Track 6 - Don't Mind - Kent Jones

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06/07/2016

Quando chegamos a esse ponto da história, eu e os outros dois moleques tivemos uma gigantesca dificuldade em diminuir o número de nomes de personagens, afinal, essa história não é exatamente uma ficção. Assim como na vida real, não existem apenas personagens principais, mas sim uma rede interligada de histórias e culturas que geram diferentes caminhos.

Nota do Autor – Russa vira [amiga da] casaca

                Enquanto muitos passaram seu tempo no Playdium correndo de um lado para o outro, Anya passou seu tempo fazendo uma amizade.

Até aquele ponto, muita gente ainda não havia prestado muita atenção em Anya, a filha do meio do casal Duskin. É claro, Anya Duskin não tinha os cabelos loiros e o sorriso divertido de Maxi ou os olhos profundos e as bochechas grandes de Danilo. Ela era morena e tinha olhos castanhos claros, seu rosto era lindo, mas ela não era exatamente o tipo de pessoa que saía por aí chamando atenção para si.

Quando os seus pais lhe contaram que ela poderia visitar Maxi, ela imaginou que o intercambio seria uma série interminável de passeios. A parte de passar tanto tempo estudando no Concordia foi um espanto. Não que estudar fosse um problema, mas ela havia trazido um número pequeno de roupas casuais e um número enorme de belas roupas para passeio. Então a partir do dia do Playdium, ela começou a chamar muito mais atenção por usar vestidos caros.

Foi graças a um desses vestidos que ela fez sua melhor amiga da viagem: Millie. As duas caíram na mesma turma depois do teste de capacidade linguística e graças ao fato de falarem o mesmo idioma, fizeram uma bela amizade. Daquele dia em diante, era impossível ver uma longe da outra.

Millie era uma cazaquistanesa de Oral – a cidade capital da província do Cazaquistão Ocidental. Entretanto, se ela contasse isso para qualquer um dos brasileiros – exceto talvez Archie –, eles certamente não pensariam na província ao ouvir o nome da cidade. Pior ainda seria se Anya tivesse contado para algum deles que, apesar de viver em Moscou, havia nascido em um lugar chamado Perm.

Millie havia chegado no Canadá alguns dias antes e estava tendo uma certa dificuldade para se adaptar. Ela era muito bonita, tinha uma pele parda, cabelos castanhos e olhos quase pretos. Apesar da boa aparência, era tímida e sentia uma certa vergonha ao tentar falar um outro idioma que não o russo ou o cazaque.

Anya e Millie encontraram uma na outra aquilo que estava faltando para elas até então na viagem: familiaridade. Algo que lembrasse as amigas da terra natal e a cultura do lugar de onde vinham.

Na manhã do dia seis de julho, as duas se sentaram para comer ao lado de Maxi, Valentim e Danilo. Foi nesse momento que Fischer pôs seus olhos sobre a cazaquistanesa pela primeira vez.

Falando em Fischer, ele andava bem. Muito bem, para falar a verdade. Depois de ter ficado com a CLT, ele já havia beijado mais uma garota: uma alemã chamada Gretel, com quem fazia optativa de Dança nos finais de tarde. Valentim havia apresentado os dois e no intervalo do jantar do dia anterior, antes de ir ao Playdium, Fischer e ela haviam dado uma escapada para um corredor vazio do Concordia e bom... O resto é história.

A cabeça de Fischer andava tão a mil, que ele ainda nem havia tido a oportunidade de contar sobre Gretel para os garotos do 133. Desde o momento em que comprara o boné dos Jays, sua vida parecia ter tido uma virada emocionante: a CLT; a amizade com o russo e o mexicano; o quão bem estava se dando com os outros alunos do Concordia; os elogios que recebia nas aulas de dança...

Só que ao colocar seus olhos em Millie, todo o seu coração de malandro se desfez como um sorvete derretido. Millie era bonita, mas para Fischer, ela era simplesmente a coisa mais linda do mundo. Ele curtia vários tipos de garotas, mas aquela era literalmente a descrição de seu tipo favorito.

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