Capítulo 9

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Munido de uma mochila verde recheada de repelente, um facão reluzente e seu conjuntinho caqui, Willy encarou a mata quase inexplorada que ficava esquecida em algum ponto do mapa africano comprado no aeroporto da cidade mais próxima. Estava há três dias fora da fábrica e há cinco tinha fechado as portas para sempre.

O chocolateiro segurava o facão com força, suas luvas negras rangiam pela força do medo. A porta da floresta rosnava o característico som dos animais que lhe construía, denunciava os perigos e descobertas que um aventureiro poderia ter contato caso fosse merecedor de tal conhecimento.

Tomando uma pílula mental de coragem, Willy Wonka mergulhou na sua mais nova aventura, pois mesmo de fábrica fechada, a mente ainda inventava.


Crie


De paredes forradas com papel de parede vinho, madeira de carvalho compondo os móveis e a lareira para aquecer todo o ambiente, o quarto de Willy Wonka encanta com sua forma acolhedora e materna. Não seria um lugar para se perder o dia, podia ser sufocante, mas carregava o cheiro do chocolateiro, o amendoim que vovó Georgina tanto gostava, e a mesma sensação de ser abraçado por alguém amado.

Arthur sabia que a sensação de ser abraçado era algo que Willy amava, mas não sentia com frequência. Sabia que a senhora Wonka morrera muito cedo, que o senhor Wonka era um dentista renomado e cruel, sabia que Willy era um solitário e acreditava que por isto ele era tão dependente de seu herdeiro. Achara alguém que podia compartilhar suas ideias mais loucas e ainda assim saber que seria barrado caso exagerasse.

Naquela hora, a lareira desligada permitia que o frio do inverno escorregasse para dentro do aposento, quase apagando o cheiro do dono para que seu próprio perfume perdurasse. As cortinas fechadas não deixavam que qualquer luz externa entrasse e a sensação de que aquele lugar era pequeno e abafado se prolongava.

- Acenda a lareira, sim? - Pediu o vilão.

Wonka obedeceu sem resmungar ou se opor. Era acostumado a fazer aquela tarefa, uma vez que detestava que as pessoas entrassem em quarto sem aviso prévio. A lareira acendeu rapidamente, ignorando a umidade do inverno e a presença do inimigo, iluminou o quarto antes mesmo de deixar que o cheiro suave de sua madeira escorregasse pelos ares.

Durante esse rápido momento, Arthur removeu suas luvas, raspou o dedo na mobília mais próxima, aspirou a sensação de ter Wonka como seu. O nome era seu, o dono do nome era seu e até mesmo o herdeiro era, mesmo que ninguém tivesse percebido ou aceitado ainda. Aquele móvel era seu, aquele ambiente e até mesmo que estava trancado ao lado.

- Belo aposento, meu querido.

Agachado em frente à lareira, o chocolateiro ignorava seu algoz. O quarto de seu pupilo estava trancado e em breve Slugworth saberia que Charlie havia, de certo modo, escapado.

Enquanto a lenha cantarolava sua agonia, Willy começava a repensar seus planos, temendo que a ira de Arthur pudesse achar a entrada para as profundezas da fábrica. Se isto acontecesse, então tudo estaria perdido e o mundo nunca mais escutaria nada sobre Willy Wonka.


W.W.


Quando se pensava em Arthur Slugworth, a primeira coisa que os chocolateiros lembravam era de Willy Wonka. No mundo privado de um ramo amado pelas crianças, era de conhecimento geral que Slugworth desejava Wonka, o que gerou um mar de perseguições e a beleza de uma tourada. Arthur tentava de tudo, analisava cada microinvenção de Willy e só descobria seus segredos quando era tarde demais.

Charlie sumiuOnde histórias criam vida. Descubra agora