e começou a andar pela minúscula cela, seus olhos azuis se desviaram dos meus com raiva e dor.

— Não.

— Ela é mortal, você é imortal. Pronto. Daqui a uns trinta anos a humana vai ser uma velha com a pele enrugada e você vai continuar o mesmo. Entendeu? O amor vai acabar. Citando também — falou cínico —, quê você é um ser alado. Miguel está vindo te procurar.

Tentei afastar a tensão de meus ombros.

— Não — ri e depois mordi os lábios, pela dor —, eu disse que não era para ele vir. Dane-se, Lúcifer, espero que você se afunde em seus tormentos.

— Ah é? — Colocou as mãos atrás das costas. — E desde quando Miguel foi sensato? É claro que ele não pode deixar o irmãozinho na mão do monstro, e consequentimente, trará a humana também.

Miguel era inconsequente sim, mas... não seria imprudente a tal ponto. A arriscar a vida de Analu.

— Não. — Sussurrei com raiva.

— Sim. — Lambeu os lábios e olhou provocativamente para o teto. — E sabe o que farei com ela? Não vou matá-la instantaneamente, não — alongou a palavra —, eu vou aproveitar cada centímetro daquele corpo, Uriel e depois matarei seu filho.

Meu sangue começou a ferver, meus sentidos inundados por suas palavras sujas.

Se ele sequer encostasse nela...

Se Miguel, primeiro, fosse idiota ao ponta de trazê-la novamente ao Inferno...

Eu não responderia por mim.

— Não! — Gritei, me debatendo e abrindo as feridas. Algumas lágrimas chegaram aos meus olhos. — Eu mato você antes, Lúcifer!

Ira brilhou naqueles olhos azuis antes de ele se virar mais uma vez para a saída.

— Ótimo. — Assentiu. — Era esse o temperamento de Uriel, era isso o que eu queria. Dane-se você, irmão. Não vejo a hora de Miguel e Analu chegarem aqui. — Saiu gargalhando.

Recuperei parcialmente a postura relaxada, meu pescoço doendo por mantê-lo na mesma posição por horas e olhei mais uma vez para Abaddon.

— Você acha que ele vai fazer isso mesmo?

— Você tem alguma dúvida? — Retrucou.

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Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)