ENTRE PALAVRAS

Erduan quer ir para o Brasil

Um mês depois voltou a trabalhar e na primeira semana foi difícil chegar à revista e não ter David para compartilhar as ideias e tê-lo por perto e receber um mimo ou um carinho e até mesmo uma bronca, e procurou fazer tudo aquilo que ele a ensinou e as outras semanas passaram a ser mais leves e tranquilas. Em outubro Erduan completa dez anos, Beatriz prepara uma pequena recepção para seus amigos e a festa foi animada e tranquila. Beatriz recolheu tudo e limpou a casa depois que todos foram embora, Erduan foi para o quarto e ficou por lá vendo seus presentes quando ela entrou e se sentou ao seu lado e o acariciou e o puxou para um abraço e disse novamente.

- Feliz aniversário Erduan.. - Ela beijou sua testa. - Eu não comprei nada para você e quero saber o que quer de aniversário?. Quero que escolha.

- Posso?. Posso pedir o que quiser?

- Pode.. - Ela sorriu e o olhou.

- Quero ir pra São Paulo.. Pro Brasil?. - ele a olha e Beatriz vê Eduardo em seus olhos e se assusta.

- O que quer fazer em São Paulo meu filho?. Não tem nada lá?

- Papai me contou que você tem um apartamento lá.. Que nunca conseguiu vender. Disse que foi a melhor época da sua vida. Queria conhecer esse lugar. E conhecer melhor sua vida mãe.?

- Erduan.?. Me conta o que mais seu pai te contou?. - Beatriz começa a desconfiar e sua voz fica embargada, Erduan a olha receoso e se cala por um instante. - Pode me contar.. Não vou ficar brava e nem brigar com você.

- Ele me contou muitas coisas. De como se conheceram e de quando se casaram. Me mostrou o álbum de casamento. E . Me disse que me amava muito.. - Ele a olhou novamente e disse. - Eu sei que tenho um pai no Brasil e ele mora em São Paulo. E eu quero conhecê-lo.

Beatriz se levanta assustada com o que ouviu, anda pelo quarto de um lado para o outro e se senta ao seu lado o olhando de frente e disse tentando não chorar.

- O que me pede é difícil demais pra mim.. - Erduan desvia o olhar. - Não.. Olha pra mamãe e me escuta.. Aconteceram coisas entre eu e seu. Pai biológico que ainda fazem meu coração sangrar.. Me de um tempo para pensar e. Ainda está muito recente a morte de David.. Por favor?

- Mas pelo menos o apartamento, podemos conhecer?. Você pode me levar até lá nas férias?.

- Tudo bem.. Nas férias vamos até lá.. - Ela o abraça e chora se sentindo confusa, beija seus cabelos e vai para o quarto.

- Droga David.. Por que contou a ele?.. - Beatriz senta na cama e chora e abraça o travesseiro.

Os dias foram passando rápido, Erduan já sabia o nome de seu pai verdadeiro, Aluizio contou para ele em uma das conversas por telefone, pois Beatriz se recusava a falar dele, precisava investigar e era inteligente demais pra isso, nos intervalos das aulas fazia buscas pela internet, achou alguns artigos e até mesmo a matéria que sua mãe escreveu anos a traz e sorriu, mas queria uma foto dele e o que encontrava ficava em duvidas, pois seu avô disse que ele era a cópia fiel de seu pai e não se sentia parecido com o que via e resolveu sair da aula mais cedo fingindo dor de garganta e acabou sendo dispensado. Erduan resolveu vasculhar as coisas da mãe, mas não encontrou nada, mas a câmera sempre estava ao lado da cabeceira e resolveu mexer nela, iria ver uma foto dos dois, imprimir e enviar para Eduardo, achou uma que tiraram só de rosto sorrindo para a lente da câmera e sorriu, era aquela que ele queria imprimir, foi ao quarto conectou a maquina no computador e puxou todas as fotos e para sua surpresa lá estava uma de Eduardo, clicou e abriu, Erduan ficou olhando para aquela figura masculina por um tempo e se virou para o espelho puxou os cabelos para traz para ficarem curtos e teve que admitir era mesmo seu pai e seu avô tinha razão, eram cópias idênticas. Voltou para a tela do computador e imprimiu as duas fotos que queria, a do pai biológico e a dele com a mãe.

Beatriz foi informada no trabalho que Erduan havia sido dispensado por estar com dor de garganta e foi direto para casa ver o menino, estacionou o carro e entrou correndo e subiu as escadas chamando por Erduan e ao entrar no quarto viu que estava dormindo, sua câmera fotográfica estava sobre a escrivaninha e se preocupou, mas foi ver o filho, sentou-se a beirada da cama e acariciou seus cabelos para ver se estava com febre e viu que segurava algo entre as mãos e o peito e puxou devagar e ao olhar a imagem levou a mão à boca querendo silenciar o choro, ele achou a foto de Eduardo e agora não era mais um anônimo em sua vida, agora tinha rosto, corpo e alma e Beatriz não aguentou e chorou ali mesmo fazendo o menino despertar, ele a abraçou e pediu com carinho.

- Não chora mãe.. Eu só queria conhecer meu pai.. Só queria saber como ele era?

- Porque não me pediu a foto dele Erduan?. Eu teria dado a você.

- Mãe?. Papai disse que você ainda o ama.. É verdade?

Beatriz o olha em lágrimas e o abraça forte e chora mais ainda.

- Eu não consegui esquecê-lo meu filho.. Nem tem como me esquecer de alguém que me deu a melhor coisa na minha vida que foi você.. Deus foi tão maldoso comigo que te fez a cópia dele, justamente pra não me esquecer.. - Ela olha para a foto novamente e disse tentando parar de chorar. - Mas eu também amei David.. Ele foi meu porto seguro.. Te amou muito e cuidou de nós dois..

- Eu sei.. Ele me disse que faria tudo de novo se fosse preciso.. Quando ele me contou que não era meu pai biológico. Eu disse a ele que já desconfiava.. Uma vez na casa da vovó eu escutei falando que a cada ano que se passava eu me parecia com o meu pai e escutei o nome dele.

- E nunca teve curiosidade em perguntar se era verdade ou não?

- Não.. Sabia que uma hora alguém me contaria.. - Ele puxou a foto das mãos da mãe e perguntou ansioso. - Posso ficar com essa foto mamãe?

- Pode sim Erduan.. - Ela o puxou e beijou seus cabelos. - Está com fome?. Vou preparar alguma coisa pra gente comer.

- estou.. - Ele ri - Pode me contar alguma coisa sobre ele mãe?

- Vamos lá pra cozinha e eu te conto algumas coisas sobre ele, vai ser divertido.. Mas não espere que eu conte o que aconteceu e por que nos separamos tudo bem?.. - Ela sorriu.