Capítulo 7

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Poucos dias depois de Willy comprar a lojinha de esquina a qual fez suas primeiras criações mais famosas, o antigo dono lhe fez uma visita. A lojinha receberia a placa com o novo nome no dia seguinte e estava fechada há dois dias para que os funcionários aprendessem mais sobre o leque de produtos que seriam vendidos.

O senhor, que não tinha filhos e que ficara viúvo três anos antes de contratar Willy, bateu à porta da lojinha entrando em seguida. Ele já conhecia Willy tempo o bastante para saber que o garoto trabalhava mais tempo do que descansava, por isto fora presenteado com um suave cheiro adocicado e porções generosas de docinhos malucos já servidos nas prateleiras e expositores.

- É incrível como a felicidade é combustível para a criatividade, não é? - Willy questionou ao recém-chegado.

O senhor riu com rouquidão.

- Para um gênio, tudo é combustível.

O chocolateiro terminou de ajeitar um docinho e então ergueu a cabeça para conversar com seu velho líder. Devia muito ao senhorzinho que acreditou nele, mesmo que na época tudo o que carregasse no bolso fosse um documento, três notas de dinheiro, uma receita que anotou numa caminhada pela praça do bairro e muita loucura na cachola.

- Virá nos ver amanhã?

- Não perderei por nada, meu querido Willy.

O chocolateiro se sentiu criança e sorriu animado.

- Tenho um doce que fiz pensando em você, mas só lhe darei amanhã e só o venderei depois de que você o aprovar.

Rindo como um Papai Noel, o senhor agradeceu e informou que não precisava de tanto. Então, dizendo que precisava ir e que só passou para desejar sorte, o velho entregou a Willy uma caixa aveludada, retangular e roxa.

- Para sempre lhe proteger.

Ele partiu após Willy se hipnotizar com a gargantilha que brilhava dentro da caixinha. Os olhos castanhos do chocolateiro perder-se-iam naquele objeto inúmeras vezes, admirando suas curvas, seu brilho eterno, a delicadeza única e exclusiva dos detalhes feitos com carinho; mas nunca mais poderiam se perder no rosto bondoso do homem que lhe confiou o sucesso. Willy Wonka nunca mais sairia sem sua gargantilha, mas o custo se daria por nunca mais ver o senhorzinho que faleceria naquela noite, após o coração cansar-se bater por uma vez mais.


William


Willy terminou de arrumar a barra da manga de sua camisa de botões. A fábrica era quente, mas seu corpo se acostumara com a temperatura constante e por isso sempre usava camisas sem suar. O casaco e a gargantilha ficaram com o herdeiro e só de pensar que Charlie já deveria estar seguro, fez com que o coração disparado do chocolateiro amenizasse a batida.

Ao chegar à ala de recepção, teve o choque de vê-la vazia. Já imaginava que Arthur não estaria ali, mas quis comprovar e ainda assim sentiu-se estranho de vê-la daquela forma. Depois, seguiu para a ala de criações, lugar que todos os seus concorrentes queriam estar, mas que não encontrariam receita alguma.

Pouco antes de chegar à ala, Willy viu Arthur e seus dois capangas conversando durante a caminhada até sua direção. Os olhos castanhos de Willy contraíram as pupilas desgostosos com a imagem que viam, as pálpebras semicerraram-se com uma raiva que não podia ser controlada e até os punhos, recobertos com as luvas que Charlie usou momentos antes, se fecharam.

Charlie sumiuOnde histórias criam vida. Descubra agora