Dinastia ♛

Capítulo- 8

Collen pediu que todos fossem para seus aposentos antes do horário previsto.  Ele disse que a programação de aula seria realizada ao ar livre, no entanto voltou atrás ao dizer que estava "preocupado" com a nossa saúde devido à chuva que se aproxima.

Engraçado, vejo isso de modo tão diferente. Um vento não mataria ninguém, caso contrário o exército do meu pai não teria treinamentos nunca, mas quando se trata de filhinhos de papai, aí a conversa é completamente diferente.

E agora estou presa dentro do meu quarto, sem absolutamente nada para fazer. Adoraria poder estar em casa nesse instante, poderia fugir para o lugar que eu quisesse.  Acharia uma boa árvore com sombra, cortaria uma manga e observaria a vista do mar azulado de Climont até o por do sol.

Como não há muito o que ser feito agora, pego a primeira coisa que vejo.  Em cima da pia de mármore está um quite de costura, vou até lá. 

Talvez seja uma boa treinar, acho muito terapêutico, ajuda a controlar a ansiedade. Pego a agulha e começo a bordar uma linda rosa amarela. 
Faço outro bordado em um lencinho que comprei na feira de Scarborough, vou presentear a mãe de Aisha, como forma de gratidão pela gentileza de sua filha comigo.  Faço o símbolo de seu estado no paninho, e do outro lado bordo o sobrenome de sua Dinastia.

Passo restante do meu tempo analisando os livros da prateleira.  Definitivamente o que mais rouba a minha atenção seria a pouca variedade de gêneros, fato que não há sequer um livro envolvendo política por aqui, parece que só existe obras românticas. 

Meu irmão chegou a comentar que um de seus livros prediletos sumiu.  Talvez seja loucura da minha parte, mas acho engraçado que a obra em particular se trata de um tema que gira em torno de uma distopia, narrando a história de um governo autoritário, que foi responsável pelo silenciamento de inúmeras pessoas.

Coincidência? Acho que não.

(...)

Pego um dos livros que meu irmão deixou aqui, os temas se tratam das guerras dos séculos passados.

Papai lia todas elas para mim, mas as coisas mudaram quando o meu avô faleceu. Meu pai acabou assumindo o exército no lugar dele, o que acabou nos afastando e unindo de formas diferentes. 

Consequentemente perdi duas pessoas de uma só vez, meu próprio avô e meu pai, que trata o trabalho como prioridade. Quando tudo isso aconteceu, comprei esse livro, que carrego para todos os lugares que eu ando. Leio e consumo tudo que envolva a história da nossa monarquia, isso me ajuda a entender melhor o meu país, e também sobre as pessoas que moram aqui.

Desde a minha chegada, tenho pensando muito em como as pessoas amam a família real, ou pelo menos suportam. É bem provável que fiquem animados com a futura princesa. Vi muitos cartazes fora do castelo mostrando essa empolgação.

Acho que no fundo eles só querem algo para amar, algo para se preocuparem... alguém para idolatrar.  Isso pode ser um veneno quando se trata de política. 

Idolatrar alguém pode nos cegar completamente de suas ações. E quando perceberem... podem ter adorado o diabo em pessoa  por muito tempo, sem nem mesmo perceberem.

Quando criança escutei de pessoas muito sábias que o maior veneno da terra é a ganância, que apodrece a alma da forma mais sorrateira, mas que termina e acaba com tudo do jeito mais atordoado e doloroso.

Seja lá quem venha receber a coroa de rainha, esse alguém terá que tomar cuidado, pois o poder pode consumir completamente uma pessoa.

Só espero que se um dia eu chegar a esse ofício, eu não acabe me perdendo de mim mesma.