Capítulo 05 - Volta pra mim

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— Está de pé o pub hoje à noite? — indagou Melissa, em pé, de frente com a minha baia. — Duda — bradou —, acorda. Em que mundo você está? — Estalou os dedos, próximo ao meu rosto. Chacoalhei a cabeça e arrumei a postura. Pigarrei e respirei fundo, meneando a cabeça, concordando. Ela cruzou os braços no peito e estreitou os olhos. — O que aconteceu? Você está estranha.

Melissa é um pouco mais nova do que eu, tem os cabelos loiros e escorridos. É tão escasso que se ela não os deixasse sempre curtos, ficariam espaçados uns dos outros. Nos conhecemos na academia, malhamos todos os dias, em geral depois do trabalho. É mais baixa do que eu e magrela. Não que eu seja gorda, mas tenho mais carne do que ela. Sua pele é branca, olhos castanhos claros, quase da cor dos cabelos. Quando quero provocá-la a chamo de aguada.

Tinha passado apenas algumas horas, ainda estava atordoada. De tudo o que poderia acontecer comigo, encontrar com o Thomas foi mais do que surpreendente. Eu achei que nunca mais o veria. Já tinha o procurado nas redes sociais – confesso. Porém... nada. Ele quem me mostrou o sentido do amor, embora nunca o soubesse. Foi o primeiro que fez meu coração bater mais forte. Éramos muito jovens. Nunca o esqueci. Minha dúvida sempre foi: será que eu realmente o amei? Ele tinha muitos problemas e, apesar de eu não poder ajudá-lo, o deixava desabafar. Os momentos em que passamos juntos foram inesquecíveis.

— Dudaaaaaaa... Meu Deus garota, fale comigo! — Melissa praticamente gritou. As pessoas das outras baias se assustaram e voltaram suas atenções para nós.

Se trabalho em um escritório renomado, devo a minha amiga, um dia, enquanto malhávamos, Melissa olhou pra mim e disse:

"Garota, você é muito inteligente pra ficar na barra dos seus pais. Vou te arrumar um "trampo da hora."

Na época ainda morava com o Ricardo, porém nunca cortei o cordão umbilical.

— Melissa — balbuciei, com uma expressão fechada. — Está querendo chamar a atenção? — Ela pegou na minha mão e saiu me puxando para a copa.

— Pode falar — continuou.

Bufei e revirei os olhos.

— Você é quem está me devendo uma explicação — retruquei. Usei o fato de estar na copa e fui preparar um café. Talvez a cafeína clareasse as minhas ideias. Desde o momento em que eu tinha chegado, estava estagnada no mesmo projeto, sem fazer quaisquer modificações.

— Não vai me dizer que está estranha assim por causa do imbecil do seu ex noivo? Eu mato você Duda. O "cara" detonou com a sua vida — repreendeu-me e encostou-se ao balcão, de frente pra mim. Dei uma golada no café e fiquei absorta, novamente.

Eu não queria compartilhar com a minha amiga o que tinha acontecido. Nunca tinha, sequer, mencionado o Thomas a ela, aliás, a ninguém. Quando ele desapareceu da minha vida, quase morri de sofrer. Por outro lado, meus pais ficaram mais do que aliviados. Nunca o maltrataram, deixavam que eu ficasse com ele no nosso quintal e que fosse seu ombro amigo. Porém, conversavam comigo, todas às vezes que ele ia embora.

"Pequena, você sabe que o papai só quer o melhor pra você? Não sabe? Eu sei que esse rapaz tem muitos problemas e precisa de ajuda, mas, por favor, não se envolva com ele. Promete?"

Eu sempre prometia. Tinha consciência de que ele não me faria bem. Quem não concordava muito era meu coração. Contava as horas para ficar com ele. Às vezes Thomas demorava dias para me procurar e aquilo me corroía. Agora ele tinha voltado, e ao invés de me sentir indiferente, senti tudo de novo – com mais intensidade. Como vou contar isso para os meus pais? Eles não podem nem imaginar como foi que eu o reencontrei. Eu realmente não posso me abrir com ninguém.

Não Posso Ficar |DEGUSTAÇÃO|Onde histórias criam vida. Descubra agora