Capítulo 09 - A comemoração.

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Depois de passar pelo obstetra e pelo psiquiatra comecei a fazer terapia. Ainda estava no início e já sentia um alívio imenso de poder contar todos os meus sentimentos mais secretos para alguém que estava preparada para me ouvir.

Na sexta feira pela manhã o Eduardo veio me buscar e levamos a Poliana a pediatra que cuidava da Priscila. O carro apresentava uma limpeza impecável e já dispunha de uma cadeirinha nova para a bebê. O cabelo do Eduardo estava mais curto e estranhei um curativo sobre a sobrancelha esquerda.

Durante a consulta ele foi muito presente. Ajudou a despir e a vestir a bebê, era notório o carinho pela filha. E depois passamos em uma academia de lutas que ele frequentava para apresentar nossa pequena ao seu mestre. Durante a conversa eu entendi que o machucado no rosto dele ocorreu durante o treinamento de um novato.

— Jiu Jitsu acho que explica a sua força muscular — falei para o Eduardo assim que voltamos para o carro. Os braços eram enormes, os ombros e o peito também.

— Eu comecei lutando judô, meu pai era mestre. Depois lutei boxe, quando entrei na academia de polícia fiz Krav-Maga e conheci a Giovana que fazia Jiu Jitsu. O Lauro foi mestre dela e agora é meu. A família dela era muito complicada e as lutas foram um bom escape para os problemas. — ele sempre atenuava o tom de voz ao se referir a falecida esposa.

— E para você? Também é um escape?

— Não. Eu gosto mesmo de esporte, talvez esteja no meu sangue. Eu acredito que todas as pessoas tenham um lado extremamente lutador dentro de si.

— Eu não acredito. Eu prefiro chorar, correr e me anular ao invés de lutar.

— Você precisa conversar mais consigo mesma. Você é extremamente lutadora, não para brigar com o outro, mas para enfrentar o que for necessário para viver. Eu conversei com o Ariovaldo do lanche, com o Dinho e a irmã dele e até mesmo com a Sueli e todos se referiram a você com alguém que não desiste nunca, que tem garra, que não tem preguiça de trabalhar até a exaustão. Que gosta de estudar e sonha em vencer.

— Não fala assim... ainda estou emotiva depois do parto. — tentei não deixar as lágrimas caírem — Eu não estou acostumada a falarem bem de mim.

— Ás vezes eu me questiono sobre o que aconteceu conosco, queria voltar no tempo e arriscar a missão e depois vejo que por pior que pareça eu escolhi certo. Pode parecer incoerente depois de eu ter ido buscar vingança pela morte da Giovana, afirmar para você que eu acredito muito nos designíos de Deus. A Gi estava grávida de 12 semanas quando foi morta, na autópsia eu soube que era uma menina. A Priscila ainda não sabia que teria uma irmã. Quando me deparei com você na toca do Sujeira e fracassei ao tentar te proteger achei que seria impossível conseguir uma ereção e muito menos finalizar e não sei como tudo aconteceu, o meu subconsciente talvez explique. E agora quando vejo a nossa filha com a Priscila acho que tem algo sagrado nisso. Qual era a chance de você estar em período fértil? Talvez 25%, somado a você não ter tomado a pílula do dia seguinte e eu ter ido naquele lugar naquele momento?

— Analisando assim parece tudo pouco provável.

— Vejo a Poliana como um milagre. Sinto nela o meu pedido de perdão a Deus, sendo aceito. E de alguma forma também a vejo como um milagre para você sair daquela situação e voltar a ter uma família que você merece.

Fiquei muda refletindo sobre tudo que eu ouvi. Eduardo não parecia mais assustador, nem cruel ou covarde.

— Eduardo... — segurei na sua mão assim que paramos o carro em frente a casa do meu pai. — Eu te perdoo, de todo o meu coração. Fiquei triste e passei por momentos péssimos, mas é fato que se não fosse você aqueles caras iam me machucar muito.

Nossos laços de amor. COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora