Capítulo 8

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Eeeei pessoal! Tudo bom?

84 anos depois estou de volta! Um capítulo curtinho, mas só pra anunciar meu retorno (ou tentativa de retorno) e compartilhar uma novidade.

O Ouvindo Você está na Longlist do Wattys2018!!! Quão incrível é isso? Mal pude acreditar quando eu vi, e não sei se vai passar da longlist, mas isso me deu um gás pra continuar publicando. Eu realmente não esperava que escolhessem justo essa história para entrar na lista, mas... A vida ta ai para nos encher de surpresa.

Enfim, espero que curtam esse capítulo <3 E se te agradar, deixem uma estrelinha pra mim ali em cima, ajuda muito!

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Carl veio me buscar de carro, um benefício para quem já era maior de idade — o que não era o meu caso. Meu pé batia contra o piso do asfalto repetidamente, enquanto eu esperava por ele. Não levou muito tempo. Entrei no carro, não conseguindo esconder a minha ansiedade.

— Você está bonita. — Ele parecia bem mais calmo do que no dia anterior.

Minha resposta não foi mais do que um sorriso sem graça.

Àquela altura do campeonato — e da curiosidade —, qualquer lugar estava ótimo para mim, eu só precisava tirar aquele peso do peito, mas acabamos indo numa lanchonete no centro da cidade. Precisei me controlar para não afobá-lo com as minhas perguntas todas de uma vez, me esforçando assim como ele, para ser o mais simpático que conseguia.

Mas não consegui me segurar o suficiente. Já tínhamos acabado de comer, mas ainda estávamos sentados na mesa da lanchonete.

— Você disse que tinha algo para falar... — comecei, num tom meio hesitante. Encolhi os ombros. Seu queixo caiu levemente, mas ele com certeza já estava esperando por isso.

— Claro. — O riso que escapou de seus lábios fez com que eu me arrependesse momentaneamente de ter perguntado. — Na verdade, eu não falei isso antes porque eu tinha medo da sua reação. Preferi continuar como estava, mas agora eu preciso falar.

Eu realmente devia ter lido a mente dele, eu devia ter me protegido contra isso. Não estava preparada. Entrei em pânico e, quando eu entro em pânico, as coisas começam a se descontrolar na minha cabeça. Inúmeras vozes surgiram dentro de mim, de todos que passavam pela lanchonete. Minhas mãos ficaram empapadas de suor, enquanto eu o encarava firmemente, tentando focar em seus olhos e ignorar o burburinho ao nosso redor.

— Eu gosto muito de você. Mais do que como um amigo.

Lógico que era isso. Respirei fundo e prendi o ar, incapaz de colocá-lo para fora. Engoli em seco, eu não sabia o que dizer. Não esperava isso dele. Quer dizer, em parte esperava, mas não acreditei que ele fosse ter coragem. Ou só desejava que ele não tivesse coragem. Certamente o subestimei.

Carl se aproximou de mim. Recuei um pouco, mas o espaço do banco acabou e logo me vi pressionada contra a parede. Tive que soltar o ar. Respirei fundo de novo.

E ele me beijou.

Não fechei os olhos, de tão zonza que fiquei. Mas não sei exatamente o que eu vi, estava tudo meio borrado. E lá estavam elas de volta, as vozes na minha cabeça. Me afastei, colocando delicadamente as mãos sobre o peito dele, obrigando-o a manter uma distância. Mas então eu ouvi a sua voz. Ergui o rosto. Os lábios de Carl estavam abertos, surpresos.

— Não é só isso, é? — perguntei, quase me esquecendo do beijo.

— Eu adoro essa sua capacidade de decifrar as pessoas, sabia? — Carl sorriu tristemente. — Meu pai vai se mudar. De estado.

Dessa vez foi o meu queixo que caiu. O que havia com essas pessoas e suas constantes necessidades de se mudarem no meio do ano letivo? Não consegui falar nada por um tempo e ele teve a delicadeza de me deixar absorver a notícia.

— Agora? Mas... A escola? — E eu? Não, eu nunca o vi como nada além de um amigo e talvez nunca o visse, mas isso não significava que ele era menos importante para mim.

— Eu vou terminar a escola aqui, mas não estarei aqui para o baile de formatura. Estamos cogitando universidades por lá também.

Fiquei muda por mais alguns minutos. Quis fingir demência. Voltar para casa e fingir que nada daquilo tinha acontecido de verdade.

— Desculpa te afogar com essas informações. Eu precisava conversar com você, se houvesse ao menos uma chance de que o meu sentimento fosse mútuo...

Mordi o lábio inferior e olhei para baixo. Não tive coragem de encará-lo. Eu não conseguia mentir para mim mesma, imagine para ele.

— Eu gosto de você, Carl. — Foi a vez dele prender a respiração. — Mas não da forma como você espera. Eu não quero ferir seus sentimentos, mas... — Respirei fundo, mexendo os dedos uns nos outros. — Não poderia te enganar assim.

Ele suspirou. Não sei se foi engano ou se realmente vi alívio em seu olhar. Talvez por ter finalmente feito aquilo, se confessado. Eu entendia a sensação. Ele precisou encerrar um ciclo e isso era algo que a minha família também teria que fazer em breve.

— Eu entendo. Eu já esperava, aliás. — Carl soltou um riso. — Eu espero, pelo menos, que nossa amizade possa durar o tempo que for e que nada mude entre nós.

Eu sorri e me aproximei. Envolvi os braços ao redor dele em um abraço. — Eu também.

Nos levantamos e deixamos o restaurante, prontos para voltar para casa. Ainda que o assunto tivesse sido resolvido, o clima não estava dos melhores e eu entendia que continuaria assim por pelo menos alguns dias. Eu não era nenhuma especialista em corações quebrados, mas podia imaginar como doía.

Então, recebi um cutucão no braço. Franzi o cenho, alisando o lugar da batida e me virei. Revirei os olhos. Dean e Marizza, lógico. Quem mais?

— Que coincidência — disse Dean, mas de algum modo, tive impressão de que não era coincidência alguma.

— Você e o Carl estão saindo, Samantha? — Perguntou Marizza. Minhas bochechas queimaram fortemente no mesmo instante. Em seus pensamentos o alívio pela notícia publicada há semanas no Da Hora não ser verdadeira. Ela realmente achou que eu sairia com Dean?

Fiquei um minuto calada, não soube o que responder. Não era como se eu não soubesse a verdade, mas não queria jogá-la na cara de Carl, não depois da conversa que tivemos.

— Não, estamos aqui pra um passeio. Como amigos — esclareceu Carl, passando o braço pelos meus ombros. Sorri aliviada, mas o quanto antes aquele pesadelo acabasse melhor.

— Ah. — Ela sorriu. — O que acham de darmos uma volta, todos juntos?

Você não pode ser tão tapada assim, Marizza, pensei. Não é possível que queira a nossa companhia. Dean, para a minha infelicidade, adicionou um "Nós insistimos" logo depois.

Meu sorriso educado se transformou em um mar de saliva e veneno. Veneno que eu jogaria na cara do infeliz, se eu pudesse. — Não. Temos compromisso, mas obrigada, espero que se divirtam — adicionei depressa, já puxando Carl pelo braço para longe dali, antes que ele tivesse chance de falar qualquer coisa.

Não imagino que ele estivesse mais à vontade do que eu com aquela situação. Tanto é que ele não falou nada a respeito. Nem mesmo durante o caminho até a minha casa, somente quando chegamos lá. Nos despedimos com um "até logo" constrangido e a certeza de que nada seria o mesmo. A vida tem dessas.

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