Na adolescência...
Os caminhos da minha vida mudaram-se drasticamente. Eu quase não via mais meu padrasto, garantindo-me um rosto sem marcas. O dinheiro que passei a ganhar me proporcionou melhores roupas e calçados, nunca mais precisei me alimentar de restos de comida – queimados. Usei minha dedicação e organização para me tornar um dos melhores no que fazia. A parte ruim é que estava cada vez mais gostando, mesmo sabendo que me destruiria.
Meu organismo pedia por drogas. Enquanto eu estava em serviço não tinha tempo de pensar na "bosta" de família que eu tinha e muito menos na "merda" que tinha me enfiado, contudo, no crepúsculo da noite, as sensações voltavam. A cocaína ajudava a me desvencilhar das lembranças.
Alguns meses se passaram, depois do dia que eu permiti que Duda fosse com seus amigos. Todos os dias, antes de ir para casa, sentava-me na esquina da casa dela e aguardava uma oportunidade de vê-la. Às vezes eu tinha sorte de ela sair para colocar o lixo na lixeira. Escondia-me e a admirava. Tinha medo de me aproximar, eu seria um veneno a ela. Sem contar que na maioria das vezes eu estava fora de mim. Viajando para um lugar inexistente da minha mente.
— E aí cara, preparado? — indagou Cristiano, me cutucando com o ombro.
Estreitei os olhos para ele e busquei a razão. Tinha acabado de cheirar uma fileira, estava atordoado. Do que ele está falando? Ainda sóbrio, vendo que eu não havia entendido, prosseguiu:
— A festa dos bacanas, acorda "cara". Falei para você não cheirar essa "porra" hoje — repreendeu-me, empurrando meu corpo. Deixei o corpo cair no colchão do chão e coloquei o braço nos olhos. Queria curtir a sensação da farinha no meu organismo. Era o meu momento. Não respondi. — Thomas — bradou. — Levanta "caralho"! O patrão está contanto com você "meu".
— Um minuto — balbuciei. Não seria apenas um minuto, mas eu precisava que ele saísse e me deixasse. Funcionou.
Aos poucos fui recuperando a razão e me lembrando de que não poderia ficar de tocaia para ver a Duda. Era o dia de lavarmos a égua. O patrão tinha conseguido convites para nos infiltrarmos em uma festa de bacanas. Uma faculdade de medicina que promoveria. Eles contavam com minha lábia. Eu era muito bom no que fazia. Enquanto a maioria dos aviõezinhos corria da polícia, eu já estava quase no estágio de mula, sem nunca ter levantado suspeita.
Passei a me vestir bem e manter meu sorriso. Não era difícil trazer a pessoa para o meu lado. Determinei os horários que eu me drogaria – sem que atrapalhasse meu trabalho – mantinha minha cabeça no lugar. Minha personalidade ajudava também, nunca comprei briga e evitava, a todo custo, me envolver em problemas. Meu discurso estava pronto, caso eu fosse pego. Diria que era apenas usuário. Tinha a questão de ser menor de idade, o que me favorecia. Meu poder de persuasão os convenceria, contava com isso.
***
Analisei o ambiente externo, de onde ocorreria a festa, me certificando das saídas de emergência. A operação seria grande, o patrão tinha selecionado os melhores para participar. Eu era uma exceção aos demais, todos eram maiores de idade. Como eu desempenhava um ótimo papel, fui selecionado. Reunimo-nos, antes de sair, definindo qual o papel de cada um. Os olheiros nos avisariam, se alguma pessoa suspeita se aproximasse.
Acenamos de longe, sem chamar a atenção dos seguranças e – sem dificuldade – estávamos infiltrados. Era uma festa open bar, contudo, eu não poderia exagerar – estar sóbrio era a minha arma. Tomaria muita água. Fingiria estar no clima da meninada, para ganhar a confiança deles.
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Não Posso Ficar |DEGUSTAÇÃO|
Любовные романыThomas, um homem gentil e carismático, daqueles que não tem quem não se apaixone. Fruto de violência doméstica. Entrou para o mundo das drogas, onde viveu por vários anos. Um acontecimento o trouxe de volta... Com ajuda dos seus amigos, conseguiu es...