Epilogo

53 3 9
                                    


Sempre com você

- Você alguma vez imaginou que este menino guloso poderia ser tão bom com as palavras?

Os dedos de Willy dobraram, pela quarta vez, o pedaço de crítica que havia retirado do jornal diário. Ele nunca imaginaria que aquele menino guloso, que caiu em seu rio de chocolate e parou a produção por um mês, fosse se tornar um homem tão bom com as palavras.

Mas, no fundo, Willy só não tivera tempo para ver como as cinco crianças tinham ficado após a visita. Já tinha se passado quase doze anos. Charlie estava concluindo a faculdade, a parceria deles já tinha completado tantos aniversários que arrumar presente de comemoração estava cada vez mais difícil. E quem poderia dizer que um dia aquela fábrica viveu sem a presença do garoto?

Charlie gemeu em resposta. Se sentia cansado e nada no mundo lhe parecia mais prazeroso do que ficar deitado sobre uma grande toalha de piquenique nas margens do rio de chocolate. Ah, como ele amava deitar ali, com o cheirinho suave de hortelã escapando do gramado recém cortado pelos Umpa Lumpas. O som da cachoeira ao fundo, o silêncio. Gostava de saber que Willy estava por perto, que bastava esticar a mão e tocaria no amigo e tutor.

E era isto que Charlie gostava. Gostava de estar com as pessoas que ama e que vê como sua família.

- Eu jurava que ele só sabia comer.

- Willy, por que você só não deita e aproveita o silêncio?

Horas antes, menos de 24 horas, a porta da fábrica estava entupida de jornalistas e pessoas da cidade e de todo o mundo. Com todas as pessoas partindo o silêncio reinava e sem a presença de vilões a paz se fazia dentro da fábrica. Tudo parecia em perfeita harmonia.

Willy deitou-se ao lado do herdeiro. Ficou dois minutos e então se reergueu. O barulho do papel desdobrando surgiu.

- Willy! - Rosnou Charlie.

- Desculpe, estrelinha, mas não consigo evitar.

O herdeiro respirou fundo e se ergueu.

- Diga. - Ele deu a deixa, mas o chocolateiro pareceu não entender. - Você está incomodado com algo. Do jeito que sempre fica quando quer me falar algo e não sabe por onde começar.

Willy dobrou, mais uma vez, a carta de Augustos Gloop, aquela que ele publicou no jornal matinal.

- Nada disto teria acontecendo se eu tivesse lhe falado sobre Arthur.

A voz de Willy estava amuada. A vergonha que sentia e o arrependimento arrancavam qualquer energia que o chocolateiro pudesse ter naquele momento.

- Aquela lesma sem valor nunca teria conseguido dar o bote se...

- Se eu não fosse tolo e tivesse percebido o obvio. - Cortou Charlie.

O jeito assustado com que os olhos de Willy observaram o Bucket denunciava que ele nunca pensou em dividir a culpa. Mas era verdade, a soma da inocência com o a falta de compartilhamento do passado foi o bastante para que toda aquela aventura acontecesse.

- Willy, se você for se culpar por algo, se culpe por nunca ter me contado das profundezas da fábrica. - O sorriso de Charlie era o bastante para iluminar o dia de Willy. - Pois eu nunca imaginei que ela fosse tão grande.

O chocolateiro riu de forma leve e descontraída, sentindo toda a tensão escorrer pelas costas e deixar o corpo. Ele voltou a sentir o suave cheiro de menta da grama, o som gostoso do chocolate sendo mexido e remexido pela cachoeira, a suavidade do correr do líquido.

Charlie sumiuOnde histórias criam vida. Descubra agora