Capítulo 5

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A campainha soou forte, mas mesmo esperando por isto, as pernas de Willy Wonka não se mexeram até o segundo toque, quando ele liberou o primeiro portão, fechou-o e esperou que a porta principal anunciasse o clímax.

Arrependimento

Fora, a neve derretia sob as pegadas dos pedestres, a rua fora limpa horas antes e os carros conseguiam seguir viagem com mais tranquilidade do que antes do raiar do sol. O carro em que Arthur Slugworth estava mantinha-se bem frio, fazendo Prodnose espirrar, Charlie enfraquecer, Fickelgruber repensar seu "emprego" enquanto Arthur sorria animado por sua futura conquista.

Prodnose parou o carro em frente a campainha do portão principal da Wonka's Candy Company, gemeu enquanto abaixava o vidro do carro para apertar a campainha. Esperaram um minuto até apertarem novamente e serem recebidos pelos rangidos dos portões que abriam como se não quisessem fazê-lo.

O carro entrou lentamente, pois ali a neve não fora limpa e já derretia contra os raios de sol, tornando-se apenas gelo. Prodnose não estacionou corretamente, apenas seguiu reto, parando em frente às escadas que antecediam a entrada principal.

Arthur desceu do carro com lentidão. Queria experimentar aquela conquista que demorara anos para acontecer, a sentir derretendo em seus lábios, tomando sua língua, saciando a fome que corroía incessantemente. Subiu os degraus de olhos cravados na porta de madeira enorme, bateu os nós dos dedos esquerdos sobre a madeira e aguardou.

Conseguia, apesar da grossa madeira, ver Willy do outro lado. Escutar as luvas de borracha do chocolateiro rangendo contra a maçaneta, a respiração batendo desesperada na superfície lustrada e voltando para acariciar o rosto dele. Ainda assim, acompanhando todos os receios de Willy Wonka, Arthur aguardou por um tempo incalculável, quebrado apenas pelo anuncio de Fickelgruber:

- O menino está congelando.

Fickelgruber removera o próprio casaco e colocou sobre os ombros de Charlie. O calor do corpo magro era reconfortante, mesmo que viesse de um de seus vilões ou que seus pés estivessem quase congelados.

Arthur sussurrou contra a porta.

- Escutou, Willy? Seu amado pupilo está congelando por culpa de seu medo.

Willy sentia medo. Medo de abrir a porta e perder tudo. Seus dedos doíam contra a maçaneta, mas o corpo ainda não achara a força para escancarar aquela grossa madeira e deixar que seus vilões entrassem em sua alma.

Por anos, a única coisa que Willy teve fora aquela fábrica e os Umpa Lumpas. Agora, se perdesse a fábrica, os Umpa Lumpas perderiam seu refúgio e segurança e seria tudo sua culpa.

Seu amado pupilo está congelando...

O braço de Willy escancarou a porta. Estava de frente para Arthur e para os capangas que não esperaram ser convidados para entrar antes de cruzar a porta principal e oficialmente estar dentro da fantástica fábrica de chocolates que Willy Wonka havia criado anos antes.

Fickegruber arrastou o jovem Bucket para dentro da fábrica, deixando-o logo após pisarem no chão aquecido e sem neve. Charlie olhou Willy, que já o observava desde que abrira a porta para seus algozes, e sentiu que o mundo poderia apagar naquele momento, pois estava seguro.

Antes que seu pupilo caísse, Willy soltou a bengala de doce para agarrar o pupilo e cair de joelhos contra o chão sem permitir que seu pupilo sofresse mais do que já havia sofrido.

O rosto de Charlie estava maculado, os pés estavam azulados e a única proteção contra o frio era o puído casado que pertencia a um dos homens que havia conseguido roubar as receitas de Willy.

"Dóris!" Willy pensou em gritar, mas lembrou-se do que estava acontecendo naquele momento e de que estava sozinho, tendo que ser o adulto responsável que nunca fora.

- Ah, está um dia bem frio, não é mesmo? – Questionou Arthur.

Apesar de gostar do inverno, o frio estava começando a incomodá-lo e por isto fechou a porta de madeira que Willy Wonka havia escancarado em um convite silencioso para que entrassem.

Wonka não escutou a chacota de seu nêmeses. Ele havia arrancado o casado de Fickelgruber e jogado-o longe, depois, arrancou os próprios sapatos e as próprias meias, colocando-as em Charlie, que gemeu com o prazer do calor protetor que Willy tinha. Wonka ainda arrancou o próprio casaco e suéter, colocando as vestimentas no mais novo, as luvas roxas protegeram as mãos de dedos esqueléticos do mais novo e ficaram um tanto frouxas. Willy terminou de vestir o pupilo e resignou-se a apenas abraçar lhe enquanto sussurrava inúmeros pedidos de desculpas.

"Desculpe te colocar nesta situação", "perdoe não estar em seu lugar", "se eu não tivesse feito aquele concurso idiota...", "se eu não tivesse recusado o convite de Arthur...". Desculpe-me... Se eu não... Perdoe-me...

Charlie não havia perdido a consciência, nem se livrado da dor que o frio se torna após o calor surgir, mas tudo isto se apagou quando sua bochecha acolheu gotas aquecidas de lágrimas que escorriam com arrependimento. Ele queria dizer que a culpa não era e nunca seria de Willy Wonka, mas suas forças não surgiam.

Era a primeira vez, em toda a sua vida, que Arthur Slugworth via Willy Wonka sem suas costumeiras roupas. O chocolateiro nunca lhe pareceu tão nu, desprotegido e belo. Em Arthur surgiu a consciência de que estava, verdadeiramente, ganhando. Mesmo que isto fosse apenas uma ilusão.

Charlie sumiuOnde histórias criam vida. Descubra agora