Chapter 7

39 5 0
                                    

— Senta aí, Samantha. — Luci apontou para um espaço vazio no banco na mesa do almoço. Carl sorriu, sentando ao meu lado. Tim estava na nossa frente, junto a Luci. — E as Novidades do casamento? Conta pra eles o que sua mãe te mostrou, Carl deve estar curiosíssimo.

Carl tossiu envergonhado e em consideração a ele, não o encarei.

Lancei para Luci um olhar significativo, como quem diz você me paga, mas sorri. — A minha mãe me mostrou a casa onde vamos morar, não é grande coisa.

— Quer dizer então, que você vai mesmo morar com o Dean — perguntou Carl. Se eu não o conhecesse bem diria que estava incomodado. Ele se revirou no banco.

Eu estaria fingindo se dissesse que não percebia o modo como ele me tratava, sempre muito solícito e diferente de como tratava qualquer outra pessoa. Sem falar que, vez ou outra, sua mente se confessava para mim. Mas eu, por vergonha ou simplesmente falta desse tipo de sentimento por ele, sempre fingia que não via.

— Infelizmente. — Revirei os olhos.

Estava esperando alguma reação da parte de Luci, mas não houve nenhuma. Ela estava olhando para mim como se eu fosse algum tipo de aberração. Passei o guardanapo no rosto, temendo estar suja, mas ela continuou me fitando daquela forma. — Eu tenho... Alguma coisa no rosto?

— Você falou alguma coisa comigo? — perguntou ela.

— Hmm... Sim. Que minha mãe me mostrou a casa onde vamos morar. — Hah, garota mais estranha. Franzi o cenho, encarando-a. Ela se ergueu, de repente, deu a volta na mesa, me puxou pelo pulso e me levou para longe. Lamentei a perda do almoço, mas pela expressão dela, parecia sério.

Ela parou no corredor e me prensou contra a parede. Se Luci gostava de meninas, eu não estava sabendo.

— Algo do tipo "você me paga, Luci"?

Parei para pensar. — Não, não que eu me lembre. — Eu não me lembrava mesmo. Eu só tinha... Ah. — Eu...

— Você pensou! — Luci exclamou, como se a própria pudesse ler os meus pensamentos. Seus olhos estavam arregalados, havia um sorriso em seus lábios. — E eu ouvi!

Abri a boca várias vezes, sem saber o que dizer. Claramente o que estava mudando não era apenas a minha vida, mas também as minhas habilidades. Era uma surpresa, definitivamente, mas uma surpresa boa.

— Eu não sabia que eu podia fazer isso. — Minha expressão surpresa foi lentamente se transformando em um sorriso.

— Eu achei que você só podia ouvir pensamentos. — Luci riu, com um sorriso que ia de orelha a orelha.

Eu a puxei pelo braço e comecei a caminhar pelo corredor, sempre atenta para que ninguém estivesse ouvindo. — Na verdade... — comecei. Olhei para o alto, reflexiva. — Acho que graças a essa habilidade, eu consigo me lembrar de várias coisas, como de quando eu era bebê, por exemplo.

O queixo dela caiu. Nunca mencionei nada sobre aquilo, porque não tinha achado importante até então.

— E recentemente descobri que também posso ver... Memórias. Se eu tocar na pessoa. — Só esperava que ela não me perguntasse como eu descobri isso. Mas Luci parecia mais distraída com o fato de minhas habilidades estarem evoluindo do que com detalhes.

— Até onde você se lembra? — ela questionou. Seus olhos brilhavam.

Sabe quando os médicos costumam dizer que a maior dor que você pode sentir é a de quando você nasce? Isso mesmo, quando você sai daquele buraquinho nos países baixos de sua mãe e... Bem, da pra imaginar o resto. Eu tenho essa lembrança bem fresca na memória e digo, os médicos estavam certos quando fizeram essa afirmação.

— O bastante. — Sorri amarelo.

— E você pode ver e agora falar na mente dos outros — Luci repetiu. Pela última vez, eu esperava. — E você sabe o que isso significa?

Na verdade, não, eu não sabia.

Bem, devido a minha boa memória eu conseguia decorar fatos da história, fórmulas matemáticas, nome de células e era boa também em outras línguas. Mas quando se tratava de ter raciocínio lógico, eu não era uma das melhores. Esse papel, Luci fazia por mim.

— Samantha, pense... — começou ela — Você pode ler a mente das pessoas, e agora também pode fazer as pessoas ouvirem só o que você quer na cabeça delas. — Disse ela entusiasmada.

Ah... As pessoas ou alguma pessoa específica.

O sinal ainda não havia tocado. Marizza estava sentada sobre a mesa de Dean, falando algo no qual nem ele parecia estar muito interessado. Fui direto para a minha mesa, fingindo não notá-los, mas o olhar dele me seguiu por alguns minutos.

"Namorando uma e pensando em outra, que coisa feia," pensei. Ou melhor, ele pensou. Dean só não sabia disso. De canto de olho vi quando ele se virou para mim, mas continuei prestando atenção somente na minha conversa com Luci.

Luci riu. Estava de frente para ele. Eu daria tudo para ver a sua expressão naquele momento.

"Ouvindo a voz da Samantha até nos próprios pensamentos. Estou ficando louco."

Ele se ergueu de um pulo, batendo as mãos na mesa. Até Marizza se assustou. Sem dizer uma palavra, ele saiu e não voltou mais pelas aulas seguintes.

Me esbarrei com Dean, horas depois, ao final das aulas. — Você está bem? Parecia estar passando mal na sala. — perguntei, fingindo interesse, e um sorriso pouco genuíno.

— O que você aprontou? — Ele estalou a língua nos dentes e cruzou os braços, me encarando.

— Eu? Nada. — Franzi o cenho e o observei, confusa, já me distanciando. — Espero que melhore.

Mais a frente, no meio do corredor, Carl parecia estar me esperando. Estava um pouco ofegante. — Samantha, preciso falar com você. Poderia me encontrar amanhã?

Encarei-o com as sobrancelhas coladas uma na outra. — Aconteceu alguma coisa? — Por um segundo cogitei vascular a sua mente, mas fiquei com medo de saber o que tinha ali. O que me deixou aterrorizada com o que ele podia querer me dizer num sábado.

— Sim, mais ou menos — respondeu, apressado. — E então...?

Hesitei por alguns momentos. — Ahm, sim, claro. Tudo bem.

Me perguntei, no mesmo instante, se eu tinha tomado a decisão certa. Ia descobrir no dia seguinte.

Carl se afastou. Fitei-o à distância. Ouvi um barulho atrás de mim, mas minha mente pareceu não absorver o fato.

— Vai ter um encontro? — Perguntou Dean bem próximo. Senti um arrepio percorrer a espinha. Me virei para ele, olhando-o como quem demanda explicações. — Eu só estava passando e ouvi acidentalmente.

Não me dei ao trabalho de respondê-lo. Certamente recebi o meu troco pela brincadeira que fiz com ele.


____

O que estão achando da história até então??

Espero que estejam curtindo!

Ouvindo VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora