Capítulo - 4 Apenas o começo de tudo

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No meu mundo, as pessoas estão
destinadas a seguirem uma vida rotulada e cheia de leis desiguais.

Estou diante de pessoas perigosas e manipuladoras. Todos são sedentos pelo poder. Todos querem um pedaço maior do bolo.

Tem muitas pessoas lá fora que estão morrendo de frio e fome. Elas se sentem abandonadas e esquecidas por um rei narcisista, e pela corte que o representa. Eu não posso simplesmente excluir minha família dessa fatia, porque sei que escolher não fazer nada, nada mais é que uma escolha de não assumir a própria responsabilidade também.

Somos tão culpados quantos os outros, e por mais que eu queria mudar e evoluir, querer não é o suficiente, pois para mudar essa droga, é necessário adotar muitas atitudes, e não vai adiantar lágrimas ou lamentações, porque eu sei que precisarei de muita ajuda.

Eu preciso fazer alguma coisa, ou nunca vou viver em paz comigo mesma.  Vou levar isso como meu propósito de vida.

E não vai ser um rei narcisista que vai me impedir de dizer o que sinto ou penso. Não serei o pássaro preso na gaiola de Ouro, pois eu nasci para voar e é isso que farei até o meu último suspiro.

(...)

Analiso o rei de longe. Tenho que admitir que ele interpreta bem o papel de bom moço. Pena que ele não se espelha no bom desempenho como ator na forma de governar Turnisia.

Ele não está preocupado em mudar nada e não se importou em deixar as coisas como estão.

O rei passou por muitas coisas desde a infância e isso de certa forma moldou a figura dele como um quebra cabeça inacabado. Mas algo nele sempre foi mais complexo do que o normal.

Ele tinha um irmão mais velho que morreu quando ele era mais novo. A autópsia comprovou veneno de rato, mas foi divulgado para o país que ele morreu por conta de uma doença.

A história se mostrou bastante repetitiva nessa família quando se trata de mortes sem pistas ou assassinos, como se alguém  sempre encobrisse tudo.
Isso cheira azedo.  Sempre cheirou, só que ninguém tem autorização para falar sobre tal assunto, ou coragem para tal atrevimento a coroa.  A verdade é que eu acredito fielmente que nada disso foi por acaso, tenho quase certeza que tudo isso foi arquitetado pela mesma pessoa.

O rei também perdeu uma filha bastarda que morreu faz uns quatro anos.
Ela foi assassinada, seu corpo foi encontrado horas depois no palácio.
Dizem que ela era a filha favorita dele, e é por isso que não teria sentindo ele matar a única pessoa que já amou, além dele mesmo é claro.

Eles eram muito próximos e inseparáveis, o Rei chegou a ter um caso com a mãe da menina, que recebeu título de viscondessa assim que a princesa bastarda nasceu.  Acontece que a própria já era muito influente na política em seu país de origem. O continente inteiro ficou sabendo do relacionamento, gerando grande descontentamento do povo.

Christian me disse que a amante do rei era dama de companhia da rainha quando ela veio para a corte, para ficar mais "próxima" do Rei.

Ao que tudo indica eles já haviam tido algum envolvimento em uma viagem da coroa meses antes.
As fofocas rolaram soltas pelo país inteiro, mas nada parecia abala-lo.

Ele não poderia anular o casamento pois, teria grande chance de uma revolta no país.

Mas tudo mudou quando a amante do rei, a Olívia, morreu. Mais uma morte suspeita... ninguém soube o que realmente aconteceu, mas os rumores da época eram sobre um possível suicídio. Dizem que ela ficou infeliz quando a filha morreu, e que em seguida tirou a própria vida.

Foi um ano muito difícil, denominado como o "Ano Sombrio."

Minha mãe teve sorte de não ter sido escolhida para se casar com ele. Ela teria chance de recusar, mas esse sempre foi o objetivo dela, se tornar rainha.

Ela poderia estar no lugar da rainha nesse momento, e a história talvez fossem outra, só que quem morreria seria o Rei. Minha mãe é muito temperamental para aguentar um lixo humano como ele, ainda mais sendo calada e domesticada por ele...certamente daria um jeito de exterminar em segundos a cabeça dele.   Acho que eu herdei esse temperamento dela, mas a racionalidade do meu pai ajudou a equilibrar um pouco.

Só de imaginar ser filha do rei me dá ojeriza. Bebo um pouco de água, observo atentamente a face infeliz de rainha.  Ela pode ter a coroa, mas seu poder de fala foi tirado dela.

Espero que o próximo rei seja um homem decente e digno. Mas acho difícil, ainda mais sendo criados por um homem nojento como o pai.

Eu nunca desejei tanto estar errada.

(Música La valse de L'amour)
O salão ficou um pouco mais escuro.

As velas espalhadas pelo salão deixaram o lugar com um ar romântico e sofisticado.

A primeira valsa é a dos representantes, meus pais estão no centro dançando junto de toda a corte. Observo todos dançando enquanto experimento um prato delicioso de salmão com molho de limão-siciliano.

Ao terminar de devorar o prato peço
licença e volto para o meu quarto. Arranco o vestido apertado e troco por outro.
Algumas meninas já foram com um vestido adequado para valsa, mas nem todas tiveram a ideia de realizar uma troca.

Meus pais querem que eu chame atenção positivamente em qualquer aspecto. E isso de fato ajuda muito na hora de chamar atenção.
Meu vestido novo é o oposto do outro.

O vestido é vermelho como sangue, com um lindo decote coração e uma saia rodada que se arrasta pelo chão.

Caminho de volta até o salão. Ao chegar espero atrás da porta até a hora da minha dança com o Christian. Isso será um pouco dramática, e com certeza obviamente planejado.

Minha mãe e suas ideias fantasiosas...

É agora ou nunca, nada pode dar errado.

A música anterior termina e o casal sai do centro.
Sinalizo para os guardas abrirem as portas.  No mesmo instante todos me observam descer as escadas. Meu irmão já se encontrava posicionado para me receber. Suas mãos firmes me puxaram até o centro. Então a música La valse de L'amour soou pelo ambiente.

Meu irmão segurou a minha mão com força e me guia pela pista como uma verdadeira pluma. Giramos, giramos e giramos por todo espaço que a pista nos permitiu. Me deixei guiar pelo momento e me diverti, como se não houvesse mais ninguém além dele e eu.

Quando a última nota terminou ninguém ousou aplaudir , ninguém havia sido aplaudido até então, até uma menina de no máximo cinco anos começar a aplaudir.

De repente todos estavam rindo da cena, até mesmo a família real.

Vi de canto os olhos cheios de satisfação da minha mãe e fiz uma reverência antes de voltar para o meu lugar.

Depois quando as valsas terminaram todos foram até o jardim assistir os fogos de artifício.  Curtimos o restante da festa por lá, onde uma orquestra tocou as músicas favoritas dos príncipes.

Tomei algumas taças de champanhe até ficar levemente tonta. Papai ficou junto aos outros representantes em meio a conversas. Tanto Aidan quanto Nathaniel estavam isolados em seu trono de prata, trocando poucas palavras com um ou outro que ousavam se aproximar.

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