Capítulo 01 - Meu Suporte

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Os dias são como borrões para mim. Por mais que eu lute, estou sempre começando de novo. A vida é um desafio para todos, contudo, tenho absoluta certeza de que ela escolhe algumas pessoas para tornar o desafio ainda maior. Uma delas sou eu.

Tenho trabalhado dias a fio, sem folga. Não faço mais do que pagar contas. Quando penso que estou quitando-as, surge um problema e sou obrigado a pegar outro empréstimo. Meu cartão de crédito esqueceu-se do dia que foi liquidado integralmente. Só o que eu pago de juros, daria para quitar boa parte das minhas dívidas.

— Thomas — gritou Alexia, do outro lado do estúdio. Voltei minha atenção a ela e aguardei que se aproximasse. — O cliente pediu para fazermos as fotos em uma área externa — comunicou ofegante. Parou um pouco para tomar fôlego. — Desculpe-me, eu sei que você preparou tudo, mas... — Estreitou os lábios e entortou o nariz.

Fechei os olhos e cocei a nuca. E começa o meu dia!

— Ok! — respondi e fui juntando minhas ferramentas de trabalho. Peguei minha máquina fotográfica e a pendurei no pescoço. Dobrei o tripé e o coloquei dentro da bolsa. Antes que eu continuasse, Alexia colocou a mão em meu ombro.

— Está tudo bem? — perguntou com a voz baixa. Assenti e prossegui com o trabalho. — Fala comigo, o que aconteceu? Algum problema com a Julia?

Parei e a encarei, analisando se queria conversar sobre os meus problemas.

— Agradeço sua preocupação, mas... — Respirei fundo. — Está tudo como sempre. — Sorri sem vontade. — Vamos lá? Pode me ajudar a desmontar este cenário?

— Claro, estou aqui pra isso.

Minha agenda de clientes está repleta. Escolhi uma profissão que me dá uma gama de opções – ótimas. Tenho trabalho todos os dias. Dou o meu melhor, garantindo boas indicações. Ser fotógrafo não é uma tarefa fácil, porém não cesso de agradecer pela oportunidade. Não tive uma base estruturada em vários aspectos: familiar, financeiro, educacional, amoroso, etc. Fui obrigado a abraçar a primeira oportunidade que a vida me proporcionou: a fotografia. Dizem que devemos seguir nossos sonhos. Fazer o que gostamos. E quando não temos opções? Não acredito em nenhuma dessas frases motivacionais. Devemos gostar do que fazemos e não fazer o que gostamos. Essas pessoas que ficam querendo nos motivar, deveriam analisar, com cuidado, a definição da palavra motivação: motivo para agir. Nem sempre o motivo é uma escolha, ou melhor, na maioria das vezes não. O meu sempre foi a sobrevivência.

— Pode virar de perfil, por favor? — Mudei a modelo e ajeitei o seu queixo. — Fique com o queixo erguido e mantenha sua mão na cintura — pedi e voltei para a câmera. — Alexia — chamei minha assistente.

— Oi Thomas. — De prontidão estava ao meu lado.

Alexia é a assistente que o estúdio me disponibiliza nos dias em que eu atendo os clientes, da agência deles. Meus maiores trabalhos são com o estúdio. O tempo em que passamos juntos nos fez ficar íntimos. Deixamos de lado as formalidades. Seu jeitão largado, quase de macho, me deixa mais à vontade, com ela. Tem um estilo bem singular. Cabelos raspados do lado direito com um topete tingido de vermelho. Piercings nas sobrancelhas e as roupas sempre maiores do que ela. Bermudas e camisetões são sua preferência. A quantidade de tatuagem em seu corpo, quase esconde a cor real da sua pele.

— Norteia melhor a modelo, algo está a distraindo. Preciso ficar parando para orientá-la — solicitei enquanto ajeitava o foco da câmera.

— Você é quem distrai as modelos, Thomas. Dá pra ser menos gentil? Elas ficam babando — sussurrou ao meu ouvido, com uma voz divertida.

Não Posso Ficar |DEGUSTAÇÃO|Onde histórias criam vida. Descubra agora