Capítulo 6

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A história de Charlie Bucket é conhecida por todos. Ele era um garotinho de bom coração que morava num casebre junto com os pais e os quatro avós que viviam enfiados em uma cama. No inverno, a casa era muito fria e no verão muito quente.

Quando ia para a escola, era reconhecido como o menino que só comia uma barra Wonka por ano. E quando foi lançados os cinco bilhetes dourados, a sala zombou ao saber que ele só tinha uma chance e ainda confiava que seria um dos vencedores.

Mas ele fora sortudo. Não por encontrar dinheiro na neve, nem por ter achado o bilhete dourado e muito menos por ter herdado a fábrica. Ele era sortudo por ter Willy Wonka em sua vida, por poder ser criativo e se sentir importante.


Brinde


- É um reencontro belo, mas temos assuntos para tratar, Wonka.

A voz de Arthur estava inalterada, mas seu corpo flamejava um desejo intenso de ter mais do que a fábrica Wonka. Ele queria o criador, aquele abraço acolhedor que um pirralho recebia, as roupas que desnudaram um chocolateiro e aqueceram o pupilo. Ele queria ver o corpo pálido de Willy tremendo a sua frente, saborear a vergonha antes de saciar a fome que dominaria sua alma ao ter aquele ser como seu objeto.

Willy apertou um pouco mais o pupilo. Sabia que Arthur e os dois capangas estavam observando-o, que seu rosto estava manchado pelas lágrimas que derrubara e seu nariz estaria vermelho. Também sabia que Charlie, mesmo machucado, mesmo congelado, ainda estaria muito preocupado com o tutor, só não perguntou nada por não ter forças.

Será que o tinham alimentado? O garoto ficou sumido por, no mínimo, vinte e quatro horas e a polícia deveria ter sido avisada, mas o medo não permitiu que isto fosse feito. Não, pelo menos, ainda.

O chocolateiro soltou o pupilo, levantando-se em seguida e impedindo que ele visse seu rosto ao virar as costas ao garoto, agora homem, que lhe salvara da solidão em que antes estava. Arthur, por outro lado, finalmente havia conseguido sua vitória, bem como pôde contemplar o rosto destruído de Willy Wonka. A mistura de medo, preocupação e asco quebravam todo o jeito excêntrico e infantil que ele tendida a ter.

- Não temos nada para ser tratado, Slugworth. – Rosnou o chocolateiro gênio.

- Ah, não pense que estou aqui apenas para entregar um objeto perdido.

A agilidade de Fickelgruber não estava apenas em seu corpo e como poderia nocautear um bêbado com apenas um golpe, mas em prever quando seu chefe estava provocando uma guerra desnecessária. Arthur já era um vencedor, já teria a fábrica. Vendo Willy Wonka abraçar seu herdeiro a vitória ficara clara como um rio límpido ou como a neve que cai no interior do país. Mas, quando um chocolateiro encarou o outro, Fickelgruber soube que Arthur já não queria apenas a fábrica e sim alguma outra coisa que não seria entregue sem luta.

Willy Wonka avançou contra Slugworth como um touro ensandecido lutando por sua vida em uma cruel rodada de tourada. O atacado não se mexeu, pois sabia que não seria atingido.

Prodnose demorou três segundos para entender que seu chefe era atacado, contudo ele não fora escolhido por ser ágil, mas sim cego. A proteção era Fickelgruber e ele fez jus ao cargo que tinha, uma vez que conseguira segurar Wonka abraçando-o por trás.

- Não ouse ofender Charlie! – Berrou o atacante, agora, imobilizado.

Arthur sorriu com o característico escarnio de seus pensamentos. De seu bolso interno, puxou um charuto, acendeu-o sabendo que a chama de raiva de Willy continuaria acesa. Precisava fazer aquele homem uma pilha de nervos vencida, desgastada e estava conseguindo. Tragando longamente, Slugworth permitiu-se pensar nas palavras que diria e soltando uma fumaça pesada, soltou-as:

Charlie sumiuOnde histórias criam vida. Descubra agora