— Não posso acreditar nisso! — Disse Luci, de queixo caído. Eu tinha passado uns bons minutos lhe contando toda a história sobre o misterioso noivo da mamãe e o seu filho, meu novo 'irmão' e ela ainda parecia não crer que eu estava falando a verdade. — Você e o aluno novo vão morar na mesma casa?
— É, mas isso não foi a única coisa que eu disse. — Franzi o cenho. Luci estava bastante apegada à essa informação em específico, como se fosse algo muito importante.
Bem, até era, mas eu estava preferindo ignorar pelo momento. Poderia lidar com aquilo quando chegasse a hora. Típico esconda seus problemas debaixo do tapete até que eles te encontrem.
— Mas você e ele vão morar na mesma casa! — Ela gesticulou freneticamente.
— Por que não fala mais alto? Assim o colégio todo fica sabendo de uma vez. Quem sabe até não saio em uma matéria no grupo da escola, até teria meus 15 minutos de fama. — Revirei os olhos. Ela se encolheu, mas não parou de falar.
"Bem, se o foco for o gatinho do aluno novo, talvez até queiram ler a matéria," ouvi ela pensando. A minha expressão era indignada. — Ei!
Luci sorriu amarelo.
— Você não pode sair por aí ouvindo os meus pensamentos, não, garota. — Falou ela, uma oitava mais baixo.
Suspirei, não conseguindo evitar um riso, mas fingindo-me de desentendida.
— E aí, irmã? — Ouvi. A frase veio acompanhada de um braço sobre meus ombros. Prendi a respiração, desejando que não fosse quem eu pensava que fosse. Primeiro porque Luci não estava sendo exatamente discreta sobre minhas habilidades e segundo... Porque eu não queria ter que lidar com ele.
Por via das dúvidas, chequei a sua mente para me assegurar de que ele não tinha escutado a nossa conversa. Dean tinha ouvido tudo, mas parecia não acreditar. O mais surpreendente foi o modo como ele simplesmente parecia não ter percebido nada diferente. Aquele cara era um perigo, eu precisaria ficar de olho nele. Talvez morar juntos até facilitasse essa tarefa.
— Não somos irmãos. — Graças a Deus. — Não pense que gostei da notícia de anteontem. — Tirei o braço dele de cima de mim com agressividade.
— Ah, eu também não — disse ele, demonstrando nenhum sentimento que não desprezo. — Acredito que já esteja sabendo, Lucinda.
— A Samantha acabou de me contar — respondeu, sorrindo amigável. Para que inimigos, com amigas assim? Como ela ousava compartilhar um sorriso com a ameaça? Revirei os olhos.
— Eu vou na frente. — Falei, já me afastando. Acelerei o passo, esperando que nenhum dos dois conseguisse me alcançar.
— E aí, Samantha. — Disse Carl. Me aproximei dele, sentando na mesa ao seu lado. Luci e Tim, o namorado, ainda não tinham voltado da aula. Nós quatro costumávamos almoçar juntos todos os dias. Antes de existir Carl e Tim, porém, éramos só eu e Luci. — Luci contou que sua mãe vai se casar novamente.
Minha resposta foi mais um revirar de olhos. Estava virando um hábito. Enfiei um pedaço de pão na boca, assim ela estaria ocupada demais para falar.
— Não é bom? — perguntou. Carl era uma daquelas pessoas que sempre via o copo metade cheio. A vida parecia sempre sorrir para ele, talvez porque ele sorria para ela. Carl normalmente tinha a habilidade de me deixar tranquila, mas naquele dia... Eu só conseguia sentir raiva.
— Depende do ponto de vista. — Do de minha mãe, era ótimo. Do meu, nem tanto.
Me ocupei com meu almoço depois disso. Ele não me fez mais nenhuma pergunta a respeito. E quando acabei e saí do refeitório, Luci e Tim ainda nem haviam chegado.
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Ouvindo Você
Teen FictionLonglist do Wattys2018! Samantah pode ler pensamentos. E seu dom se torna uma maldição, quando um novo rapaz na cidade resolve usar esse segredo contra ela.