A à Z (Série Coda - 2)

I - Novo Locador

Zach...

Eu tenho uma locadora de vídeo, mas eu odeio filmes. Eu sei. É completamente ridículo. Isto simplesmente aconteceu. Acho que começou depois da faculdade.

Fui para a Universidade do Colorado. Meus pais queriam que eu fosse para Colorado State, em Fort Collins onde eles tinham amigos no corpo docente, mas eu insisti na UC. Argumentei que era uma instituição melhor, mas esse não foi o motivo real. UCS seria para estudar; UC foi para festejar. Em retrospectiva, foi uma bela de uma merda que fiz aos meus pais.

Passei todos os cinco anos ou bêbado ou chapado, ou ambos. Eu mal consegui me formar com um diploma em Gestão de Negócios. Acho que o meu percentual de rendimento foi algo em torno de dois. É claro que eu fiz mais do que apenas ficar bêbado e chapado. Eu também fazia muito sexo.

No meu último ano namorei Jonathan, e após a graduação, eu fui morar com ele em Arvada, um subúrbio no lado oeste de Denver. Ele era um contabilista. Eu era um vagabundo. Trabalhei na locadora de filmes descendo a rua e continuei a gastar meu tempo bêbado e alto e às vezes tendo relações sexuais com Jonathan. Até o dia em que cheguei na casa e ele não estava. Tinha partido para sempre.

No lado positivo, esse foi o meu despertar depois que consegui me recuperar, a maior parte, pelo menos. Mas eu nunca tive outro apartamento ou outro emprego. E quando o meu chefe, o Sr. Murray, decidiu se aposentar, tirei um empréstimo e comprei a locadora de vídeo. Parecia uma boa ideia no momento.

Então agora estou aqui: 34 anos, solteiro, e o dono não tão orgulhoso de uma locadora,
A à Z Vídeos. Eu mencionei que eu odeio filmes?

***

Final da primavera no Colorado, e o tempo estava o estereótipo perfeito: ensolarado, com a temperatura oscilando em torno de vinte e sete graus.

Eu tinha finalmente ligado o ar condicionado na loja. A à Z Vídeo ocupava uma das quatro vagas no prédio. Três dos pontos  abaixo - minha loja no centro, ladeada por uma livraria holística e uma Head Shop*. Entre os dois, minha loja sempre cheirava a incenso de sândalo.

O andar de cima inteiro foi tomado por um estúdio de artes marciais, de propriedade da Nero Sensei. Eu não tinha certeza se Nero era o seu nome ou sobrenome, mas nós apenas o chamamos Sensei. Hoje, o estacionamento em frente do nosso prédio estava cheio de estudantes de artes marciais, todos vestindo os pijamas brancos tão favoráveis, fazendo algum tipo de formas em uníssono e suando suas bundas.

Era uma tarde de sexta-feira, e eu tinha um cliente. Ele tinha estado várias vezes ultimamente. Ele era magro, de pele morena e cabelo preto pendurado em seu rosto, e parecia que ele quase não tinha de fazer a barba. Eu não sou bom em etnia. Talvez Latino, talvez não. Ele estava caminhando ao longo das prateleiras, olhando para os filmes.

Às vezes, ele parava e olhava para mim e sacudia a cabeça. Eu não tinha ideia de qual era seu problema. Ele havia acabado de devolver um filme chamado Blue Velvet(1). Fiquei olhando para aquele filme estúpido, tentando decidir onde era seu lugar nas minhas prateleiras sempre desordenadas.

Por um lado, tinha Dennis Hopper nele, que me indicava ser de Ação. Por outro lado, a imagem na capa fez parecer que era em preto e branco, o que significava um Clássico. Desisti e enfiei no primeiro buraco vazio que eu vi, em uma prateleira rotulada de ‘Interesse Especial’. Que parecia bom o suficiente. Foi quando ‘Sr. Certo’ entrou, ele era da minha altura, pouco menos de 1.80, mas de constituição mais pesada do que a minha.

Ele obviamente trabalhava. Ele tinha cabelo loiro e olhos azuis. Ele usava calças cinza escuras e uma camisa branca, aberta no colarinho. Eu rapidamente verifiquei minha própria camisa e fiquei aliviado ao ver que ainda estava relativamente limpa. Eu não tinha deixado cair qualquer um dos meus almoços nela, pela primeira vez.