Dinastia ♛

Capítulo 28 - Página em Branco

AIDAN

Uma página em branco, um novo começo bem longe de tudo o que um dia eu conheci. Nunca mais pisarei meus pés no lugar que um dia foi prometido para ser meu.

Agora são apenas lembranças, lembranças que queimam em minha alma. Nunca mais verei meu irmão ou minha mãe, e felizmente nunca mais o meu pai.

Eu amei poucas pessoas em toda minha vida, uma delas está morta. Minha pequena Eugênia, minha irmã mais nova. Eu jamais entenderei como alguém conseguiria matar uma criança tão cruelmente.

Jamais esquecerei da forma como eu a encontrei. Seu corpo estava perto da porta, ela estava deitada na poça do próprio vômito. Sua pele pálida estava vermelha e suas mãos estavam endurecidas. Não havia brilho, não havia vida nenhuma ali, a doce menina que eu vi crescer havia partido.

Uma parte minha morreu naquele dia junto a ela.

Disseram que todos do castelo ouviram meus gritos.

Me tiraram a força de lá, quando sai dos aposentos dela, meu irmão estava com os olhos arregalados, segurando a flor predileta dela, uma rosa turnisiana preta.

Aquela rosa negra foi enterrada junto ao corpo dela. Seu túmulo fica escondido no jardim secreto, longe de olhos curiosos. Foi a melhor escolha possível, pois eu sei que minha irmã poderá descansar em paz, passando o restante da eternidade em um lugar onde realmente se sentia livre e feliz.

Quanto ao meu segundo amor, eu tenho plena consciência que nunca mais o verei. Apesar de amá-la mais do que tudo na vida ... escolhi permanecer longe.

Os olhos azuis e tristes de Nathaniel se tornam mais vividos quando ele está com a Jade. Eu não suportaria tirar esse brilho dele, eu não me perdoaria.

Fazia sentido fugir, mas agora vejo que talvez tenha sido o ato mais corajoso e covarde que já cometi em toda minha vida.

Quando Jade sorriu pela última vez na minha direção, eu tive a certeza que não poderia ficar. Porque uma parte muito significativa dentro de mim, sabe que eu acabaria me apaixonando de um jeito ou de outro. Relutando ou não, eu acabaria.

Eu simplesmente não suportaria amá-la e vê-la todos os dias nos braços de outro homem. Não suportaria olhar nos fundos dos olhos do meu irmão e fingir que não estou completamente encantado pela noiva dele.

Mas agora nada disso importa, porque o príncipe se foi para sempre, sem passagem de volta.

Quem sabe depois de um tempo o povo e eu possamos encarar tudo isso como uma mera lembrança, que ficará apenas no passado.

Pela primeira vez na vida acordei sozinho, sem ninguém abrindo as janelas e dizendo" Bom dia, vossa alteza".

Me vi chorando ao perceber que estou longe daquele palácio. Talvez eu seja sensível demais, ou só é o efeito da bebida fritando meu cérebro. Tomei uma dose alta de coragem para encarar isso de frente. Agora não tenho mais nada a esconder, especialmente meus sentimentos. Não tem mais porque mergulhar no mar do meu próprio caos, onde todas as minhas frustrações pareciam serem menos insuportáveis, porque não existe mais um motivo para eu fazê-lo.

Simplesmente um FODA-SE a toda essa pressão de merda que me engoliu e consumiu por tantos anos. Foda- se o meu pai, foda-se a coroa, foda-se o dever!

A felicidade movida a álcool não será mais necessária.

(...)

Olho pela fresta do caminhão, e observo a paisagem deslumbrante em minha volta. O oceano inteiro, quase um infinito. Vejo um
mundo infinito de possibilidades daqui para frente.

Vejo uma placa grande dizendo que cheguei na fronteira. É agora ou nunca, tenho que me camuflar em meio a toda essa tralha. Me escondo atrás de uma das inúmeras caixas.

Ouço a voz de uma mulher dizendo para seguirmos na direção da balça. O senhor Langerhans me garantiu que essa parte seria a mais fácil, que o problema seria ao chegar no país vizinho, que lá terá uma fiscalização. Precisarei ser muito esperto para passar despercebido.

Se Deus realmente existe, precisarei de toda ajuda.