Capítulo -1

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"Das mesmas bocas que saíram palavras de paz, também ordenaram a guerra".

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O badalar do sino ressoa por toda a cidade enquanto sinto o aroma de salsa, sálvia, alecrim e tomilho, porém, logo eles são sobrepujados pelo cheiro azedo do suor.

Em um lugar como Climont, onde mais da metade da população integra o exército, há um aspecto desagradável quando se trata de odores, especialmente após um dia quente.

Minha rotina é sempre a mesma, acordar, tomar café, ler o jornal e atravessar o centro da cidade até chegar finalmente ao meu destino. Depois de tantos anos, já me sinto anestesiada por tudo.

Quando não estou no quartel, passo o restante do tempo estudando, até ficar entediada a ponto de delirar ou acabar babando nos livros.

Ser filha do comandante do exército já me concede muitas regalias, mas meus privilégios aumentam ainda mais por ser a filha de um duque. Isso faz com que toda a cidade saiba quem é minha família e, consequentemente, me impede de ter uma vida livre de fofocas.

Meu país está dividido em províncias, onde uma família detém o poder de representar seu povo no governo. Meu pai representa Climont e pertence à dinastia Langerhans, que permanece ativa desde os novos tempos. Por comandar o exército e ser o representante do rei, ele acabou me envolvendo no mundo da política.

Embora eu nunca tenha dado muita importância ao meu título, sempre tive consciência de que, em algum momento, teria que assumir meu cargo.

Essas responsabilidades foram determinadas muito antes do meu nascimento, por outras pessoas. Tentei fugir dessa realidade durante muitos anos, mas é impossível.

Infelizmente minha família atrai mais atenção do que eu gostaria; qualquer coisa que eu faça vira  assunto. Se por acaso eu usasse um par de meias trocadas, metade da cidade ficaria sabendo até o final do dia.

O julgamento faz parte da vida de figuras públicas, e é impossível se esconder. As pessoas sempre encontrarão uma maneira de criticar, não importa o que você faça. Não dá para ser perfeito, não dá para agradar a todos.

Meu pai sempre enfatizou a importância da neutralidade, nunca optar por se envolver em polêmicas. Ele sempre diz que, não importa o quanto algo me afetasse, haveria momentos em que eu simplesmente teria que engolir e permanecer em silêncio, pois segundo ele, devemos obedecer e servir à vontade do rei. Para o comandante do exército, isso soa muito fácil, mas para mim, sempre foi algo difícil de aceitar.

Antes de dormir, todas as noites, ele costumava me dizer: "Sobreviver, essa é a coisa mais importante no jogo do poder. Na política, tudo se trata de sobrevivência. Você precisa conhecer as regras, se adaptar e, acima de tudo, saber negociar."

Foi assim que minha família conseguiu sobreviver nos últimos três séculos. Às vezes, me pergunto até que ponto isso foi bom, mas é o que põe comida em nossas mesas.

Nossa província é bem desenvolvida, organizada e segura, mas não se compara às riquezas da capital, onde o rei e a rainha residem com seus filhos no palácio de Froy. O castelo abriga uma corte cheia de cobras, onde muitos desejam a joia cintilante na cabeça do rei, a qualquer custo. É um jogo no escuro, silencioso e perverso, que constantemente me lembra da história da humanidade e do que a tornou o que é hoje.

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