XIV - Freira Diferente

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— E-estou? — Rebeca gaguejou, alarmada.

— Desde quando você fala sueco? Por que não me contou que sabia? — A freira parecia brava.

— Eu... eu estou contando agora...

Então ela começou a rir. — Devia ter me dito antes! Imagina quantas conversas constrangedoras poderíamos ter tido em sueco e ninguém entenderia?

— Ah... desculpe.

— Tudo bem, vem, vamos logo fazer esse almoço.

Segurou a mão de Rebeca e a puxou, andando pelos corredores e entrando em uma cozinha. Tinham mais duas freiras ali, cortando legumes e mexendo em panelas enormes.

Aquela freira se posicionou na frente de uma bancada e começou a cortar cebolas.

Rebeca ficou ao lado dela. — O que eu faço? — perguntou sussurrando.

Ela olhou para a outra com um sorrisinho. — Perdeu a memória? — Pegou uma faca que estava ali e deu na mão dela. — Corte cebolas.

Então Rebeca começou a pegar as cebolas inteiras que estavam em um cesto e começou a cortá-las. Precisava sair dali logo. Não dava para saber quanto tempo demoraria para Ethan voltar.

Isabel. — Uma outra freira ficou na frente da bancada. — Posso pegar um pouco destas cebolas?

Sim, pode.

E a outra pegou um bom punhado de cebolas já cortadas e voltou a ficar na frente do fogão a lenha.

Então o nome dela é Isabel...

Rebeca bocejou, e Isabel a olhou, rindo. — Não dormiu direito, não é? Eu também estou com sono. Acho melhor não inventarmos de brincar de contar histórias antes de dormir de novo.

Eu preciso entrar na história dela... — Por que não conseguiu dormir?

— Ora, por causa da sua história. Me arrepiou até os pelos das pernas.

— Foi tão boa assim?

— Você deveria começar a escrever contos. Escondido, claro. Se te pegarem... não sei o que pode te acontecer. Mas você está com olheiras... se Filipa te ver...

— Estou muito cansada. — Passou as costas da mão no rosto, secando as lágrimas que as cebolas estavam causando.

— Em vez de rezar hoje à tarde, você pode tirar um cochilo. Eu te dou cobertura. — Deu uma cotovelada na outra, de leve.

Rebeca deu uma risadinha. Para uma freira, Isabel era bem estranha e diferente.

Isabel... — Alguém chamou logo atrás de Rebeca.

Isabel olhou para trás, sorridente, mas seu sorriso sumiu. Rebeca também olhou e viu ela mesma, parecendo ser uns cinco anos mais nova.

Ai, merda.

Com uma feição de espanto, Isabel encarou as duas garotas. Então, Rebeca largou as coisas e saiu correndo dali.

Gabriel... Gabriel... cadê você?

Correu pelo corredor e tentou correr mais rápido quando ouviu alguém a seguindo. Saiu da casa e correu através do pátio, voltando para a casa da qual saiu a um tempo atrás. Talvez Gabriel tenha voltado para aquele quarto.

Entrou na casa e foi para o corredor. Viu a porta aberta de onde tinham saído e entrou, a fechando atrás de si. Sua respiração estava acelerada, mas por um momento relaxou.

Através do Tempo - Entre VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora