Capítulo 1: Long before we both thought the same thing

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ALFONSO

Eu me lembro com clareza da primeira vez que a vi: Era junho, um pouco antes das férias de verão, ela estava no parquinho da escola, mais precisamente no balançador e usava um vestido azul de gola branca... o azul do vestido ressaltava perfeitamente a cor dos seus olhos, mas imagino que não tinha sido essa sua intenção. Annie sorriu e acenou pra mim, antes de se aproximar e pedir que eu a balançasse. Suas pernas eram curtas demais pra tocar o chão e pegar impulso e ela afirmou que não tinha amigos. Eu não podia entender como justo ela podia dizer que não tinha nenhum amigo, mas preferi me calar. Foi então, que ela me ganhou com uma pergunta:

— Você quer ser meu amigo?

Eu sorri encabulado. A garota de grandes olhos azuis sabia ser direta.

— Claro... – murmurei, com as mãos no bolso.

— Então, a partir de hoje, você é meu melhor amigo! – respondeu, rindo tanto que chegava a mostrar as gengivas e me ofereceu um pedaço de sua barra de chocolate.

Eu não percebi naquele momento, mas aquele gesto bobo significava muito. Annie é doida por chocolate, daquelas pessoas autointituladas chocólatras mesmo, que preferem ter que arrancar todos os dentes a dividir um mísero bombom com alguém. Nossa amizade começou assim... com um balançador e um pedaço de chocolate. Nunca ninguém tinha sido tão legal logo de cara assim comigo e eu até acho que me apeguei tanto a Annie, porque ela foi a primeira pessoa que me tratou de maneira especial, porque foi minha primeira amiga... mas então paro pra refletir e chego à conclusão de que mesmo se nos conhecêssemos depois, em outras circunstâncias, ainda assim seríamos amigos.

Annie mudou muito quando entramos na adolescência... certas vezes, parecia que não tínhamos mais nada em comum e não conseguia entender porque ela ainda me queria por perto. No final, nossa amizade sempre acabava prevalecendo... mas esse é um assunto para outro momento.

Eu não sou um cara muito religioso. Várias tentativas da minha mãe de me fazer frequentar a igreja foram mal sucedidas, também não sou de acreditar com facilidade nas coisas. Annie diz que sou muito racional e que tenho gelo no lugar do coração... mas se eu me deixasse pensar como ela pensa, diria que o destino parecia trabalhar pra nos manter unidos. Só isso podia explicar a coincidência que foi descobrir que a menina simpática que me oferecera chocolate no parquinho da escola era minha... vizinha! Pois é... eu não estava nada feliz por ter que me mudar de Nova Iorque para Greenville, no Colorado. Por quê? Bom, entre os muitos motivos, no alto dos meus seis aninhos de idade, a pequena cidade perto de Telluride me parecia uma sentença de morte. Nenhuma das redes de fast food com as quais eu estava acostumado ficava a menos de duas horas de distância... ou seja, nada de frango frito da Kentucky no jantar, nada de assistir os jogos dos Yankees no estádio com o meu pai... e pra piorar, pra todo o lugar que eu olhava eu via mato. Mato, montanhas e lagos e uma vizinhança que chegava a dar náuseas de tão acolhedora.

Eu não queria nada daquilo, queria voltar pra Nova Iorque, mas sabia que isso não aconteceria tão cedo. Minha mãe tinha me convencido de que precisávamos daquela mudança. Uma mudança de "ares", como ela chamou. Meu pai estava passando por alguns problemas dos quais eu não fazia ideia na época. Seu psicólogo recomendou que ele fugisse da cidade grande e uma transferência no trabalho foi tudo o que precisava.

Voltando a Annie e a forma inusitada em que ela entrou na minha vida...

Eu estava tirando meus brinquedos das caixas quando a campainha tocou. Eu não sabia ainda, mas quem estava em frente a minha nova casa, era Annie e sua mãe, Tisha. Elas traziam uma torta de maçã a canela para dar boas vindas aos novos vizinhos, como é de costume nas cidades pequenas. Minha mãe gritou pra que eu descesse e eu estaquei no topo da escada, olhando como um pateta a garota – que pra minha versão mirim – era a mais linda que eu já tinha visto. Ela trajava um vestido vermelho dessa vez e tinha um laço de fita preto no topo dos cabelos castanhos claros, além de uma franjinha que caía sobre seus olhos. Eu devo ter ficado alguns minutos a encarando, porque ela começou a rir... só que não era bem isso... na verdade, ela reparou que eu estava usando uma meia diferente em cada pé e não conseguiu segurar a gargalhada. Até hoje, ela me provoca sobre isso...

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