Track 10 - Jinx - DNCE

7 0 0
                                    

10/07/2016

Para todas as memórias, só existe uma solução. Não o esquecimento e muito menos a ignorância. A todos os bons tempos resta apenas a vida que um dia eles tiveram e os sorrisos que esquecemos de demonstrar enquanto ainda era hora.

Nunca é tarde demais para concertar uma foto.

Artur

                Sente-me ao lado de Isabel sem dizer nenhuma palavra. Os olhos verdes da menina miravam o prato enquanto um belo sanduiche de pasta de amendoim com geleia pairava sobre ele – eu jamais admitiria para Diego como aquele sanduiche era bom.

                Coloquei minha bandeja sobre a mesa e, sem fazer barulho, fiquei observando-a por alguns instantes. Nossa diferença de altura era notável demais, eu apostava que ela tivesse pouco mais de um metro e meio.

                -Ahg – engasgou ela ao notar minha presença.

                Rapidamente, sua mão largou o sanduiche e ela agarrou a própria bandeja, mas ao invés de se levantar, ela pareceu indecisa, como se não tivesse certeza sobre o que fazer.

                -Tu sabe que as gurias vão ficar bravas comigo se me virem falando contigo, não é? – perguntou ela, com aqueles olhos verdes que pareciam me partir ao meio.

                -Não vou te obrigar a ficar aqui se não quiser. Sei que uma péssima reputação provavelmente está me seguindo pelos corredores do Hazel e do Concordia, eu só esperava que não chegasse ao ponto de eu ficar sem companhia – admito que não me orgulho de ter apelado tanto assim entretanto, obtive sucesso. O punho dela fraquejou em torno do suporte de mão da bandeja e ela voltou a se sentar.

                -Você fez muita merda, hein – disse ela, por fim, dando mais uma mordida no sanduiche.

                -Você não faz ideia... – murmurei.

                -Eu sei sobre a história com a Larissa.

                -Então você faz ideia. Ótimo – sobre minha bandeja havia uma maça muito vermelha, uma banana e um copo cheio de leite. Tomei um gole do liquido e reparei que os copos do refeitório do Hazel era muito bonitinhos.

                -Não é todo dia que uma guria chega vermelha de raiva e sangue no alojamento. Obviamente todas nós fomos até a Lari e perguntamos o que se passava.

                -Creio que Larissa não economizou a língua na hora das ofensas – falei.

                -Você se impressionaria com o quanto ela não te xingou. Se fosse eu, teria falado tudo do pior de ti, mas ela parecia contida. Não sei se era por não conhecer eu e as outras, mas certamente havia uma parte dela que não queria tanto assim estar brava contigo.

                O sol já brilhava a muito tempo lá fora. Diego e eu havíamos estimado nos últimos dias que o sol se punha totalmente as onze horas da noite na região de Hamilton e nascia novamente as cinco em toda a faixa do Rio Ontario. Muitas pessoas ainda dormiam, afinal, nos finais de semana haviam dois toques de despertar: um primeiro para quem queria se preparar melhor para os passeios e um segundo, relativamente mais urgente.

                O refeitório do Hazel parecia como sempre, uma ordem desordenada de mesas e cadeiras, em tons de vermelho e azul. Uma pilha de bandejas monitorada por uma CLT na entrada e amplas janelas que davam direto para os seus dourados daquela manhã que mais parecia uma tarde.

                Um grupo de Sul Africanas e Nigerianas desceu as escadas principais do prédio no mesmo momento em que entrei e, agora, depois de se servirem, elas se sentavam no canto oposto da ampla mesa na qual eu e Isabel nos encontrávamos. Uma ou duas coreanas também estavam por ali, entretanto, elas pareciam preferir os cantos, onde poderiam conversar em seu próprio idioma sem serem repreendidas.

Verão em HamiltonOnde histórias criam vida. Descubra agora