"A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo."
— Oscar Wilde
♪♪♪
Edward abriu a porta da casa e entrou. O silêncio sufocante foi interrompido por um som agonizante de notas do piano. Não era música, era apenas uma batida violenta de teclas, seguida novamente pelo silêncio.
Troquei olhares com o escritor.
— Ele está no quarto — disse com a voz baixa.
— Vá vê-lo, vou ficar aqui — respondi. — Não acho que ele queira me ver.
— Está bem.
Edward subiu as escadas e fiquei sozinha na sala.
O casaco de Edgar estava jogado no sofá, próximo a um copo de uísque vazio, os sapatos estavam em cima do tapete; era tão estranho ver a casa minimamente desarrumada.
Comecei a andar pelo cômodo, não havia muito que fazer, também não tinha coragem de ir para o outro andar ou sair, a manhã estava muito fria para isso.
Edward chegou depois de bastante tempo.
Me aproximei devagar.
— E então...?
— Aquele idiota — murmurou. — Achando que só porque está de luto pode negligenciar o próprio corpo...
— Me lembrou alguém que conheço. — Lancei-lhe um olhar.
Edward tossiu de leve.
— O velório... — Tinha dificuldade ao falar. — Será hoje à tarde — murmurou o final da frase.
Toquei seu braço, tentando confortá-lo de alguma maneira.
Edward foi para a cozinha preparar algo para Edgar, o próprio não demorou a descer. O observei de relance enquanto cortava alguns legumes, ele atravessou a cozinha e abriu a porta que dava para o jardim, saiu e acendeu um cigarro.
— Pensei que tinha parado — disse Edward.
— Eu tinha — respondeu sem encarar o amigo.
— Você está se autodestruindo — a frase escapou de meus lábios, sem que tivesse consciência.
— E se for?
Edgar me lançou um olhar ríspido.
— Não acho que Elisa ficaria feliz em te ver assim.
— Que pena, Lyra! Mas me parece que ela não está aqui! — gritou e virou o corpo inteiro para me encarar. — Ela... Não está mais... — sua voz agora era um murmúrio, ficou de costas novamente, inalando todas as toxinas e exalando a fumaça que se misturava ao vento.
— Desculpe — falei.
— Você não fez nada de errado, Lyra. — Massageou as têmporas antes de tragar o cigarro outra vez.
— Mas ela está certa — interviu Edward. — Você não pode tratar seu corpo dessa maneira, Edgar.
— Eu sei. — Suspirou. — Mas...
— Você não está sozinho, sabe? — respondi. — Edward estará sempre do seu, eu também e você sempre terá James para servir de apoio.
Edgar bufou.
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Mozart Terminou Comigo
RomanceDizem que amores de verão são passageiros, mas e os de outono? Pois foi numa fria tarde outonal que a jovem pianista, Lyra Scherzo, conhece alguém que faria seu mundo dançar em um ritmo completamente diferente. Tudo começou em uma sala de música...