17 .0 U M P O U C O V U L NE R Á V E L

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ANALU

Estávamos em casa.

Christopher/Samael não estava. Ainda bem. A empregada estranha também não, muito menos Cullan. Somente Bob, o meu cachorro. Quer dizer, o cachorro que Uriel tinha dado-me quando voltara da busca sem respostas pelo seu receptáculo.

Miguel parecia bem a vontade. Brincando com o filhote e rindo para ele. O Arcanjo não estava tenso, como quando Uri — decidi chamá-lo assim, melhor que Ren e Uriel , caiu.

— Você realmente teve casos com humanas? — Indaguei, lembrando da conversa dos dois na praia.

— Não lhe interessa.

Parei, com sua resposta tão direta. Meu rosto corou de vergonha e pigarreei, tentando chamar sua atenção.

— Se não interasse não estaria perguntando. — Cruzei os braços.

— E se lhe interessasse você já estaria sabendo, mas como não interessa... — Deu de ombros e sorriu mais uma vez para Bob, como se dissesse: Humana idiota, não?

Praticamente mastiguei a língua. Odiava quem conseguia ganhar as discussões, que no caso, era todo mundo.

Quando ficava nervosa, as palavras sumiam e as vezes me esquecia até do que tinha dito.

Meu sistema nervoso não cooperava.

— Vem cá. — Miguel cruzou as pernas e piscou sedutoramente. — Você por acaso tem mais algumas roupas? Essa está meio desconfortável.

Eu tive uma leve impressão de que ele estava tentando flertar, mas provavelmente era só coisa da minha cabeça. Até brinquei com a ideia de Miguel estar atraída por mim.

Já podia até fazer uma lista mental.

Christopher. Kevin, o irmão de Christopher. Uriel. Abaddon.

Mas não coloquei o nome de Miguel. Não fazia sentido. Segundo meus conhecimentos erráticos, Miguel era o Príncipe dos Anjos, o mais poderoso Arcanjo e confidente direto de Deus. Por quê ele olharia para mim? Um nada comparado a sua existência.

E por quê diabos estou me importando? Amo Uri.

Analu?

— Hein? — Respondi letárgica.

Ele ergueu as sobrancelhas louras.

— Odeio quando fico sem resposta.

— Ah. — Procurei no forno e encontrei uma panela com macarrão com queijo. Ótimo. Aquilo estava mais duro que madeira. — Lá no quarto deve ter. Pode ir buscar.

Quando o silêncio se tornou pesado de uma maneira estranha, levantei a cabeça da difícil tarefa de enfiar o garfo naquela massa.

Miguel me fitava com intensidade.

— Você poderia, por gentileza, me ajudar? — Estralou os ossos das mãos.

De repente me senti um pouco vulnerável.

Eu, ali sozinha, com um Arcanjo e um cachorro que só sabia latir e brincar — sem nada para me proteger, se fosse preciso. Meu rosto praticamente pegou fogo enquanto subia as escadas. Miguel vinha quase colado em minhas costas.

Quando entrei no meu quarto, fui em direção ao armário onde guardei as roupas de Uri.

Lembrei daquela foto no consultório... da jaqueta de couro, dele.

Mas não peguei aquela. Pertencia somente a ele.

Dei a Miguel uma calça preta de tecido, blusa, que convenci Uri a comprar, branca com o slogan da banda Nirvana, os coturnos marrons e uma jaqueta com diversos spikes.

Uri poderia não ser roqueiro, mas tanto ele quanto Miguel tinham o estilo.

— Credo. — Miguel olhou com nojo as roupas do próprio corpo quando as tinha vestido — dentro do banheiro. — Sério que o humano gostava disso?

Não o desmenti ao achar que as peças eram de Christopher.

— Falando nisso, está na hora de você dizer o que aconteceu desde que caí no Inferno, não é mesmo? — Meus olhos se semicerraram em sua direção.

Miguel farejou o ar.

— Por quê somos interrompidos o tempo inteiro? — Resmungou baixinho. — Alguém está lá embaixo... e não é coisa boa.

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Espero que tenham gostado :3

Bjocas da Gótica Suave :)

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