Madrugar

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Travis tinha uma péssima mania quando se tratava de amanhecer. Ao contrário do que a maioria das pessoas poderia pensar, filhos de Hermes eram madrugadores, assim como os de Apolo, de Deméter, de Athena e tantos outros.

Os de Athena acordavam cedo para aproveitar melhor seu dia. Os de Deméter pois não é bom cuidar das plantas quando o sol está muito alto no céu, os de Apolo para poder saudar o nascimento do astro maior, um sinal de respeito com seu pai.

Mas nenhum chalé acordava tão cedo quanto o 11. Não tinha realmente um motivo, e não eram todos, já que filhos de Hermes eram bem diferentes entre si. Alguns acordavam cedo pra deixar pegadinhas prontas, outros para fazer algo realmente significativo. Travis acordava cedo para correr.

Era um hábito saudável que ele tinha desde novo, ele acordava, calçava os tênis e ia até a colina meio-sangue, se alongava vendo as ninfas acordarem, os chalés dormirem, os amantes indo para seus chalés. O acampamento as 4 e meia era algo deprimente para muitos, mas para Travis era a hora dos segredos.

Ele sabia cada casal do acampamento e o que faziam por causa disso. Era ótimo ter essas informações sendo filho de Hermes. Depois de se alongar ele corria preguiçosamente até os chalés e então vinha a parte mais divertida. Acordar a Gardner.

Não havia necessidade, e Katie era  a que mais concordava que esse hábito era insuportável. Afinal, se ele quer acordar antes do sol, tudo bem, mas precisava acordar ela? Ele entrava de fininho e puxava o cabelo dela para fora do rosto, ficava alguns segundos observando ela e então, retomando sua personalidade de filho de Hermes a sacudia com força.

- O que...? Ah, Stoll, por que você faz isso? - Cobria-se até o nariz, mas isso não o impedia de sacudí-la ainda mais.

- Vamos, Gardner, hora de acordar! - Ela gemia e ele ria puxando a coberta.

- Eu não quero acordar as quatro da manhã, eu não quero correr e eu não quero ver o sol nascer, me deixe dormir. - Virava para o outro lado e tentava se cobrir inutilmente, pois ele segurava firmemente o edredom.

- Olhe pra mim Katie! - Era a mesma coisa todos os dias. Ela olhava pra ele, ele sorria, bagunçava seus cabelos e devolvia a coberta. - Bom dia.

- Uhum. - E ela voltava a dormir e ele saia do chalé indo correr na praia.

Katie acreditava que ele só fazia aquilo por ser divertido vê-la irritada. Nas primeiras vezes ela até corria atrás dele para espancá-lo com o travesseiro por tê-la acordado, mas depois de um tempo ela acabou se conformando que não valia a pena.

Travis dizia que o motivo era por saber que ela conseguia dormir apenas um sono leve depois de ser acordada, e que isso a irritava muito. Era sua diversão matinal. Mas a verdade era outra.

É que Travis, desde muito, tinha uma sensação estranha quando se tratava de Gardner. Era algo que ele não podia controlar, nem explicar, um aperto que ele sentia, as vezes bom, as vezes ruim. A questão é que esse aperto fazia com que ele sentisse a necessidade de ser a última coisa que ela veria antes de dormir, mas isso era um pouco difícil considerando que dormiam em chalés diferentes, dessa forma, ele se contentava em ser a primeira coisa que ela via ao acordar.

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