11 | Marcas

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Changkyun estava terminando de preparar o chá para ele e Kihyun, que estava no banho. Yoo sempre demorava para lavar-se, talvez tivesse crises existenciais quando a água quente atingia sua pele.
Da fresta da porta, Changkyun pôde ter uma visão do corpo esguio de Kihyun, o qual tinha muita vergonha. Ele havia acabado de se enrolar na toalha e abriu a porta, dando de cara com um Changkyun o observando.

— O chá vai transbordar — disse Kihyun, apontando para o líquido que quase enchia a xícara. Changkyun limpo a garganta e pousou o bule na bancada.

Ao que Kihyun andava pelo hall para ir para o quarto, Lim — a todo momento — examinou as múltiplas marcas em suas costas. Talvez fossem de nascença, ou as adquiriu com o tempo. Mas eram tantas, que ele duvidava da primeira opção.
Quando o menor terminou de se arrumar, voltou para a cozinha, sentou-se e Changkyun o entregou a xícara. Não conseguiu controlar a curiosidade e o pesar em seus olhos:

— Kihyun — Changkyun o olhou — que marcas são essas?

Kihyun contorceu os lábios. Fixou seu olhar no líquido e em seu vapor, até que tomou coragem e disse:

— Fui esfaqueado — o coração de Changkyun apertou — faz muito tempo, nove anos, talvez.

— Q-Quem fez isso com você? Por quê nunca me disse nada?

— Você só perguntou agora, Chang.

Lim se sentiu culpado. Culpado por não ter conhecido Kihyun há nove anos, e sim apenas três. Devia o tê-lo protegido.

— Conseguiu mais alguma coisa com as fotos?

— Fotos?

— Sim, Chang. Das vítimas de Jack. Você pediu para dar uma olhada, lembra?

Lim entreabriu os lábios. Ainda estava desconcertado. Seu melhor amigo fora esfaqueado. Ele queria voltar no tempoce esfaquear que fez aquela crueldade com Kihyun.

— Chang, você está bem?

— Estou.

Changkyun se levantou e pegou sua xícara, ainda preenchida pela metade, e a pôs na pia. Apoiou os braços no granito e abaixou a cabeça.

— Quem esfaqueou você, Kihyun?

Yoo engoliu em seco. Não se lembrava do rosto, nem da silhueta. Estava escuro aquela noite. Mas ele se lembrava da voz.

— Temos mesmo que falar disso? — Kihyun tentou mudar de assunto — devemos nos preocupar com Jack. Aposto que Jooheon já deve ter encontrado algo, e...

— Eu vou te proteger — murmurou Changkyun.

Kihyun nada disse, apenas assentiu.

"Cheshire, nove anos atrás.

Kihyun havia acabado de sair do curso. Acabava sempre pela noite, e sua manhã sempre reclamava da hora que chegava. E dessa vez não seria diferente.
Ela reclamaria em dobro.
Kihyun corria pela rua tijolada, vasta e deserta, com medo de que alguém aparecesse. A região havia se tornado perigosa depois que abriu-se um bordel ali, e muitas mulheres morriam por não quererem transar com o homem.
Mesmo que ninguém fosse matar Kihyun, ele tinha medo.
Ele não só tinha medo, como devia o ter.

— Ei, garoto — uma voz rouca e imponente o impediu de andar. Em seguida, o corpo maior o barrou. Kihyun não conseguiu enxergar a feição, e mesmo se conseguisse, não faria tanta diferença — você trabalha naquele bordel?

— N-Não — tentou desviar do homem, porém seu pulso foi segurado.

— Não quer ganhar uma grana extra? — brincou. Kihyun puxou seu pulso da mão grossa daquele homem e tentou apertar o passo — eu ainda estou falando com você, criança.

Kihyun foi puxado novamente, e dessa vez, seu corpo colidiu com o chão. Yoo rastejou pelos tijolos e teve seu corpo virado de costas. Ele seria estuprado? Queria debater-se, entrar em prantos.
Mas a única coisa que entrou, eram facadas em suas costas.
Kihyun gritava, mas pelo horário, todos pareciam dormir — ou não se importavam em mais uma "prostituta" morrer.
O homem gritava coisas sem nexo, e essas falas se misturavam com o desespero de Kihyun.
Quando pensou que fosse morrer, Kihyun soltou um suspiro. Alívio.
O agressor afastou-se ao ouvir murmúrios atrás de si e riu, caminhando até os outros dois.
Pensando que havia sido deixado para morrer, e sem socorro, eis que uma silhueta apareceu: uma das bibliotecárias chamou a ambulância e o levou para o hospital. Mais tarde naquela noite, descobriu que o nome da garota era Rin."

[ 🔎 .*+ ]

tadinho do kiki :c

WITNESS 「 Joohyuk 」Onde histórias criam vida. Descubra agora