♪Sinfonia Incompleta

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"A arte começa precisamente onde cessa a vida real, onde não há mais nada à nossa frente. Será que a arte não é mais do que uma confissão da nossa impotência?"
— Richard Wagner


  ♪♪♪  


— Você é cheia de surpresas, Lyra Scherzo. — Tive a impressão que Edward caçoava de mim, sentia em seu tom de voz.

— Não sou a única — falei baixinho.

Andei até a estante mais próxima e observei os títulos, estava olhando para a seção dos clássicos. Várias edições do mesmo livro, em línguas e capas diferentes, a maioria na versão original ou em alemão.

— Edward. — Virei meu corpo para encará-lo. — Por que tem tantos livros em alemão?

— Porque é minha língua materna. — Deu de ombros e abriu uma gaveta, procurou por algo, mas não o encontrou. — Devo ter esquecido na sala... — murmurou. — Um instante, Lyra. — E saiu do cômodo, deixando-me sozinha.

Voltei a olhar para os livros, passei para outra seção e observei os romances, não encontrei nenhuma história que já havia lido, talvez pelo título que era completamente diferente, talvez porque não era uma leitora tão assídua quanto gostaria.

Passei o dedo pelas lombadas de vários e parei em um que destoava do padrão da estante. Parecia velho, como se Edward o guardasse há mais de uma década.

— Se interessou por algo? — A voz do escritor ressoou.

Ele estava encostado na batente da porta, os braços cruzados e segurando a famigerada caderneta de capa marrom. Se me observava a algum tempo ou não, seria difícil dizer.

Caminhou em minha direção e observou o livro que tinha o aspecto mais antigo, o tirou da estante. Tentei ler o título, porém apenas algumas letras eram legíveis.

— Sobre o que se trata? — perguntei.

— Um romance sem graça com personagens rasos — falou, tive a impressão que ele não gostava nenhum pouco da história.

— Por que o guarda se parece detestá-lo?

— Eu não o detesto. — Edward sorriu, passando os dedos pela capa desgastada. — Guardo um carinho imenso por ele, apenas não posso elogiá-lo porque, criticamente falando, não é uma boa história.

— Foi você que o escreveu?

— Foi meu primeiro livro, mas nunca cheguei a publicá-lo. — Deu de ombros. — Na época que o terminei, não cogitava a ideia de ser escritor.

— E o que você queria?

— Me tornar um violinista. — falou tão baixo que tive que me aproximar para ter certeza que o ouviria.

— O que aconteceu para que mudasse de ideia?

— A vida, senhorita Scherzo. — Edward parecia distante e sua voz soava fria. — Bom, já está tarde. Vou levá-la para casa.

— Eu disse que o ajudaria com seu livro, não posso ir embora agora.

— Podemos resolver isso amanhã, caso você ainda precise de ajuda com a competição.

— Mesmo que eu decida não participar, irei te ajudar, Edward. Prometi-lhe isso e não voltarei atrás.

— Fizemos um acordo, Lyra. A senhorita só precisaria me ajudar caso eu a ajudasse.

Mozart Terminou ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora