Parte 1: Sic Pavis Magna

84 1 0
                                    

Maringá

S 23⁰28'36.2" – W 52⁰00'59.8"

São Paulo

S 23⁰43'59.1" – W 46⁰47'61.3"

Toronto

N 43⁰59'03.5" – W 79⁰38'59.9"

Hamilton

N 43⁰24'12.1" – W 79⁰51'50.0"

Mississauga

N 43⁰59'51.6" – W 79⁰59'59.2"

Londrina

S 23⁰20'59.0" – W 51⁰12'29.2"





Diego

Havia sete pessoas no ônibus. O motorista, a professora, eu, dois garotos e duas garotas. Sete pessoas, cada uma com uma história e eu só queria deitar uma delas na porrada: o Jorge.

                -Se você me perguntar mais uma vez o que aconteceu ontem, a viagem vai acabar aqui para nós dois – murmurei.

                -Você realmente é uma merda em ameaças. Já tenho alguns pedaços de informação, mas eles ainda não se encaixam. Posso expor minha teoria? – logo abaixo do cabelo-tigela e dos óculos retangulares, os olhos de curiosidade dele me miravam.

                Normalmente eu ficaria animado com as teorias do Jorge, só que eu não aguentava mais. Havia dormido tarde, acordado cedo, feito as malas em uma pressa e deletado o WhatsApp – não aguentava mais as perguntas sobre aquela festa.

                -Tanto faz – respondi olhando pela janela, fitando as placas dos carros que passavam ao nosso lado. Não havia mais tantos que diziam Londrina, a maioria agora já era Maringá.

                -Me disseram que uma hora te viram falando com a Ruiva, mas até onde sei, você subiu as escadas com a Fer e, por sorte, a Becca não foi na festa – a voz dele me irritava mais a cada segundo.

                Tudo aquilo estava certo, não existia nenhum jeito de negar. Só que ele ainda não havia terminado.

                -Ou seja, temos três garotas totalmente diferentes e um cara como você. Os boatos são de que várias coisas aconteceram, inclusive, encontraram uma camisinha no telhado. Só que se pararmos para analisar mais profundamente a questão, sabemos que você é caidinho pela Ruiva, porque ela é a mais gata das três. Só que a Fer é loira de olhos azuis... E a Becca... é uma vadia.

                Ela não era.

                -Você nunca me explicou porque não gosta dela... Me dê uma boa razão se vai me encher o saco o dia inteiro.

                -Okay, aí vai. Quando eu era pequeno, eu meio que tinha esse problema... Nem é grande coisa! Aproximadamente...

                -Se você for me falar sobre uma lancheira dos Caça Fantasmas, cala a boca – eu já havia visto Superbad vezes o suficiente para pegar a referência.

-Dane-se. Só tenho uma coisa para perguntar.

                Revirei os olhos.

                -Vá em frente.

                Ele abriu um sorriso malicioso, mas antes que pudesse fazer o questionamento, Antônio se inclinou no banco atrás do nosso e me chamou.

                -Diego, por que você saiu mais cedo da minha festa ontem? – então ele se voltou para Jorge – E você, por que não foi? Até o meu primo estava lá! Ele pulou do segundo andar, deu um mortal e caiu na piscina, foi muito maneiro!

                Jorge simplesmente ignorou as palavras de Antônio e continuou a me encarar.

Suspirei. Não havia saído mais cedo. Não queria discutir sobre a festa com o Jorge, só que se eu contasse qualquer coisa para o Antônio, provavelmente a situação ficaria ainda mais complicava.

                -Depois eu te explico – é isso que todo o adolescente responde quando não vai explicar.

                Antônio era gordinho, possuía cabelos curtos e óculos parecidos com os de Jorge. Algo em seu jeito inocente o fez aceitar minha resposta, assim como algo nesse mesmo jeito havia feito com que ele permitisse bebidas em sua casa na noite passada.

                Percebendo que eu e Jorge conversávamos sobre algo sério, ele voltou para seu assento e começou a mexer no celular.

                -Eu queria saber – começou Jorge – como você vai se sentir quando encarar o Rafe semana que vem.

                Jorge tirou o celular do bolso e me mostrou o grupo da sala no WhatsApp. Eu sabia exatamente o que estava escrito, era sobre um acontecimento especifico da noite passada.

                -Essa viagem vai ser longa – suspirei e coloquei meus fones de ouvido. Jorge balançou a cabeça rindo, ele não tinha ideia do que havia acontecido na noite passada e sinceramente, eu não contaria para ele naquele momento.

                Dei play na primeira música que encontrei e olhei pela janela. Estávamos próximos do Aeroporto Regional de Maringá.

Verão em HamiltonOnde histórias criam vida. Descubra agora