Fiquei tensa quando o Lucas deitou na cama ao meu lado e foi logo falando que era a melhor maneira de conversarmos sem que as pessoas ouvissem. Eu nunca tive um irmão e nem mesmo amigas que deitaram comigo durante uma conversa. A sensação era ao mesmo tempo reconfortante e perturbadora.
— Acho melhor começar do início para você entender tudo.
Ele sussurrou um "tudo bem" muito perto do meu ouvido, o ar quente fez todo meu corpo se arrepiar.
Comecei contando que não me lembrava do meu pai. Assim que houve a separação minha mãe mudou de região para superar. Minha mãe sempre disse que a culpa da separação foi dela por não ter maturidade para um relacionamento e criar conflitos todos os instantes. Envergonhada e ao mesmo tempo se sentindo abandonada resolveu sumir por um tempo.
Aos doze anos voltei a morar na mesma cidade que o meu pai. Só que eu não sabia que estávamos próximos. Minha mãe trabalhava em um salão de cabelereiros fazendo de tudo, desde lavar os cabelos até colocar tintas e escovar. Nessa época nos mudamos para o fundo da casa da dona Amélia. Era um cômodo único com cozinha, quarto e banheiro.
Quando eu fiz quatorze anos minha mãe conheceu um homem e se apaixonou. Eles resolveram mudar de cidade para tentar montar um salão de beleza no interior do estado. A dona Amélia só tinha parentes distantes e me considerava uma neta. Minha mãe decidiu ir com o namorado e me deixar. No início ela enviava dinheiro, eu pude continuar estudando e nos comunicávamos por cartas.
Logo após meu aniversário de quinze anos as coisas começaram a se complicar. Uma filha da dona Amélia, Sueli divorciou-se e veio morar com ela junto do filho Murilo. A princípio a mulher detestou minha presença e falou que eu teria que ir embora para onde minha mãe estivesse ou deveria pagar um aluguel.
Naquela semana arrumei meu primeiro emprego durante a tarde. Estudei de manhã e trabalhava para o senhor Ivanildo que tinha uma barraca de lanches na rua. Eu aprendi a preparar o hambúrguer e fatiar todos os ingredientes e acondiciona-los em potes próprios para serem utilizados. A barraca de lanches abria perto das cinco da tarde e fechava logo após a meia noite.
Quando um funcionário saiu eu passei a trabalhar também durante a noite fazendo os lanches e servindo e continuei estudando de manhã. Chegou um momento que era insuportável ficar na presença da Sueli. Eram ofensas o tempo todo sobre eu ser uma parasita na casa da mãe dela e coisas assim, mesmo eu dando a maior parte do meu salário como aluguel.
Não demorou muito tempo e notei que o Murilo estava passando pela barraca de lanche com atitudes suspeitas, ao invés de ir para escola e então algumas pessoas que nos conheciam acabaram confirmando que ele estava vendendo drogas.
Eu tinha feito dezesseis anos fazia alguns meses e não recebia cartas e nem notícias da minha mãe já fazia um tempo. Comprei uma passagem e fui até o local do endereço que estava nas últimas cartas. Voltei no mesmo dia depois de saber que ninguém do local se lembrava dela nem do namorado. A Sueli surtou a me ver voltar e gritou comigo ordenando que eu fosse embora logo.
Dias depois eu estava fazendo lanche e meu celular tocou, nos últimos meses eu tinha conseguido comprar um celular usado pré pago. Era o Murilo que estava chorando em desespero e pediu para eu pegar uma mochila dele na casa da avó além de um dinheiro que estava enterrado no quintal. Eu conversei com o senhor Ivanildo que me deixou sair e alertou que o endereço que o Murilo deu era de um ponto de traficantes.
Sob os protestos da Sueli entrei no quarto do Murilo, fui ao quintal e então parti com todas as coisas para o endereço. A voz de desespero dele alertou que algo muito ruim estava acontecendo. Quando cheguei à casa um homem estranho na porta me mandou entrar.
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Nossos laços de amor. COMPLETO
RomanceJuliana está grávida e passando pelo pior momento de sua vida, quando suas esperanças parecem estar se esgotando vai encontrar abrigo nos braços do seu pai e na família da sua madrasta. Durante sua trajetória, Juliana vai descobrir que quase tudo qu...