ANALU
Depois de colocar meu jaleco, sentei-me na mesa e esperei.
A enfermeira, Joana — vi que era o nome dela pelo crachá —, tinha dito que mandaria o primeiro soldado depois de cinco minutos.
Segundo meu relógio, ainda tinha dois sobrando.
Olhei as fotos em cima da mesa, atentamente. Tinha somente três ali. A primeira, eu estava com Chris, sorrindo na praia que ficava na frente da minha casa.
Decidi que iria lá quando chegasse em casa.
A outra, era eu e Bob, o filhote de pastor alemão. Ele estava cheirando minha barriga. Sorri com aquela imagem. A última, era eu com uma jaqueta de couro, estranhamente familiar, mas não sabia dizer por quê.
O que achei mais estranho, foi meu cabelo. Nas três, ele estava ruivo. Mas peguei as pontas agora, só para me certificar.
Eram vermelhos, como sangue.
— Analu? — Joana colocou a cabeça para dentro da sala branca.
— Hm?
— O primeiro já vai entrar.
— Tudo bem — concordei distraidamente, mas ela já tinha saído.
Imaginei se conseguiria fazer qualquer coisa, já que estava estranhamente esquecida.
Torci para não fazer nenhuma cena desagradável e estúpida.
Levantei-me quando um homem entrou, todo vestido de preto. Ele tirou o capuz e sorriu.
Dei um passo atrás e arregalei os olhos quando o vi.
Ele tinha cabelos castanhos aloirados e olhos da mesma cor, mas escuros. Era bem bonito e sexy, até invejável. Seu corpo, por uma breve olhada, era todo musculoso. Mas logo me concentrei e pigarreei — eu era casada —, não podia ter esse tipo de pensamento.
Minhas mãos se embolaram em busca dos papéis enquanto ele sentava na minha frente e cruzava os braços.
— É, o seu nome é... Renato Demon?
Por quê estava parecendo que eu conhecia aquele homem?
E por quê o seu sobrenome significava demônio?
— Pode me chamar de Ren — riu, com seus dentes extremamente brancos.
Aquele nome mexeu comigo, mas tentei ignorar da melhor forma.
Pela primeira vez notei as duas cicatrizes em seu rosto, formavam um X. A primeira e mais forte começava no olho direito, passava pelo nariz e terminava no maxilar esquerdo, e a outra, mais fraca e parecendo recente, começava na bochecha esquerda e terminava no maxilar direito.
E, por mais esquisito que pareça... era um charme.
O que estou pensando? Oh, Deus, estou perdida.
— Ah... — comecei.
— As cicatrizes? — terminou por mim. — O que tem elas?
Consegui dar de ombros e mordi os lábios.
— São familiares para você?
Levantei a cabeça bruscamente.
Aquela não era uma conversa normal. Ren parecia me conhecer profundamente, mas eu não tinha ideia de quem ele era.
Respirei fundo, tentando me controlar.
Esquizofrenia não era hereditário, mas não queria nem pensar que meu filho tivesse sequelas.
— São — fui sincera. — Bem — tentei mudar de assunto —, vi que no seu relatório você sofre de depressão... — na verdade, só tinha passado os olhos por cima.
— Eu... — se levantou e colocou a cadeira no lugar — acabei de lembrar que tenho que fazer uma coisa primeiro, volto daqui a pouco.
Tentei falar, mas as palavras ficaram travadas em minha garganta.
Ren hesitou na porta e olhou para mim, e então fitou minha barriga com um sorriso arrependido.
O quê?
— Adeus, Analu.
Antes que pudesse objetar, ele já tinha ido.
O que acabou de acontecer?
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Espero que tenham gostado :3
Bjocas da Gótica Suave
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