ESPIRITO (GAY)

10. CARTA DE SUICÍDIO/ Mario P. O. V.

Antes de tudo, quer pedir desculpa, sei que não fui o filho que vocês queriam, e sei que isso não é nada bom, mas já estava destinado, minha alma já estava morta, eu só precisava de uma última afirmação para morrer, e essa afirmação veio a uma semana atrás, eu sei que isso vai para de doer, que isso não será  de um passado, de uma lembrança, de algo que fica na memória, mas, afinal, a partir de hoje, eu também serei uma memória.
Imagino a coisa louca que será quando vocês olharem um para o outro e perceberem que vocês também foram gatilho, que vocês ajudaram dia após dia a me matar aos poucos.
Pensem pelo lado bom...pela forma em que vocês me tratam nem queriam ser meus pais, não é mesmo?
Acho que minha vida não tem mais sentido, irei acabar com essa dor.
Pai, mãe! Eu já vivi demais, eu já sofri demais, eu não aguento mais... Não sei nem quem eu sou.
Espero que se acostumem com essa dor pois sei que vocês sentirão minha falta mas tenho certeza que pelo ao menos dessa vez uma ponta de alívio será o que sentirei por você.

                  Amo vocês, sentirei Saudades, Saymon

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Deitado na minha cama penso em como está minha vida, uma semana se passou desde que Saymon conversou comigo e, não sei como, aquilo o tocou de uma forma estranha, eu realmente não entendo o que está acontecendo com ele, está muito estranho, não conversa com ninguém, nem com seus amigos, sempre aparece com hematomas, ele está pior que eu estava quando sofria bullyng na escola e eu não seu como ajuda-lo.

Eu poderia me aproximar mais daquele garoto mesmo que isso não podesse me arrancar pedaço mas... Sei lá! Ainda me dói, me rasga a garganta e não entra como comida, não sei o que posso fazer para mudar essa situação. Ele está completamente diferente e da última vez ele quis me beijar a força. Foi muito escroto da parte dele tentar fazer algo que eu não queria.

Ajeitei meu travesseiro, me enrolei em minha coberta e fechei meus olhos me transferindo para um plano espiritual, dormi um sono totalmente pesado e não me lembro muito bem do sonho quando assusto com algo estranho na casa.

Às três da manhã um barulho de uma pessoa batendo na janela, observo e sei que não pode ser real! Quem poderia bater na janela da minha casa uma hora dessas? Acho que é mentira de inicio mas me assusto ao ver que realmente tem uma pessoa atrás da janela.

-Mário?_Ouço uma voz conhecida na janela

   Saymon... Está a essa hora da noite me chamando e eu não sei o que fazer, eu estou com muito sono e por pouco não levanto. Abro a janela desesperado, o que ele quer aqui a essa hora da noite?

-O que aconteceu?_Pergunto

-Vim te contar uma história.

-Está louco? Tenho que dormir, amanhã tem aula, esqueceu? Não estou acreditando que você me fez sair da cama uma hora dessas sabendo que tenho compromisso aman...

-Cala a boca! Não irei a aula amanhã._Ele responde.

-Por qual motivo?

-Se eu te contar a história você irá saber

-Garoto! Entre aqui logo antes que os vizinhos pensei que eu estou transando com um menino escondido ou sabe-se lá Deus o que...

Ele entra no meu quarto com cuidado para não fazer barulho, leva um tombo, sorri se levantando e olha pra mim. Maldita hora que aceitei ouvir essa história...

-Então, vou começar a história, okay? Tinha um menino, que odiava gays, ele nunca havia gostado de uma raça como a sua, não entendia, não achava que poderia existir algo tão repugnante quanto o gay e não podia achar algo tão legal quanto zoa-lo. Um dia esse garoto se apaixonou por outro cara, esse outro cara que por sinal ele desprezava, mas o garoto que ele passou a amar não o amava...

-Já sei que isso é sobre nós, Saymon, mas chegue ao ponto final.

-Já chegamos ao ponto final, a minha vida está um completo inferno, meu pais me odeiam mais que antes, eu sei que eles nunca ligaram pra mim mas agora eles estão pior que antes, a barra naquela casa está cada vez mais dificil de suportar, perdi meus amigos, ninguém me ama, eu não tenho mais motivos pra viver, Mário, esse é o real ponto final da minha vida.

-Não, esse não é o ponto final da sua vida, Saymon, eu não sou a única pessoa na sua vida, você tem um futuro pela...

-QUE SE DANE O FUTURO, EU NÃO TENHO NADA, NÃO TENHO NINGUÉM, TEM NOÇÃO DO QUANTO ISSO DÓI?

Ele pega uma arma que está na sua cintura e aponta para a própria cabeça, eu me afasto assustado. O que ele vai fazer? Será que ele vai me matar, será que ele vai matar as outras pessoas, o que vai acontecer? Cara, eu estou realmente com medo do que ele pode ser capaz de fazer, será assim o fim da minha vida?

-Largue essa arma, Saymon. Você é forte, pode suportar essa dor, eu sei. eu à suportei por um grande tempo.

-Eu não posso, eu não posso._Diz ele se reprimindo e andando pra lá e pra cá.

-Você pode sim!

-Você não entende? Tudo pra mim acabou, eu sou apenas um espírito, apenas algo que vive pra atormentar a vida de alguém, se eu morrer, Mário, virei atrás de todos que me fizeram mal, toda aquela escola vai pagar, mas você...você pagará um preço mais caro, eu não irei te matar, você não merece isso, não enquanto eu sou carne. Espíritos não amam, só sentem mágoa, ódio e rancor, e será assim, meu destino já está marcado.

-Não faz isso, Saymon. SAYMON, SAAAAAAAAYMOOOOON!

E acabou, foi ali que vi que era o fim, quando ele mirou em sua própria cabeça e buuum!

-Eu te amo, Mário! Diz ele, quando uma lágrima sai do seu olho e cai ele no chão, agora, coberto pelo seu sangue.

Me desculpe Saymon, eu percebi sua dor tarde demais.