"Harmonize a sua hora."
Repetia Agatha com os olhos fechados e respirando profundamente. Acreditava que assim ampliaria a sua concentração e ajudaria a fugir daquela realidade que estava experimentando. Ela sempre se utilizava desse meio quando o momento ficava muito tenso e lhe faltava pouco para perder sua preciosa paciência. Recordava-se das últimas palavras que ouviu sua mãe pronunciar. Seu sentimento era confuso num misto de tristeza pela recordação do seu atual estado e a paz que sentia em sua alma quando se concentrava plenamente.
Ainda, no final do dia chega em casa estressada, exausta da vida de trabalho e faculdade, encontrava em sua mãe aquele mesmo olhar do dia em que disse esta frase. Então, recolhida em seu quarto, sentava em sua cama e se desligava de tudo que incomodava proferindo a frase como se fosse o seu mantra.
Achava que sua mente se desprendia e se via aumentando de tamanho em um universo iluminado de luzes coloridas que emanavam de seu corpo, transformando qualquer problema que havia ao seu redor em minúsculos grãos de areia que se tornavam insignificantes a proporção que ela se expandia.
Então, um a um, cada coisa que lhe incomodava, todas as irritações do dia ou da vida eram superadas. E, além disso, podia se sentir cada vez mais enriquecida em autoconhecimento vendo que toda vez que praticava esta concentração podia se conhecer melhor espiritual e fisicamente. Sentia-se forte e capaz de enfrentar qualquer problema ou até mesmo ser imune a algum mal que viesse a tentar atingi-la.
- Agatha?
Ouviu seu nome por uma voz que parecia vir do lado de fora das águas profundas que mergulhou.
- Ele já se foi – reconheceu a voz de Nessa.
Não era possível para ela atingir um bom grau de concentração em seu local de trabalho.
- Oi? – Respondeu depois de uma longa respiração como se tivesse acordando de um longo sono. – O que houve Nessa?
O olhar de sua colega era de desconfiança, como se tivesse procurando reconhecer se realmente era a Agatha que estava a sua frente.
- O Nelson.
- O que tem o Nelson? – Agatha, aos poucos, ia voltando ao mundo real.
- O Nelson já foi.
Agatha olhou para o seu relógio de seu celular e viu que ainda faltavam algumas horas para encerrar seu expediente. Seu dia estava tenso por causa do primeiro dia de venda da nova coleção deixando seu patrão extremamente irritado com qualquer coisa e descontando nela e em suas colegas sua frustração do dia com as baixas vendas.
- Cedo. Por quê? – Perguntou levantando do banco em que meditava esticando o olhar para o interior da loja para confirmar a informação de sua amiga.
- Sei lá! Ele estava um saco. Viu você em transe e nem chegou perto. Aí o telefone dele tocou e parece que o bofe fez uns agrados por longos minutos.
- Sério? Estou assim há tanto tempo? – Espantou-se.
- Não sei, acho que sim. Não fiquei contando. Mas foi bastante tempo! Ao menos funcionou – sorriu.
- E a Mari?
- Ela saiu dizendo que ia resolver não sei o quê, com não sei quem, não sei aonde.
Agatha tentou ver se a informação tinha algo de relevante.
- Disse que era rápido – completou.
- Ah... – Desistiu e levou em consideração apenas esta última frase. – Ok.
Sentiu a calmaria da loja mesmo observando o bom movimento no corredor à frente da vitrine. Algumas mulheres paravam observando os novos modelos, aproximavam-se para observar os detalhes das peças, fitavam inclinando levemente a cabeça procurando se imaginar as vestindo e, indo além, situações propícias para utilizarem.
- Posso ir no banheiro?
- Claro que pode, Nessa. Que coisa?
- Ah, sei lá, você está estranha.
- Pode ir – estendeu a palma da mão virando no sentido da saída. – Está calmo agora. Eu vou lá pra frente.
Nessa rapidamente tomou o rumo da porta de saída. Agatha a seguiu e ficou próxima da entrada com seu tradicional sorriso comercial de boas-vindas para as clientes em potencial que diminuíam a velocidade do seu caminhar quando avistava a sua vitrine.
E com essa abordagem a distância, não reparou na fisionomia masculina que lentamente se aproximava dela. Na verdade, sentiu uma energia diferente vindo na direção contrária a que mantinha o olhar que a fez automaticamente virar-se como um imã.
Sua atenção logo foi tomada por um homem de quase um metro e oitenta aparentando ter uns quarenta anos de idade, perfeitamente conservados em sua saudável aparência física de atleta nadador olímpico, mesmo sob um elegante traje despojado e blazer. Seu cabelo negro, curto e levemente crespo emolduravam o insistente sorriso malicioso que ampliava à medida que se aproximava de Agatha. Esta, um pouco sem jeito, olhava para os lados para ter a certeza que não havia outra coisa próxima ou atrás que pudesse ser o endereçamento daquele sorriso de dentes alinhadamente brancos.
- Holly Golightly – disse já a um passo de distância.
Tentando não demonstrar o nervosismo diante daquele homem, segurou suas mãos entrelaçando seus dedos de várias formas, depois do nome que acabara de ouvir. Ainda tinha o discernimento de qual é o seu nome de verdade e sabia que não era exatamente ela que ele havia chamado. Mas sim uma referência diretamente ligada consigo.
- Oi?
VOCÊ ESTÁ LENDO
OBSESSIVOS - A Iniciação de Agatha
ParanormalComo você seria se o sexo fosse a sua religião?- Foi a inesperada pergunta que Agatha ouviu quando estava prestes a dar os primeiros passos na misteriosa Irmandade. Em sua normal vida de gerente de loja de lingerie em um grande Shopping Center da ci...